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SP: Morre jovem negro baleado por PM; mãe diz que não pôde ver filho

Thiago Aparecido Duarte de Souza, de 20 anos, morreu após 12 dias internado - Arquivo pessoal
Thiago Aparecido Duarte de Souza, de 20 anos, morreu após 12 dias internado Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

22/04/2021 17h48Atualizada em 23/04/2021 19h11

Morreu anteontem (20) o jovem negro que foi baleado na cabeça por um policial militar à paisana no último dia 8, em São Paulo. Thiago Aparecido Duarte de Souza, de 20 anos, permaneceu por 12 dias internado no Hospital Geral de São Mateus, na zona leste da capital. Sua mãe afirma que não teve permissão para ver o filho durante o período.

Thiago tinha atraso intelectual, e na manhã do dia que foi baleado, segundo contam familiares, estava a caminho de um mercado no bairro de Jardim Arantes, também na zona leste de São Paulo, para comprar pão e leite. De acordo com testemunhas, o disparo contra o jovem foi feito à queima-roupa, após Thiago dizer que estava desarmado e se negar a deitar no chão.

O caso foi registrado na delegacia pelo próprio autor do dispara contra Thiago, o cabo Dênis Augusto Soares, de 37 anos. Ele alegou legítima defesa e disse que o jovem tentou sacar um revólver calibre 38.

Sobre a causa da morte, a Secretaria Municipal de Saúde diz que, "apesar de todos os cuidados, o paciente evoluiu negativamente, teve parada cardíaca nesta terça-feira e não respondeu às condutas médicas". A pasta também afirma que manteve uma restrição de visita a Thiago porque ele tinha suspeita de covid-19, e por isso foi atendido em um leito exclusivo para pessoas contaminadas pelo novo coronavírus.

A diarista Queli Duarte, de 40 anos, mãe do jovem baleado, afirma que não teve permissão para visitar o filho na unidade de saúde, mesmo com ordem judicial a seu favor.

"Tentei várias vezes ver o Thiago, fui impedida, mesmo com ordem de juiz, eles não deixaram eu ver o Thiago" disse Queli em vídeo divulgado pela Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, movimento social de resistência a ações violentas em áreas periféricas que vem dando suporte à família.

A mãe do jovem negro também afirmou que sempre foi informada pelos médicos do hospital que o estado de saúde do filho vinha melhorando, inclusive no próprio dia da morte.

Bala não encontrada

Em vídeo gravado ao lado da articuladora Márcia Lysllane, que representa o movimento social na região de São Mateus, Queli também levantou a questão da bala que ficou alojada na cabeça do filho. Segundo a diarista, o IML (Instituto Médico Legal) afirmou, ao examinar o corpo de Thiago, que não encontrou o projétil.

Queli se disse "indignada" com a possibilidade de o filho ter passado por uma cirurgia para a retirada da bala sem o seu consentimento.

"Eu fico me perguntando, como eles fazem uma cirurgia, que eles mesmo disseram que não iam fazer no momento que ele estava fraco, estava com dreno no pulmão, eles fazem uma cirurgia e não me informaram?", questionou.

A mãe de Thiago disse que a obrigação do Hospital Geral de São Mateus seria retirar a bala para que o projétil passasse por perícia, com o objetivo de identificar o dono da arma que fez o disparo.

"Se a arma sumiu, se as câmeras de lá do ocorrido sumiram, para mim está mais do que claro, que eles fizeram a burrice deles e tentaram colocar meu filho como bandido, o policial como vítima, e achou que ia ficar por isso mesmo. Mas agora quero justiça", disse Queli.

O UOL questionou a Secretaria de Saúde a respeito da possível retirada do projétil alojado na cabeça de Thiago, mas a pasta enviou uma resposta do Hospital Geral de São Mateus de que a unidade de saúde não poderia dar informações a respeito porque "respeita o sigilo estabelecido no Código de Ética Médica". O hospital afirma que "está à disposição dos familiares para orientações, bem como das autoridades para contribuir com as investigações".

Sobre a proibição a Queli de ver o filho, ela é atribuída aos protocolos relacionados à covid-19, já que o jovem foi atendido em um leito destinado a pacientes com a doença por causa da suspeita de estar infectado com o coronavírus.

Já a SSP (Secretaria de Segurança Pública), questionada sobre o andamento da investigação, se limitou a informar que o inquérito "foi encaminhado para manifestação" ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo) e à Justiça, mas ainda não retornou ao 54º DP (Distrito Policial), onde a Polícia Civil concentra a apuração do caso.