PB: filho enterra a mãe, vítima da covid, por falta de coveiro em cemitério
O agricultor Franciberto Vieira Carneiro, 47, disse que foi obrigado a enterrar a própria mãe, Elizabete Vieira Carneiro, 68, vítima da covid-19, depois que o coveiro do cemitério municipal de Riacho dos Cavalos (PB), localizado no Alto Sertão, informou que não esperaria o corpo chegar e foi embora do local deixando a cova aberta.
O caso ocorreu no último dia 1º, mas a família Carneiro decidiu torná-lo público ontem depois que viu que outra família passou por situação semelhante. Segundo familiares, o enterro ocorreu dentro do horário de funcionamento do cemitério.
Carneiro contou ao UOL que foi até a casa do coveiro para informar sobre o enterro e que o homem abriu a cova no cemitério, mas disse que não esperaria o traslado do corpo de Elizabete até o cemitério. Segundo o agricultor, o coveiro disse para a família finalizar o enterro e foi embora.
"Fui obrigado a me expor, sem equipamento necessário, porque não ia deixar o corpo da minha mãe sem enterro", disse o agricultor. "Estou tornando o caso público para que outras famílias não passem pela mesma situação que passamos. Além da dor de perder minha mãe, eu mesmo tive que enterrá-la com ajuda dos funcionários da funerária.".
A família Carneiro informou que vai procurar o Ministério Público em Catolé do Rocha para fazer uma denúncia sobre o caso.
"Somos pobres e dependemos de exames, de consultas e outros serviços da prefeitura e, por isso, eu tinha ficado calado até agora. Tenho medo de ficarmos excluídos por represálias, mas, diante desse novo caso, resolvemos contar a todos para que se tome uma providência."
O agricultor conta que está isolado em casa, em quarentena, aguardando resultado de exame para detectar se ele se infectou com o novo coronavírus durante o enterro da mãe dele. "Não estou com sintomas, mas por precaução fiz o exame e o resultado sairá em até três dias."
Outro enterro sem coveiro
Na última terça-feira (8), familiares de Manoel Pinheiro da Silva, 78, também enfrentaram o mesmo problema. O idoso morreu em decorrência da covid-19 no hospital regional de Pombal, na segunda (7). Quando o corpo chegou ao cemitério de Riacho dos Cavalos, no dia seguinte, não havia ninguém da administração, nem o coveiro para realizar o enterro.
Sem alternativa, sobrinhos do idoso pagaram R$ 50 para uma pessoa abrir a cova, e eles enterraram por conta própria o corpo do tio, usando apenas luvas e máscaras comuns para proteção.
A prefeitura de Riacho dos Cavalos informou que abriu uma sindicância para investigar a ausência do coveiro e destacou que já ouviu o servidor. Segundo a prefeitura, o coveiro justificou que não realizou o enterro porque a família da idosa não apresentou atestado de óbito. A família da idosa nega a ausência do documento e afirma que o atestado de óbito estava vindo junto com o caixão.
Enterrando a própria mãe
Antes do enterro da mãe, Carneiro registrou em vídeo a cova aberta e disse: "Tá vendo aí? Estou aqui no cemitério de Riacho dos Cavalos. A cova da minha mãe o coveiro cavou e disse que não ia enterrar, não. A gente está aqui esperando o corpo e vou ter de entrar aqui arriscando minha vida para enterrar minha mãe. Estou filmando para mostrar que o coveiro foi embora e eu vou ter de enterrar a minha mãe".
Outro vídeo mostra o caixão sendo retirado do carro da funerária por Carneiro, que usava luvas e máscara, junto com dois funcionários da funerária. Os três levaram o caixão até a cova com dificuldade, porque o local é de difícil acesso, e enterraram o corpo de Elizabete Carneiro por conta própria.
O homem informou que sua mãe ficou cinco dias internada no hospital de Pombal, município vizinho ao de Riacho dos Cavalos, vindo a óbito no dia 1º. Elizabete morava com quatro irmãos, e todos foram infectados pelo novo coronavírus no mês passado — ela e outro irmão, Francisco Vieira Carneiro, 62, precisaram de internamento em hospital. Os dois morreram.
Francisco Carneiro foi o primeiro a apresentar sintomas da covid-19 e ficou internado no hospital em Pombal, onde veio a óbito no dia 28 de maio. O enterro de Francisco Vieira Carneiro ocorreu no município de Jericó e transcorreu sem problemas.
"Minha mãe ainda estava em casa quando meu tio morreu. Ela piorou com a morte dele porque estava doente e ficou muito abalada. Logo depois, precisou ser internada no hospital. Perdi minha mãe e um tio vítimas dessa doença", destacou.
O agricultor destacou que no dia de ontem morreu uma pessoa de família "rica" e que o enterro ocorreu sem problemas. "O coveiro estava lá. Está havendo distinção em quem é pobre e rico. Será que isso conosco ocorreu porque somos pobres?", indagou Franciberto Carneiro.
Ele destacou ainda que ouviu numa rádio local que a prefeitura informou que o coveiro não realizou o enterro de Elizabete porque faltava o atestado de óbito, mas a família diz que o corpo veio do município de Pombal com todos os documentos.
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