Médico que combatia covid é morto em assalto; 'Me salvou', lembra paciente
"Ele amava o que fazia. Ele salvou a minha vida e graças a ele estou aqui". O relato emocionado é da professora Rose Vieira Sá, uma das centenas de pacientes do médico infectologista Rodolfo Enrique Postigo Castro, de 60 anos.
Desde o início da pandemia no ano passado, o profissional atuava na linha de frente no combate ao novo coronavírus em hospitais de Tatuí e Itapetininga. Ele foi morto na frente da família, sábado (31), durante um assalto na praia do Perequê, no Guarujá.
O médico era morador de Tatuí, cidade a 143 km de São Paulo, e havia ido passar o dia na praia com a família quando foi assassinado.
A professora Rose recorda que conheceu o médico no início deste ano quando foi diagnosticada com covid-19. Em abril, ela ficou 21 dias internada na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e foi tratada por Rodolfo. Segundo ela, a sua recuperação se deu muito aos cuidados do profissional.
"Fui entubada duas vezes, mas eu não estava reagindo. Daí o doutor Rodolfo decidiu fazer uma traqueostomia e foi a minha salvação. Depois da UTI, ainda permaneci mais 15 dias no quarto sendo acompanhada por ele", recorda a professora.
"Ele era muito atencioso e muito humano. É uma tristeza muito grande o que aconteceu com ele", diz a professora.
O crime
O infectologista estava com a família no Guarujá e após saírem de um restaurante, por volta das 14h30, seguiram a pé até o píer da praia do Perequê, onde foram abordados por dois assaltantes, segundo a polícia.
Os homens roubaram uma corrente de ouro que o médico usava e o celular da filha dele. Antes de fugirem com os objetos um dos ladrões, que estava armado, atirou duas vezes na direção do médico, mesmo sem ele ter reagido à abordagem. Um dos disparos atingiu Rodolfo no peito.
O infectologista foi socorrido por populares e levado ao pronto-socorro, no entanto ele morreu logo após dar entrada na unidade de saúde.
Depois do crime, que foi registrado como latrocínio - roubo seguido de morte - os dois assaltantes fugiram em uma moto.
Na delegacia, a família do médico reconheceu um adolescente de 17 anos como sendo o autor dos disparos. A polícia tenta localizar o menor.
Segundo a Polícia Civil, o adolescente já é conhecido nos meios policiais. Ele foi detido no dia 17 de julho ao ser flagrado com uma pistola calibre 22, no bairro Parque da Enseada. Acompanhado da mãe e de um advogado, o adolescente foi ouvido e liberado, na sequência.
Na ocasião, a arma foi apreendida e ele relatou aos policiais que havia comprado a pistola por R$1.500.
Homenagens
No píer onde o crime aconteceu uma mensagem de protesto foi escrita ontem. "1ª vítima fatal (médico) dos constantes assaltos. Descanse em paz", diz a mensagem.
Rodolfo integrava a equipe de médicos da Unimed Sul Paulista. A entidade emitiu nota lamentando a morte do profissional.
''Rodolfo foi mais uma vítima da violência urbana em novo episódio que ceifa vidas e que não podemos aceitar sem indignação. Os cooperados da Unimed Sul Paulista não se conformam com a perda precoce do médico infectologista, pessoa importantíssima na linha de frente, que angariava cada vez mais respeito e admiração da equipe de trabalho e de seus pacientes. Inconformados e indignados com a banalização da violência urbana."
O Grupo Moreno/Lucemi onde o médico também integrou o quadro funcionários lamentou a morte precoce do profissional.
"Que neste momento tão difícil, todos possam ser confortados. Aqui deixamos nossa homenagem ao grande amigo e profissional, que por longos anos contribuiu para o atendimento de muitos pacientes".
Rodolfo foi velado no velório municipal de Tatuí e enterrado no cemitério Cristo Rei, na tarde de ontem.
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