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Caso Henry: Monique diz que advogado de Jairinho criou 'versão inventada'

8.abr.2021 - Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, 4, morto na madrugada de 8 de março - Érica Martin/Enquadrar/Estadão Conteúdo
8.abr.2021 - Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, 4, morto na madrugada de 8 de março Imagem: Érica Martin/Enquadrar/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

02/05/2021 23h16Atualizada em 03/05/2021 13h10

Monique Medeiros, mãe de Henry Borel, divulgou nova carta que contradiz o primeiro depoimento que prestou à polícia. O "Fantástico" teve acesso ao relato —Monique conta o que teria acontecido nos dias seguintes à morte do filho e acusa o primeiro advogado de ser o responsável por uma "versão inventada".

A mensagem foi escrita na cadeia. "A carta é uma forma de mostrar a importância do depoimento dela. A carta desdiz muita coisa que foi dita num momento completamente distinto do atual", afirmou a defesa de Monique.

Ela escreve que, no dia 8 de março, madrugada da morte do filho, ela acreditava que Henry tinha sido vítima de um acidente. "Em nenhum momento passou pela minha cabeça que meu filho poderia estar sem vida em meus braços", diz um trecho da nova carta.

Após a notícia da morte do menino, Monique e Jairinho cuidariam do velório da criança, enquanto Leniel Borel, pai de Henry, ficou encarregado de ir ao IML (Instituto Médico Legal), onde foi realizado o exame de necropsia.

Leniel me ligou dizendo que havia alguma coisa errada com o exame do Henry. Que estava constando: laceração hepática, por uma ação contundente e hemorragia interna"
Trecho da carta de Monique Medeiros

Em outro trecho da carta, Monique conta que Jairinho a questionou sobre o IML. "Jairinho chegou cedo na minha casa, ficou me fazendo companhia e pediu para perguntar ao Leniel se já tinha havido alguma resposta. Foi quando Leniel respondeu que tudo estava atrasado pois o IML estava sem abastecimento de água. Jairinho ficou indignado e disse que se fosse preciso, compraria um caminhão pipa pra ajudar (...)", disse na carta.

Segundo Leniel Borel, que também foi entrevistado pelo Fantástico, Monique ficou quieta após o resultado do IML. "Eu mostrei pra ela e falei: olha só, Monique. Tá vendo aqui. Isso aqui não é natural. O policial tava próximo e eu falei: isso é natural? Não. Isso é uma agressão. Ela não falou nada. Nada ela falou naquele momento. Ficou quieta. Depois foi pra fora do IML ali e ficou chorando com o irmão mas não falou nada", relembra.

Monique também acusa o então advogado do casal, André Barreto, de organizar uma "versão" para a morte de Henry.

"O dr. André se apresentou, disse que era casado, que tinha quatro filhos, que estudou para ser padre, que era religioso e que não pegava casos de homicídios se não acreditasse na inocência dos seus clientes. No dia seguinte, o dr. André foi até a casa do pai do Jairinho para conversarmos, mas que só aceitaria o caso se nos uníssemos e combinássemos uma versão inventada."

Segundo Monique, ela questionou o advogado: "Por que eu não poderia dizer o que realmente tinha acontecido? Já que tinha sido um acidente doméstico. Eu ainda não estava satisfeita e disse que falaria a verdade, que eu não via problema algum".

Ela ainda relata que a família de Jairinho insistiu que a "versão inventada" seria a única e que o advogado teria cobrado R$ 2 milhões pelo casal. "Só depois percebi que a defesa era apenas do Jairinho."

"Eu estou sendo apedrejada na cadeia! Todos os dias elas gritam dizendo que vou morrer e que vão me matar, pois acreditam que eu deixava o Jairinho bater no Henry", diz um trecho.

Monique conta ainda na carta que chegou a ser agredida por Jairinho. Antes da prisão, ela reforçava o depoimento do vereador ao contar a mesma história.

Leniel, que também recebeu uma carta de Monique, disse que não acredita na palavra dela.

Essa Monique coitadinha que apanha e fica quieta. Não. A Monique nunca foi assim. Tá muito bem claro que ela sabia que o Henry tava sendo agredido e não fez nada, né? Não falou e não fez nada".
Depoimento de Leniel Borel ao Fantástico

O escritório de André Barreto, que defendeu o casal anteriormente, se posicionou sobre as acusações: "A defesa sempre pautou a sua atuação pela ética e pela técnica, jamais alterando a narrativa apresentada pelo casal, desde o início e de forma única. Adotamos, inclusive, a investigação defensiva, para verificar e dar visibilidade ao que o casal afirmava".

Ao UOL, o advogado Braz Sant'Anna, atual representante de Jairinho, disse que "a defesa de Monique adotou esta linha de defesa, a nosso ver, bastante inconsistente, que não convenceu o próprio ex-companheiro (Leniel). No curso do processo, cairá por terra mais esta versão defensiva".

Henry morreu no dia 8 de março, no Rio de Janeiro. Monique e Jairinho, cujo mandato de vereador está sob ameaça de cassação no Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio, estão sendo investigados pela polícia e estão presos.

É a segunda carta divulgada por Monique desde a morte do filho. No 1º relato, Monique afirmou que, naquele noite, foi "medicada" pelo companheiro e que não presenciou qualquer cena de violência anterior contra o menino.