1º ônibus com salas de vacinação contra covid começa a circular no Nordeste
Um ônibus adaptado com cinco salas de vacinação começou a rodar pelo Nordeste brasileiro para acelerar a imunização contra a covid-19.
Doado pela Mercedes-Benz à Cruz Vermelha, o veículo rodoviário O 500 R começou o circuito na tarde da quarta-feira (9) em Maceió, onde deve passar ao menos um mês passando por bairros da capital alagoana.
O projeto conta com dois ônibus, que irão circular pelo país durante o ano. A ação conta com apoio financeiro do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha e da Câmara Brasil-Alemanha.
Aqui foi o pontapé da operação, mas esses ônibus vão rodar o país. O projeto tem como principal objetivo levar vacina até o povo, não que o povo vá até a vacina.
Júlio Cals, presidente da Cruz Vermelha Brasileira
No Circuito Nordeste estão previstas, inicialmente, visitas às cidades de Natal, Fortaleza e São Luís, num total de 4.350 km.
Já o Circuito Norte será cumprido por um ônibus urbano e passará por Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, Brasília, Cuiabá, Porto Velho e Rio Branco, percorrendo 6.570 km. A ideia é que a vacinação desse circuito comece na semana que vem.
Inicialmente, o ônibus ficará 30 dias em cada cidade, com possibilidade de estender por mais 15 dias, mediante pedido da prefeitura. A princípio, apenas capitais serão visitadas, mas municípios do interior também podem entrar no mapa, mediante acerto com a Cruz Vermelha.
"Só existem três ônibus desse no mundo: esses dois e um Nova York, nos EUA", diz Cals.
Centenas foram se vacinar
Toda a operacionalização do ônibus é feita por voluntários da entidade, que atuam desde a organização das filas logo cedo à triagem dos pacientes. Já os vacinadores e administradores das doses são designados pela prefeitura.
"Para o projeto precisamos do apoio das prefeituras porque, pelo PNI [Programa Nacional de Imunização], são elas que têm a prerrogativa de imunizar as pessoas. A Cruz Vermelha entra como força auxiliar, com equipamentos e voluntários. As vacinas são das prefeituras, seguimos o cronograma delas", explica.
Além da imunização, ainda há ações de educação sanitária, com distanciamento social, higienização e uso de máscaras.
O UOL acompanhou ontem a imunização, que atraiu centenas de moradores do bairro do Tabuleiro do Martins. Os moradores buscaram desde cedo senha para garantir a imunização.
A dona de casa Aline Barbosa, 38, foi uma delas. Ela conta que, como mora ao lado do local onde o veículo parou, não precisou gastar com deslocamento até um dos pontos de vacinação de Maceió.
"Foi uma luta para conseguir o atestado para me vacinar. Eu tenho muito medo dessa doença, não saio de casa para nada. É um alívio muito tomar a vacina, mas sei que preciso me cuidar e esperar a segunda dose", conta ela, que tem obesidade e já poderia ter se vacinado desde maio.
Aqui perto ficou muito mais fácil, por isso vim.
Aline Barbosa, dona de casa vacinada com a primeira dose da Pfizer
Ontem, o ônibus vacinou com a vacina da Pfizer, para os casos de primeira dose, e com a AstraZeneca/Oxford, no caso de segunda dose. A CoronaVac está em falta.
Segundo a enfermeira Dulcilene Omena, 53, uma equipe de 15 profissionais da prefeitura foi designada para atuar no ônibus durante sua estadia em Maceió. "Hoje foi nosso primeiro dia inteiro [na quarta-feira houve apenas meio expediente], chegamos aqui às 7h50 para ajustar tudo e, às 9h, abrimos para o público e começamos a vacinar. Eu vacinei algumas pessoas e pude ver a felicidade delas", relata.
Além das salas, há um espaço reservado no ônibus para armazenar e organizar as doses das vacinas. Uma das funções que cabe às enfermeiras é preparar as doses da vacina da Pfizer.
"Ela vem concentrada e precisa ser diluída na hora. Aí aqui faço essa preparação. Cada frasco desse dá para seis doses", explica a enfermeira Danyele Beltrão, 34, citando que a equipe é só alegria em atuar numa experiência nova.
"Vejo todo mundo animado, feliz em atuar aqui. É uma sensação de gratidão pela oportunidade", completa.
Por que começar por Maceió
Júlio Cals explica que a escolha de Maceió como pontapé inicial da ação ocorreu porque a capital alagoana tem uma vacinação mais acelerada que a média nacional. "Ela já ultrapassou a vacinação de comorbidades, baixou muito a idade [hoje podem se vacinar pessoas a partir de 52 anos] e isso nos motivou a vir para cá", diz.
Segundo Claydson Moura, coordenador do Gabinete de Gestão Integrada para o Enfrentamento à Covid-19 de Maceió, a capital alagoana tem um índice hoje de 99% de aplicação das vacinas recebidas.
"O ônibus é uma ferramenta importante para ampliar a campanha e permitir que a gente leve a imunização para próximo das pessoas que mais precisam. Nosso sentimento é de gratidão à Cruz Vermelha e à Mercedes-Benz, que nos escolheram até como um laboratório, o que nos traz muita responsabilidade e, ao mesmo tempo, muita alegria", destaca.
Até a quarta-feira, Maceió tinha aplicado 401 mil doses de vacinas contra a covid-19, sendo 107 mil com a segunda dose (ou 10,6% da população).
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