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PM mata jovem negro por suspeitar de furto de celular que depois foi achado

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/08/2021 16h04Atualizada em 13/08/2021 19h38

O Ministério Público de São Paulo aguarda perícia no celular do jovem negro, de 20 anos, assassinado por um policial num bar da zona norte da capital paulista, no último fim de semana. O PM acusou o rapaz de furtar seu celular, que estava no próprio carro do agente. Ele foi denunciado pelo MP sob acusação de homicídio, na última segunda-feira (9), mas a avaliação é aguardada para revelar se há fotos, vídeos ou mensagens que possam ligá-lo à vítima e esclarecer melhor as circunstâncias do crime.

O cabo da Polícia Militar Silvio Neto foi preso em flagrante no sábado (7) após matar Clayton Abel Lima. Segundo a Polícia Civil informou ao UOL, a Justiça autorizou a conversão do flagrante em prisão preventiva. O cabo permanece detido no presídio militar Romão Gomes.

Segundo o boletim de ocorrência, o PM e a vítima chegaram juntos ao bar, já alcoolizados, e compraram mais bebidas. Em determinado momento, começaram uma discussão, na qual Silvio acusava Clayton de ter roubado seu celular.

Diante das negativas de Clayton, o agente ainda chegou a ir ao balcão do bar e perguntou ao dono do estabelecimento sobre seu aparelho. Sem encontrá-lo, "retornou para os fundos do bar e, de surpresa, sacou uma arma de fogo e desferiu um disparo contra a vítima", segundo consta na denúncia do Ministério Público.

O dono do bar conseguiu desarmar o policial e acionar a polícia e o resgate, mas Clayton morreu no local. Silvio foi preso em flagrante por policiais do 5º Batalhão da PM.

O indiciado alegou aos policiais que reagiu a uma tentativa de roubo praticada pela vítima, mas foi desmentido pelo dono do bar. O policial foi indiciado no DHPP por homicídio doloso, quando há a intenção de matar.

O carro do PM foi periciado e, nele, foram encontrados o celular, um cabo de alimentação de energia, um cartão e um comprovante de banco em nome de Clayton.

A promotora Tatiana Callé Heilman afirmou, no texto da denúncia, que "o crime foi cometido por motivo torpe, consistente em vingança por um suposto furto de celular que o indiciado acreditava que a vítima tivesse cometido contra ele. Foi, ainda, cometido mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, que não imaginava que seria alvejada pelo indiciado e foi atacada por ele de forma inesperada".

Mãe: 'Só quero esclarecimento'

A mãe de Clayton, Claudia Abel, pediu que a situação seja esclarecida pela PM: "Estou sofrendo muito. O IML me ligou falando: 'Seu filho morreu. Troca de tiro com polícia, vem reconhecer o corpo'", relatou ela, em entrevista ao "Balanço Geral", da TV Record.

"Só quero esclarecimento, ninguém fala nada. Chega no IML, eles falam que foi troca de tiro. Meu filho não tinha arma. Era um menino bom. Arrastaram meu filho para aquelas bandas, ele nunca saiu de Guarulhos", disse Claudia.

Dados mostram que negros morrem mais

Mesmo com a pandemia de covid-19 restringindo a movimentação de pessoas, nunca as forças policiais brasileiras mataram tanto quanto em 2020, segundo dados do Anuário de Segurança Pública.

A publicação, organizada pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), destaca que os negros foram as maiores vítimas de policiais — correspondem a 78,9% das 6.416 pessoas mortas por policiais no ano passado, apesar de representarem 56,3% da população. O número de mortos por agentes de segurança aumentou em 18 das 27 unidades da federação, revelando um espraiamento da violência policial em todas as regiões do país.