Preso, ativista 'Galo' assume que incendiou Borba Gato 'para abrir debate'
O entregador de aplicativos e ativista Paulo Roberto da Silva Lima, conhecido como Galo, se apresentou voluntariamente nesta quarta-feira (28) à polícia e afirmou ter sido um dos autores do incêndio à estátua do bandeirante Borba Gato, na zona sul da capital, no último sábado (24).
Galo, que se define como entregador antifascista e ganhou visibilidade ao relatar o trabalho de motoboys de aplicativos durante a pandemia, disse que o objetivo era abrir um debate sobre o monumento a um "genocida e abusador de mulheres", nas palavras dele.
A Justiça decretou a prisão temporária de Galo e sua companheira, Géssica de Paula Silva Barbosa, pelo incêndio. Um mandado de busca e apreensão será cumprido no imóvel onde mora o casal.
"O ato foi para abrir um debate. Em nenhum momento, foi feito para machucar alguém ou querer causar pânico. Que as pessoas agora decidam se querem ter uma estátua de 13 metros de altura que homenageia um genocida e um abusador de mulheres", disse Galo.
O advogado Jacob Filho afirmou ter sido pego de surpresa pelo mandado de prisão contra a esposa do ativista. "O telefone utilizado pelo Paulo está em nome da esposa. É só por essa razão. Ela não tem ligação nenhuma [com o ato]", avaliou.
Em vídeo exclusivo ao qual o UOL teve acesso, Géssica negou qualquer tipo de ligação com o ato.
"Estou aqui pra ser ouvida. Não sei como vou sair ou quando vou sair. O Sistema Judiciário está sendo falho por não apurar, por não ter provas [do seu envolvimento no incêndio à estátua]. Estou aqui e preciso de ajuda das pessoas", afirmou.
Um outro rapaz, Danilo Silva de Oliveira, compareceu na delegacia alegando também ter participado do ato. Contudo, não há mandado de prisão contra ele.
"Favelado nunca teve voz ativa. Mas a gente quer ir para um debate que já existe", disse Oliveira, que afirma ter participado do ato e se apresentou para depor.
Borba Gato
Inaugurada nos anos 1960 a estátua de Borba Gato gera polêmicas desde que foi instalada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no bairro de Santo Amaro.
O monumento homenageia Borba Gato, que fez parte do grupo de bandeirantes paulistas que exploraram territórios no interior do país, capturando e escravizando indígenas e negros entre os séculos 16 e 17, segundo obras como "Vida e Morte do Bandeirante", de Alcântara Machado, de 1929.
Em 2016, a estátua de Borba Gato foi atacada com um banho de tinta. A mesma intervenção também não perdoou o Monumento às Bandeiras, imponente obra de Victor Brecheret localizada no Parque do Ibirapuera, na capital paulista.
No ano passado, em meio aos protestos #BlackLivesMatter lançarem ao rio uma estátua de um traficante de escravos em Bristol, no Reino Unido, o debate em torno do monumento ganhou força nas redes sociais brasileiras por conta do histórico do bandeirante.
À época, a subprefeitura de Santo Amaro solicitou a instalação de gradis e vigia 24 horas pela Guarda Civil Metropolitana.
Entregadores Antifascistas
Morador do Jardim Guaruau, na zona Oeste da capital, Galo ganhou o apelido por conta de uma moto 7 Galo que usava para trabalhar como motoboy. Em março de 2020, começou a denunciar as condições de trabalho da categoria durante a pandemia, de onde surgiu o coletivo Entregadores Antifascistas, e a pedir a disponibilização de comida e kit higiene à categoria.
"Convidei os caras para ir até uma manifestação de domingo, para a gente observar e aprender junto como se constrói um ato junto com a galera do movimento negro para, quem sabe, um dia, a gente ter um ato grandão só nosso para falar das nossas pautas", declarou ao UOL em entrevista no ano passado.
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