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BA: Secretário de Saúde xinga chef de 'vagabunda' após reserva cancelada

Imagem de arquivo; Fábio Vilas-Boas, secretário de Saúde da Bahia, publicou pedido de desculpas nas redes sociais  - Reprodução/TV Bahia
Imagem de arquivo; Fábio Vilas-Boas, secretário de Saúde da Bahia, publicou pedido de desculpas nas redes sociais Imagem: Reprodução/TV Bahia

Stella Borges

Do UOL, em São Paulo

03/08/2021 14h46Atualizada em 03/08/2021 15h35

A chef de cozinha Angeluci Figueiredo, do restaurante Preta, na Ilha dos Frades, em Salvador, afirmou que foi xingada de "vagabunda" pelo secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, no último domingo (1º), em uma mensagem enviada no Whatsapp. Após a repercussão, o secretário pediu desculpas.

Angelucci afirmou que a ofensa ocorreu porque o restaurante, onde o secretário tinha uma reserva, precisou ser fechado em razão de questões climáticas. Por estar em uma ilha, o acesso ao local é feito por barcos.

"Esqueça me ver de novo aqui. E ainda paguei 350 reais pra desembarcar. Amigo o caralho! Vagabunda", escreveu Vilas-Boas, segundo print da conversa divulgado pela chef.

Print enviado pela chef Angeluci Figueiredo de conversa com secretário estadual de Saúde - Divulgação - Divulgação
Print divulgado pela chef Angeluci Figueiredo de conversa com secretário estadual de Saúde
Imagem: Divulgação

Ontem, o secretário publicou um pedido de desculpas para Angeluci nas redes sociais (veja mais abaixo).

A chef relatou que a Capitania dos Portos, em razão da instabilidade do tempo, das condições climáticas e das variações do vento e da navegabilidade na Baía de Todos os Santos, recomendou a restrição de navegação em todo o entorno, incluindo, a Ilha dos Frades, onde fica o restaurante.

"Em virtude dessa decisão, o restaurante foi fechado, já que não haveria como os clientes das reservas chegarem à ilha e até mesmo como os funcionários se deslocarem em pequenas embarcações até o restaurante, sem correr riscos de acidente",explicou ela, em nota.

"O fechamento do restaurante e o cancelamento do atendimento, embora antes de tudo gere prejuízos econômicos para mim e toda a minha equipe, foi, portanto, determinado pelas circunstâncias climáticas, não por um gesto irresponsável meu ou de alguém ligado a mim", completou.

Angeluci disse que, num primeiro momento, chegou a cogitar que o celular do secretário havia sido clonado ou que outra pessoa estava usando o aparelho.

Pergunto-lhe: o que autoriza uma autoridade, no exercício de uma função pública das mais relevantes do estado — a de secretário de Saúde do Estado da Bahia, e durante uma pandemia, o que torna a sua função ainda mais responsável -- chamar uma mulher, a mim, de VAGABUNDA? Trecho de carta divulgada por Angeluci Figueiredo

"Os tempos mudaram, secretário: inexistem contextos que justifiquem essa relação de senhorio e vassalagem. Eu não sou vagabunda. Sou uma mulher digna, honrada, profissional, empresária, geradora de empregos, e com uma árdua rotina de trabalho, física, inclusive, para realizar um sonho e um projeto de oferecer aos meus clientes um serviço de qualidade. Mas não de qualquer jeito: só quando as circunstâncias me permitem. Funcionamos em uma ilha, sujeitos a intercorrências sobre as quais não temos autonomia", acrescentou ela.

Ela ainda questionou o secretário se ele sabe o que é ser misógino. "Sabemos que sim, o senhor sabe. Mas sabemos que nesse país ninguém é racista, ninguém é misógino. Aqui não há nunca vítimas, só vitimismo e 'mimimi', afinal devemos garantir que autoridades se sintam à vontade para sacar o telefone e chamar uma mulher de vagabunda, simplesmente porque pode, porque um desejo foi frustrado pelo tempo [clima]."

A chef ainda questionou se ele chamaria de vagabundo um homem branco, caso a mesma situação ocorresse.

Secretário pediu desculpas

Em sua conta no Twitter, Vilas-Boas publicou um pedido de desculpas à chef e disse contar "com o perdão de todos que se sentiram ofendidos".

Veja abaixo o comunicado na íntegra:

"Por mais cuidadosos que sejamos, ao longo da vida cometemos erros que podem atingir as pessoas. Peço, portanto, desculpas à empresária e artista da gastronomia baiana, a chef Angeluci Figueiredo, pelos comentários inadequados no último domingo (1), em circunstâncias injustificáveis, enviados por mensagem privada. Tendo reservado um almoço especial com os familiares e amigos do exterior com a devida antecedência de 48h, uma enorme frustração momentânea me levou, tomado de emoção, a dizer o que disse. Conto com o perdão de todos que se sentiram ofendidos, pois sempre pautei minha vida na verdade, honestidade e acolhimento."

Reações

A Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher da OAB-BA (Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia) e a Comissão da Mulher Advogada da OAB-BA divulgaram uma nota repudiando o caso. "Utilizando-se de aplicativo de mensagens, o referido agente público destilou machismo e misoginia contra uma mulher, negra, trabalhadora, ofendendo-a na sua honra, proferindo palavras de baixo calão e ameaças de exposição pública."

A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) classificou a postura do secretário como "inaceitável".

"A postura do secretário Fábio Vilas Boas foi machista e inaceitável ao dispensar aquele tipo de tratamento a uma mulher. É algo lamentável, especialmente por se tratar de um agente público", escreveu ela em sua conta no Twitter.