O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnowski, disse hoje que a operação realizada ontem no Jacarezinho, zona norte da cidade, e que resultou na morte de 25 pessoas, dentre elas a de um policial, foi "técnica e madura". Ante denúncias de mortes arbitrárias pela polícia, Turnowski disse que criminosos "atiravam pra matar" e que eles "não correram".
"O que a Polícia Civil mostrou ontem foi técnica, foi maturidade, foi profissionalismo, de mostrar para sociedade que aquele traficante que invadiu aquela casa da moradora, ele é o inimigo de toda a sociedade", afirmou Turnowski durante o enterro do policial André Leonardo de Mello Farias, 48, morto na operação com um tiro na cabeça.
Para o secretário, "quem conhece operação sabe que o criminoso quando a gente [polícia] entra na comunidade, atira pra fugir. Ontem, eles atiravam pra matar. Eles tinham ordem pra ficar, pra confrontar, eles não correram".
Turnowski acrescentou ainda: "Ele [criminoso] amanhã pode invadir a sua casa na zona sul, na zona norte, na zona oeste. E a última barreira, eram vocês ontem e vocês fizeram a missão de vocês".
Ao todo 25 pessoas morreram na operação e, de acordo com a polícia, todos eram traficantes e a maioria possuía anotações criminais. Até agora, a Polícia Civil não divulgou contudo a identidade dos mortos na operação.
"A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes, 19 com folhas corridas até agora. Não foi fácil, mas o fato é que a gente está no caminho certo. Não foi em vão André [se referindo ao policial morto]".
A ação de ontem na favela é considerada a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo pesquisadores, associações e profissionais que atuam na área.
Ela ocorreu após o STF (Supremo Tribunal Federal) restringir operações durante a pandemia e a menos de uma semana da posse definitiva do governador Cláudio Castro (PSC) depois do impeachment de Wilson Witzel.
O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos criticou a violência na comunidade e pediu que investigações imparciais sejam abertas.
"Estamos profundamente perturbados pelas mortes de 25 pessoas numa operação policial", disse Ruppert Colville, porta-voz da ONU, numa coletiva de imprensa em Genebra que ocorreu hoje.
Segundo ele, tal caso confirma a tendência de uso excessivo de força por parte dos agentes policiais, cita "problemas sistêmicos" e diz que algo "claramente está errado". Para o porta-voz, o modelo de policiamento de favelas precisa ser repensado pelo país e um debate deve ser aberto.
Moradores protestam
Um grupo de manifestantes realizou um protesto na manhã de hoje nos acessos à comunidade do Jacarezinho. O grupo ocupou também o acesso à Cidade da Polícia, que fica na mesma região da comunidade. Uma faixa da Avenida Dom Hélder Câmara foi bloqueada.
Manifestantes carregaram um pano preto com a seguinte mensagem: "Justiça para Jacarezinho. Fim do massacre nas favelas". Outra mensagem dizia: "Não vamos esquecer". Um desenho de 24 cruzes acompanhava o texto. "Parem de nos matar", afirmava outra mensagem.
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