'Acertei a menina': Pai diz à polícia que filho admitiu atirar na namorada
O jovem Paulo Eduardo Scaravonatto, de 19 anos, suspeito de matar a namorada, Joana Fabris Deon, da mesma idade, teria dito "acertei a menina" ao pai, logo após um disparo ser efetuado no quarto onde o casal estava. O crime ocorreu no sábado (17), em Bento Gonçalves, a 123 km de Porto Alegre.
A frase supostamente dita por Paulo está na decisão do juiz Paulo Meneghetti, da 1ª Vara Criminal de Bento Gonçalves, que decretou a sua prisão preventiva. O UOL teve acesso à íntegra do documento.
"O pai de Paulo disse que o casal estava em sua casa, quando pelas 4h ouviu um 'forte estouro' e logo o seu filho disse 'acertei a menina, acertei a menina'. Foi até o local e viu a vítima imóvel e o revólver no chão", consta na decisão.
A reportagem procurou a advogada Manuela Andrade, que defende Paulo. Ela informou que deverá se pronunciar em relação ao cliente via email ao longo da tarde de hoje.
Joana morreu após o namorado disparar uma arma calibre 38, de acordo com a Polícia Civil. Ele chegou simular um latrocínio, mas foi denunciado pelo próprio pai horas depois de ser liberado, já que o boletim de ocorrência inicial não constava a hipótese feminicídio em razão do depoimento falso prestado pelo namorado.
Na decisão, o magistrado entendeu que "há suficientes indícios de autoria e materialidade do crime". Consta no despacho que Paulo deu duas versões diferentes sobre o latrocínio e caiu em contradição.
No primeiro, à BM (Brigada Militar), teria relatado que "conhecia um dos assaltantes". Já à Policia Civil, "negou conhecer".
'Namorado se desfez dos pertences da vítima'
A decisão ainda revela que Paulo foi visto por uma testemunha, por volta das 8h, levando para um terreno baldio diversos objetos enrolado em uma toalha. Para o juiz, isso indica que o suspeito pode ter ocultado pertentes da vítima.
"Uma moradora que não quis se identificar disse que, por volta das 8h, viu o investigado com objetos dentro de uma toalha, que foram largados em um terreno baldio. Qual ele voltou, tinha somente a toalha. Ora, tudo indica que Paulo se desfez das coisas da vítima e da arma tentando evitar ser descoberta a autoria do crime", assinalou o magistrado.
A Polícia Civil confirma que ainda não encontrou a arma usada no crime.
O crime
Joana deu entrada na madrugada de 17 de julho no Hospital Tachini, com ferimentos no tórax resultante de um disparo de arma de fogo. O namorado dela declarou à BM e à Polícia Civil que a vítima reagiu a um assalto na rua, sendo baleada.
O suspeito foi liberado após o caso ser registrado como latrocínio. Mas horas depois, segundo a delegada Deise Ruschel, o pai do namorado da vítima procurou a Polícia Civil para contar a verdade sobre a autoria da morte de Joana, que seria de Paulo.
A Polícia Civil e a BM confirmaram a versão do pai ao identificarem a presença de sangue na casa do suspeito, o que fez o caso virar um suposto feminicídio.
Em depoimento, o suspeito afirmou que a arma estava na mão da namorada no momento do disparo. A família da vítima diz não acreditar em tiro acidental.
'Cheia de vida e promissora': Família lamenta morte
Segundo o tio da jovem, Luiz Fabris, de 50 anos, Joana era filha única da irmã dele e constantemente era motivo de orgulho para a mãe, após ser aprovada em psicologia e pedagogia. A vítima cursava ambas as graduações.
"Era uma menina cheia de vida e com um futuro promissor porque estudava em dois cursos. Infelizmente era filha única da minha irmã. Foi uma tragédia para a nossa família", lamentou ao UOL, o tio da jovem.
Para o tio, Joana não se viu em perigo ao lado do namorado em razão "da bondade no coração". "Ela acabava não percebendo os perigos que a vida oferece, sendo vítima da própria ingenuidade e da liberdade que exercia. Foi vítima da bondade que tinha no coração", concluiu.
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