Polícia: Sumiço de meninos foi 'discreto' e faltam elementos para apuração
Cinco meses após o desaparecimento dos meninos Lucas, Fernando e Alexandre, o delegado Uriel Alcântara, responsável pelas investigações, disse ao UOL que o sumiço aconteceu de forma "muito discreta" e que faltam elementos que contribuam com a investigação.
Até hoje, apenas duas pessoas relataram à polícia terem visto as crianças em 27 de dezembro do ano passado, quando desapareceram em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
"Foi algo muito discreto, que não chamou a atenção e, por isso, faltam elementos concretos para a investigação. Qualquer ação violenta teria chamado a atenção", destacou o delegado.
Questionado sobre a falta de pistas, Alcântara apontou ao menos três dificuldades da investigação:
- Falta de um local exato do desaparecimento
As crianças sumiram após deixarem um campo de futebol na comunidade do Castelar, onde moram suas famílias, e seguirem para a feira de Areia Branca, a 3 km de casa, onde foram vistas.
Um feirante afirmou que um dos garotos perguntou o preço de um produto da barraca. Um segundo comerciante disse ter visto os meninos no dia do sumiço e também no dia seguinte, mas voltou atrás do depoimento após a família não reconhecer as crianças em imagens recolhidas pela polícia.
- Ausência de câmeras de segurança
Segundo o delegado, no trajeto do Castelar até a feira de Areia Branca foram localizadas 45 câmeras, porém menos de dez funcionavam.
"São câmeras que estão no local apenas para inibir [crimes]", disse o policial.
- Acesso à comunidade
O delegado apontou dificuldade de circular livremente na comunidade do Castelar. Por se tratar de uma região dominada pelo tráfico de drogas, são necessárias operações policiais para acessar a região. "Uma viatura só da polícia não entra lá", disse Alcântara.
Ação prende 18 homens, mas não resulta em pistas
Na última quinta-feira (27), quando o desparecimento completou cinco meses, familiares de Lucas Matheus da Silva, Alexandre da Silva e Fernando Henrique Ribeiro Soares participaram de uma reunião com a DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense) e receberam informações sobre as investigações.
Também participaram do encontro a Defensoria Pública, o Ministério Público e a Comissão de Direitos Humanos da OAB/Belford Roxo.
A defensora pública Gislaine Kepe, que acompanha as investigações, disse que a instituição entendeu que, "embora a polícia não tenha realizado a busca imediata pelos meninos, desde que a investigação começou, as diligências não pararam".
Já a Polícia Civil do Rio nega ter havido demora em iniciar as buscas na região. A DHBF trabalha com a suspeita de envolvimento do tráfico de drogas no caso.
No entanto, a última operação que ocorreu em comunidades da região, incluindo o Castelar, não trouxe novas pistas sobre o paradeiro.
Ao todo, 18 pessoas foram presas no dia 21 de maio. Cinco dos detidos são suspeitos de envolvimento com o caso de um morador torturado e entregue à polícia em janeiro como responsável pelo sumiço dos meninos —fato descartado nas investigações.
Eles negaram participação na tortura. A DHBF diz contudo ter outros elementos que comprovam a participação do tráfico no caso do morador —ele teve de abandonar a comunidade com a família por questões de segurança.
De acordo com o delegado, todas as informações que chegam à DHBF são checadas presencialmente.
O Disque Denúncia informou ao UOL que desde dezembro, 90 informações sobre o paradeiro dos meninos chegaram ao órgão. Além dessas, há denúncias repassadas diretamente à DHBF. No entanto, a maior parte das informações são consideradas genéricas pela polícia.
Recentemente, os policiais estiveram em um endereço em Cabuçu, na cidade vizinha de Nova Iguaçu, para checar imagens de três meninos que estavam na região.
Desaparecimentos na Baixada Fluminense
Desde o sumiço de Lucas, Alexandre e Fernando, a DHBF registrou outros 348 casos de desaparecimento que envolvem adolescentes e adultos.
Desse total, 170 pessoas foram localizadas vivas, 14 foram encontradas mortas e quatro casos se transformaram em inquéritos de homicídio com ocultação de cadáver.
No mês passado, uma força-tarefa foi criada para reforçar as investigações sobre o caso.
Em março, o MP-RJ encontrou imagens de câmeras de segurança que mostraram os meninos passando pela rua Malopia, em um bairro vizinho.
Essa imagem já estava em posse da Polícia Civil, mas eles só foram identificados após o MP submeter o vídeo a técnicas de melhorias de imagens. A pista apareceu dois meses após o registro do desaparecimento das crianças.
Denúncias que possam ajudar nas investigações devem ser realizadas pelos telefones do Disque Denúncia (21) 2253-1177 ou da DHBF (21) 2779-6902.
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