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Morte de Lázaro tem dinheiro suspeito, dezenas de tiros e Bolsonaro irônico

Lázaro Barbosa foi capturado e morto em Goiás Imagem: Reprodução

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

28/06/2021 23h03Atualizada em 28/06/2021 23h09

Depois de 20 dias mobilizando mais de 200 policiais e a população do entorno de Ceilândia (DF) e de Goiás, Lázaro Barbosa foi capturado e morto hoje. Mais de dez tiros atingiram o fugitivo, que chegou a ser socorrido com vida, mas não resistiu aos ferimentos. Nas redes, membros da direita brasileira e o próprio presidente Jair Bolsonaro comemoraram.

No boletim de ocorrência do caso, os policiais disseram ter atirado cerca de 125 vezes. De acordo com o documento, os disparos foram realizados por três armas de fogo, sendo duas pistolas e um fuzil.

Segundo Rodney Miranda, secretário de segurança de Goiás, Lázaro "descarregou uma pistola, possivelmente 380, em cima dos policiais" e por isso foi alvejado. "Não tivemos outra alternativa a não ser revidar."

O resultado do laudo necroscópico ainda não tinha sido divulgado.

Miranda afirmou que Lázaro foi encontrado com R$ 4.400 no bolso, o que reforça a ideia de que ele estaria recebendo alguma ajuda. "Há informação de que ele atuava como jagunço e segurança de algumas pessoas", completou.

"Ontem à noite nós descobrimos que ele tinha procurado parentes na periferia de Águas Lindas de Goiás. Temos filmagens. Ele estava armado. Ele foi para o mato, fizemos o cerco. Ele tentou fugir e confrontou com a equipe do major Edson", disse Miranda em entrevista a jornalistas. Segundo ele, nenhum policial ficou ferido na ação.

Polícia visa "ajudantes"

O secretário reforçou que as investigações devem continuar agora visando os possíveis ajudantes de Lázaro na região.

Em entrevista à CNN Brasil, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (Democratas), disse que Lázaro não era um "lobo solitário" e que a Polícia Civil, com apoio da Militar, deve continuar investigando o caso. O objetivo é descobrir se o foragido recebeu ajuda de pessoas da região e por quê.

"Esse assassino não é um lobo solitário como alguns estavam querendo colocar. Ele teve ali a conivência de várias pessoas, de pessoas que moravam no setor rural, também no setor urbano, para que ele pudesse sobreviver todo esse tempo ali, tendo alimentação, local para poder dormir, tendo acesso também a telefone celular, informações de onde a polícia estava agindo", afirmou o governador.

Na última semana, o fazendeiro Elmi Caetano Evangelista, 73, foi preso por suspeita de terem ajudado o foragido. O caseiro Alain Reis de Santana, 34, também teve prisão decretada, mas após audiência de custódia foi liberado.

"CPF cancelado"

Nas redes, pessoas comemoraram a morte de Lázaro. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) utilizou de ironia para comemorar e parabenizar as forças policiais.

"Lázaro: CPF cancelado!", escreveu Bolsonaro em seu perfil no Twitter. A expressão é comumente utilizada no meio policial para se referir a execuções ou mortes.

O uso de expressão "CPF cancelado" pelo presidente já foi criticado em outras ocasiões. Em abril deste ano, ele tirou uma foto ao lado do apresentador e apoiador político Sikêra Júnior, antes de uma entrevista. Na imagem, os dois seguravam um CPF com uma faixa vermelha escrita "cancelado". A foto gerou críticas de vários parlamentares da oposição.

Em outra postagem, parabenizou os agentes envolvidos na operação. "Parabéns aos heróis da PM-GO por darem fim ao terror praticado pelo marginal Lázaro, que humilhou e assassinou homens e mulheres a sangue-frio. O Brasil agradece! Menos um para amedrontar as famílias de bem. Suas vítimas, sim, não tiveram uma segunda chance. Bom dia a todos!", escreveu ele.

Em outro momento, o presidente perguntou se Lázaro havia morrido de covid-19. "Tem gente chorando pelo Lázaro. Ele não morreu de covid, não?!", questionou durante conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília. Em seguida, ele diz que a fala foi retirada de um meme divulgado nas redes sociais. "Eu não estou debochando de ninguém, não", acrescentou, em seguida.

Desejo por "jagunço"

Para Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse hoje, durante o UOL News, que os discursos de políticos e do presidente mostram o desejo de que a polícia brasileira atue como "jagunço" para punir suspeitos.

"O que parece essa história, mesmo pela fala do governador, e depois pelo próprio comentário do presidente da república é que a gente volta na velha lógica de querer que no Brasil a polícia seja jagunço e não atue de forma profissional", disse o professor.

Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública) o trabalho de buscas a Lázaro mobilizou mais de 270 agentes das forças envolvidas. Entre elas, as polícias Civil e Militar de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (DF) e Corpo de Bombeiros Militar.

As buscas começaram no dia 9 de junho, após a chacina de uma família em Ceilândia (DF). Lázaro fugiu se escondendo na mata e passou por várias fazendas na cidade de Cocalzinho de Goiás (GO). Durante as buscas, o fugitivo trocou tiros com policiais, fez três pessoas reféns e baleou outras quatro, entre elas, um policial militar. Neste período, a força-tarefa recebeu cerca de 5.300 informações no disque-denúncia sobre o caso.

Lázaro era investigado por mais de 30 crimes, cometidos em Goiás, Bahia e Distrito Federal. A maioria dos casos é referente a crimes de latrocínio (roubo seguido de morte). Ele já havia sido condenado por homicídio, na Bahia, e era também procurado por crimes de roubo, estupro e porte ilegal de arma de fogo.

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