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Após 8 testes, equipe vê Clarinha como família: 'vamos continuar cuidando'

Imagem de arquivo mostra o tenente coronel Jorge Potratz com a paciente Clarinha, que está há 21 anos em coma no hospital da Polícia Militar em Vitória, ES - Divulgação
Imagem de arquivo mostra o tenente coronel Jorge Potratz com a paciente Clarinha, que está há 21 anos em coma no hospital da Polícia Militar em Vitória, ES Imagem: Divulgação

Andréia Martins

Do UOL, em São Paulo

09/08/2021 14h29

A equipe de enfermagem torceu muito, mais uma vez, para que 'Clarinha', mulher internada há 21 anos em um hospital de Vitória, no Espírito Santo, tivesse encontrado sua família, depois de 20 anos de buscas. Mas, na semana passada, um novo teste de DNA concluiu que ela não é a criança desaparecida em 1976 em Guarapari, a 55 km da capital.

"A esperança que toda a equipe tinha nessa investigação, que estava acontecendo há cerca de três meses era de que encontrassem os familiares dela, mas infelizmente não foi dessa vez. Vamos continuar cuidando dela. Ela já faz parte da nossa família", diz a coronel Valeria Schimidt, chefe geral da enfermagem do HPM (Hospital da Polícia Militar), onde a paciente está.

Em conversa com o UOL, Schimidt contou que 'Clarinha' já fez oito testes genéticos de compatibilidade com familiares. "Veio gente de Minas, do Rio. As possibilidades agora de encontrar a família já estão bem escassas. Ficamos muito desesperançosos, mas nada é impossível", diz ela.

A rotina da paciente que chegou ao hospital já em coma em junho do ano 2000 é tranquila, segundo a enfermeira. "Ela tem uma saúde muito boa. Ela não tem gripe, não teve covid-19. E uma coisa que é difícil de acontecer, ela nunca teve úlcera de pressão, que são aquelas feridas de quando você fica muito tempo deitado", completa.

'Clarinha' foi vítima de um atropelamento e sofreu um traumatismo craniano. Antes de chegar ao HPM, ela passou um ano no Hospital São Lucas, onde também já estava em coma. Schimidt explica que ela foi transferida para o HPM porque precisava de uma enfermaria sem muitos leitos, para prevenir infecções. Hoje, ocupa sozinha um quarto da enfermaria.

"Pela medicina, é pouco provável ela voltar do coma pelo tempo. Mas nada é impossível. Já tiveram casos de pacientes em coma há mais tempo que ela e que acordaram", afirma Schimidt.

A rotina de tratamento inclui a medicação dada através da sonda, cuidados com higiene pessoal, hidratação da pele. Apesar de muito bem cuidada, a enfermeira afirma que, se acordasse hoje, 'Clarinha' não conseguiria andar devido à lesão neurológica.

"Ela não andaria se acordasse agora, pois já perdeu os movimentos das pernas, tem atrofia muscular, atrofia óssea. Por isso é pouco provável ela reaprender a andar", afirma.

'Clarinha' chegou ao HPM em 2000 após ter sido atropelada por um ônibus no Centro de Vitória. Segundo o MPES (Ministério Público do Espírito Santo), testemunhas afirmaram que ela estava fugindo de um perseguidor, que também não foi identificado.

Como não tinha documentos quando sofreu o acidente, a paciente recebeu esse nome pela equipe médica do HPM. Foi uma homenagem a uma voluntária de nome Clara, que sempre visitava o hospital e acabou adotando 'Clarinha' na época.

Há alguns anos quem faz esse papel de 'padrinho' é o médico aposentado e coronel Jorge Potratz. Ele atendeu 'Clarinha' no hospital e continua ajudando nos gastos com itens pessoais, remédios e fazendo visitas frequentes à paciente.