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Paciente morto durante internação tinha sonho de abrir clínica, diz família

Paulo César Basso morreu após ser levado à força para clínica de reabilitação  - Reprodução/Facebook
Paulo César Basso morreu após ser levado à força para clínica de reabilitação Imagem: Reprodução/Facebook

Naian Lopes

Colaboração para o UOL, em Pereira Barreto (SP)

10/05/2021 15h34

A morte de Paulo César Basso, de 30 anos, no momento em que era levado para uma internação forçada em uma clínica de dependentes químicos em Votuporanga (SP), interrompeu um sonho que ele vinha dividindo com a família: abrir sua própria clínica beneficente para ajudar pessoas que sofriam da mesma doença que ele.

Segundo a prima de Paulo Daiane Basso, isso já era compartilhado com eles. "O Paulo tinha um sonho de abrir a própria clínica dele para ajudar outros dependentes químicos, até porque ele sabia como funcionava", revela.

E a prima conta que ele vinha colocando o sonho em prática. "Ele já havia comprado uma chácara, aumentou quartos, e meu tio ajudou ele nisso tudo, vendeu casas, barracão pra investir no sonho dele, pois ele é filho único. Porém esse sonho não teve como se realizar porque a parte de funcionamento exigia um alto investimento, e esse dinheiro ninguém da família tinha", lamenta.

O pai de Paulo, Odécio Basso, confirmou a história. "Ele queria fazer uma clínica pra ajudar as pessoas, sem fins lucrativos. Isso revoltava a família do lado da mãe e ele ficava em dúvida. Mas entrou a covid e aí deu problema e ficou difícil a situação", comentou ele, ao UOL.

Odécio ainda sente a perda do filho, mas faz questão de relembrar que este era o sonho de Paulo. "Esse era o sonho dele, para ajudar os adictos. Ele falava 'pai, essa aqui é uma doença incurável e fatal, mas se a gente puder salvar uma vida, tirar alguém da sarjeta, dar uma ajuda, já é um primeiro passo pras pessoas começarem a se perceber'", conta.

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Paulo tinha 30 anos
Imagem: Reprodução/Facebook

O pai da vítima revela ainda que o jovem era muito bondoso. "Ele tinha um coração de ouro, era muito caridoso. Se alguém chegasse pedindo algo, ele tirava e dava. Nada era dele, tudo que era dele, era do próximo", garante.

Sobre os problemas enfrentados com o vício, seu Odécio mostra como foi difícil. "Ele era dependente, tinha esse vício, mas por trás disso ele não queria que a gente se envolvesse, escondia o máximo possível da gente. Ele ficou cinco anos sem usar, mas voltou em janeiro, com essa pandemia, foi se complicando, dinheiro encurtando e ficou difícil, voltou a fazer uso", revela.

As lembranças, no entanto, não serão sobre a doença e o pai deixa claro. "Mas por mais que ele estivesse no uso ou sem uso, ele tinha aquela bondade dentro do coração. Tudo o que ele fazia, não era para o mal. Ele parece que transmitia amor, ele tinha esse dom".

O caso

Paulo César Basso morreu depois de levar um mata-leão enquanto era preparado para ser internado à força, com autorização da família, em uma clínica da cidade de Votuporanga. Os três funcionários da unidade foram presos por homicídio e estão respondendo pelo crime.

O UOL conversou com o advogado que representa os funcionários e a clínica e ele discorda da interpretação.

"Foi feito o exame necroscópico e ainda não existe o laudo. São cinco clínicas desde 1988, e cada uma tem 70 pessoas. Infelizmente houve essa fatalidade. A grande questão é que fica parecendo que mandaram matar ele. A própria família contratou a clínica e acabou acontecendo", salientou o advogado Murilo Ferreira.