Morte de Lázaro: Falas mostram desejo de polícia ser jagunço, diz professor
Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse hoje, durante o UOL News, que os discursos de políticos e do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sobre a morte de Lázaro Barbosa, 32, mostram o desejo de que a polícia brasileira atue como "jagunço" para punir suspeitos.
"O que parece essa história, mesmo pela fala do governador, e depois pelo próprio comentário do presidente da república é que a gente volta na velha lógica de querer que no Brasil a polícia seja jagunço e não atue de forma profissional", disse o professor, se referindo a um tuíte de Bolsonaro no qual o mandatário escreveu que o CPF de Lázaro estava "cancelado".
A frase dita por Bolsonaro é comumente usada por policiais e grupos de extermínio para se referir a uma pessoa que foi assassinada por outro membro ou facção rival.
O membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública declarou que o uso político da morte de Lázaro após 20 dias de buscas é uma "situação extremamente lamentável" e explicou que a ação policial ideal é aquela em que nenhum tiro é disparado e o criminoso é preso. O docente aproveitou para questionar a comemoração de policiais após a carregarem o corpo do homem.
Agora, você ficar celebrando da utilização desse poder letal, você utilizar isso de forma politica como parece que tem acontecido, mais uma vez neste caso, é extremamente lamentável. A ação policial perfeita é aquela aonde não se dispara nenhum tiro e o criminoso é preso. Tudo que foge dessa regra precisa ser analisado, investigado, e acima de tudo, não precisa ser celebrado"
Rafael Alcadipani em entrevista ao UOL News
Para o docente, "o ponto principal é tratar com racionalidade, tratar com lógica e tentar entender o que aconteceu e se necessário era [o uso do poder letal]. Se era, está tudo bem, se não era, os policiais precisam ser punidos. Porque a gente não pode viver em uma sociedade onde se atira primeiro e depois se pergunta".
Rafael também declarou a necessidade de se analisar a legitimidade da ação policial que terminou com a morte de Lázaro. De acordo com o docente, retirar o corpo de Lázaro do local, caso ele já estivesse sem vida, pode prejudicar as investigações do caso.
"Por um lado, eu acho que toda vez que temos um criminoso perigoso, como é esse caso, que a gente tem uma pessoa que desafia as instituições policiais, que coloca a sociedade em risco, é importante que haja uma ação policial. É preciso que seja analisado a legitimidade da ação policial que foi ali colocada. Há sim uma possibilidade de que o Lázaro tenha, pelo tipo de criminoso que ele era, reagido à ação policial. A outra situação é qual era a efetiva necessidade de se utilizar o poder letal naquela circunstância que estava colocada. E isso apenas uma investigação séria e decidida vai poder nos dizer."
Falhas nas buscas
O docente afirmou que as buscas por Lázaro durante 20 dias pareceram mal-organizadas e apontou que a ação resultou em um enorme gasto de recursos públicos para manter toda a organização da operação.
"A impressão que passa para quem está de fora é que foi uma coisa bastante mal-organizada, que se gastou muito dinheiro público e, acima de tudo, onde se utilizou para vaidade política. A impressão que se dá é que foi algo bastante bagunçado".
Segundo Rafael, agora é "fundamental que se faça um estudo de caso em que se analise o que foi acertado e o que foi errado" na ação da polícia nas buscas por Lázaro e que o resultado dessa pesquisa seja utilizado em academias de polícia para que os futuros oficiais possam melhorar o seu desempenho nas próximas ações.
"Quando a gente não analisa o que a gente fez, tendemos a ficar repetindo os erros de sempre, o que é a tônica da Segurança Pública do Brasil."
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