Quem foi Borba Gato? Estátua de bandeirante foi alvo de ataque em 2016
Inaugurada em 1963, a estátua de Manuel de Borba Gato, instalada na Praça Augusto Tortorelo de Araújo, no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, é um dos monumentos mais controversos do país. Ontem, a obra assinada por Júlio Guerra foi incendiada por manifestantes. Não houve feridos, e uma pessoa foi detida neste domingo.
Um grupo intitulado Revolução Periférica assumiu a autoria do incêndio. Em seu perfil no Instagram, os membros compartilharam uma ação em que colaram lambe-lambes em postes da capital com a questão "Você sabe quem foi Borba Gato?"
Genro de Fernão Dias, ele foi um dos bandeirantes paulistas que, segundo estudos como o do livro "Vida e Morte do Bandeirante", de Alcântara Machado, lançado em 1929, exploraram territórios no interior do país, capturando e escravizando indígenas e negros encontrados pelo caminho, quando não os matavam em confrontos sangrentos, dissipando etnias entre os séculos 16 e 17.
Também estupraram e traficaram mulheres indígenas, além de roubar minas de metais preciosos nos arredores da aldeia.
Em um texto no próprio site da prefeitura, é afirmado sem as devidas explicações que se trata de uma homenagem polêmica desde sua inauguração, quando houve desfile com "populares vestidos de bandeirantes, índios e damas antigas".
Em 2016, a estátua de Borba Gato foi atacada com um banho de tinta. A mesma intervenção também não perdoou o Monumento às Bandeiras, imponente obra de Victor Brecheret localizada no Parque do Ibirapuera, na capital paulista.
Na época, o jornalista, cientista político e colunista do UOL Leonardo Sakamoto foi uma das pessoas que vieram a público propor a remoção da obra. Três anos antes, aconteceu no mesmo local um protesto da Comissão Guarani Yvyrupa. Em uma carta aberta, disseram: "a tinta vermelha, que para alguns de vocês é depredação, já foi limpa e o monumento já voltou a pintar como heróis os genocidas do nosso povo".
No ano passado, a subprefeitura de Santo Amaro solicitou a instalação de gradis em torno da estátua e ela passou a ser vigiada 24 horas pela Guarda Civil Metropolitana por um período depois que a obra voltou a ser alvo de grupos nas redes que defendem a derrubada desses monumentos.
Na ocasião, o debate foi intensificado em razão dos protestos antirracistas após a morte do norte-americano George Floyd, em 25 de maio. Em 7 de junho, manifestantes derrubaram e jogaram no rio a estátua de um traficante de escravos em Bristol, no Reino Unido.
Polícia investiga incêndio
Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou que a polícia está realizando diligências para encontrar imagens e informações que possam ajudar na identificação e localização dos autores da ação.
"De acordo com as primeiras informações, por volta das 13h30, um grupo desembarcou de um caminhão e espalhou pneus pela via e nos arredores do monumento, ateando fogo na sequência. Policiais militares e bombeiros chegaram rapidamente ao local e controlaram as chamas e liberaram o tráfego".
O caso está sendo registrado no 11º Distrito Policial (Santo Amaro) que ficará responsável pelas investigações.
A Prefeitura de São Paulo informou hoje a técnica especialista do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico) está acompanhando a limpeza da obra com a empresa responsável, e dando continuidade à análise dos danos.
"A partir desta semana, ainda será realizada uma nova perícia com especialista técnico para análise mais profunda da estrutura da obra. O boletim de ocorrência, que já foi iniciado no sábado, será finalizado na segunda-feira, após término do levantamento de todas as informações", diz o comunicado.
Com informações da reportagem de Brunella Nunes, colaboração para o TAB
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