Marielle: 'Saída de promotoras tira esperança', diz irmã sobre investigação
No último sábado (10), as promotoras do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) Simone Sibilio e Letícia Emile anunciaram saída voluntária da força-tarefa que investiga a motivação do assassinato da vereadora Marielle Franco, morta a tiros em 14 de março de 2018.
As promotoras —que eram as únicas profissionais que acompanharam o caso desde o assassinato—alegaram "interferência externa" e explicaram à família de Marielle que a decisão era irreversível. "[O ato da saída das promotoras] é desesperador. A gente fica um pouco sem esperança, mas ao mesmo tempo temos que lutar para ter alguma resposta, principalmente sobre o mandante", disse Anielle Franco, irmã de Marielle.
Hoje, quatro dias depois, o MP-RJ ainda não determinou quem dará continuidade às investigações. Agora, a família quer respostas: quem interferiu, por que e como o caso será conduzido daqui para frente.
Desde a saída das promotoras, os pais de Marielle estão desolados. A mãe, dona Marinete, chora e está apreensiva. Anielle Franco, que é diretora executiva do Instituto Marielle Franco, divide-se entre consolar a mãe e articular ações para pressionar o governador Cláudio Castro (PL) e o procurador-geral, Luciano Mattos.
Hoje, a família de Marielle apresentou um ofício ao MP-RJ. O documento é assinado com a família de Anderson Gomes, com a viúva de Marielle, a vereadora Mônica Benício (PSOL), e três ONGs (Anistia Internacional, Terra de Direitos e Justiça Global).
Além disso, lançaram uma "plataforma de pressão" chamada Interferência Não, onde qualquer pessoa pode enviar e-mails ao MP-RJ e ao governador cobrando respostas.
MP promete 'canal mais estreito' com a família
Na data em que se completam três anos e quatro meses do duplo homicídio, a família foi recebida por Mattos, que prometeu um "canal mais estreito" com a família sobre os passos da investigação.
Anielle reiterou que, até agora, a família está excluída do que acontece nas investigações, sem saber de eventuais mudanças de condução. Além da saída das promotoras, a Delegacia de Homicídios da Capital será chefiada pela quarta pessoa diferente desde a morte de Marielle.
Agora, o delegado Henrique Damasceno irá conduzir o inquérito sobre o caso. Antes, já foram Fábio Cardoso, Giniton Lages e Daniel Rosa.
"Primordial seria a gente ser avisado, participar. Muda promotor, sai delegado e a gente nunca é comunicado de nada. Não há posicionamento para a família", conta Anielle.
Ela também confirma que está há 134 dias aguardando uma resposta de Castro para uma reunião. Ontem, Castro disse à imprensa que "está agendando" o encontro, mas oficialmente nada chegou à mesa da diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, que também acompanha as investigações.
Espero que tenhamos resposta, que o governador se pronuncie assumindo seu lugar de chefe do estado, para falar o que a gente quer saber, que responda o que está acontecendo."
Anielle Franco, irmã de Marielle
Oficialmente, Castro ainda não se pronunciou sobre a troca na condução das investigações. À família, também não disse nada. Mas à imprensa, Castro afirmou que não pode assegurar a resolução do caso porque "não faz parte do processo" e que dizer o contrário seria bravata.
"A minha cobrança é institucional. Como cobro em todos os casos", disse.
No ofício protocolado hoje no Ministério Público, as famílias de Marielle e Anderson pedem:
- Renovação do compromisso institucional de busca por justiça para o caso e o acompanhamento das investigações, de acordo com compromisso firmado em março deste ano, com validação e consulta sobre os próximos passos da investigação;
- Um pronunciamento público e oficial sobre as informações de interferências externas no caso, que culminou na saída das promotoras;
- Uma audiência imediata com as famílias e as organizações que acompanham o caso, para tratar sobre os recentes acontecimentos e futuras ações do Ministério Público.
Depois do encontro, Anielle só deseja que o próximo promotor responsável pelo caso tenha tanta dedicação quanto as promotoras que saíram.
"A gente tinha muita confiança, e não dá para ficarmos sem esperança. É um caso complexo, a gente entende, porém vamos continuar pressionando para saber quem mandou matar", disse ao UOL.
O UOL questionou o MP-RJ sobre a interferência apontada pelas promotoras, o motivo oficial da troca e o nome do substituto, mas não obteve resposta específica. A assessoria apenas indicou, após a publicação desta reportagem, uma nota publicada no site do órgão.
Ali consta que Mattos prometeu à família de Marielle que "estão sendo analisados possíveis nomes" e que a força-tarefa poderá, inclusive, ser ampliada.
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