Homem escreve carta antes de morrer de covid-19: 'Lutei até onde pude'
A família de Raphael Voltan, de 31 anos, foi surpreendida com uma carta de despedida redigida por ele mesmo em seus últimos momentos de vida no domingo (22). Ele, que tinha sido diagnosticado com um linfoma Não-Hodgkin no ano passado, pegou covid-19 em agosto desse ano e acabou não resistindo à doença. "Lutei até onde pude", diz ele na mensagem.
Estela Mastellari, de 35 anos, recebeu o documento ainda no hospital, após a notícia da morte do namorado. Ela e Raphael são pais de Rhavi, de um ano.
"A gente ficou feliz de receber algo dele. Infelizmente, a covid tira a vida das pessoas", contou ao UOL. A carta havia sido deixada com uma enfermeira a pedidos do paciente, que estava isolado e se comunicava com a família apenas por chamada de vídeo.
Segundo Estela, o namorado foi internado no dia 29 de julho, recebeu alta no Dia dos Pais (8 de agosto), mas acabou sendo diagnosticado com a covid-19 logo em seguida e voltando ao hospital no dia 11, com sintomas.
"Deu febre, falta de ar. Então a gente teve que levá-lo aqui no hospital de Campo Limpo Paulista. No dia seguinte ele foi transferido para o São Vicente (em Jundiaí) e foi para o isolamento. Depois disso a gente não viu mais ele. Só por chamada de vídeo."
No texto, escrito à mão, Raphael diz para a família: "Amo vocês. Lutei até onde pude. Cuide do Rhavi. Eu amo muito ele. Todos vocês fiquem com Deus."
Raphael estava em tratamento de um linfoma, um câncer com origem nas células do sistema linfático, que faz parte do sistema imunológico. Segundo a namorada, ele havia passado por quimioterapias anteriormente e quase não sobreviveu a uma delas, o que levou a família a procurar tratamentos alternativos.
"Sempre foi um diagnóstico muito ruim. Os médicos falaram que era um câncer muito agressivo, mas a gente acreditou na cura e no milagre", conta.
O casal, por intermédio de uma ONG, encontrou medicamento "Pembrulizumab", que poderia ajudar na recuperação de Raphael. Entretanto, o alto custo do produto fez com que os dois buscassem ajuda com uma campanha de arrecadação na internet.
"O valor era de R$ 18 mil cada ampola e ele precisava de duas a cada três semanas", explica Estela. "Os amigos todos entraram para ajudar na vaquinha e assim foi feito. Ele conseguiu fazer duas aplicações e muitas pessoas começaram a entrar em contato, inclusive advogados para ajudar a gente. Nós conseguimos obter o medicamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e ele ia receber agora, mas não deu tempo."
Estela lamenta que a descoberta do medicamento foi tarde, mas diz que toda a campanha teve retornos positivos para o namorado. "Ele se sentiu muito amado", conta. Raphael ainda conseguiu tomar duas aplicações do remédio, que foram pagas com o dinheiro arrecadado na campanha.
O apoio das pessoas no enfrentamento à doença e a despedida de Raphael na carta trouxe para Estela um conforto para enfrentar o luto. "Não tem como não falar sobre como ele foi um grande companheiro porque ele aguentou coisas que muita gente não aguentaria. Ele sempre quis ver o filho crescer. Ele amava muito o Rhavi, amava muito a família dele. Não é à toa que a carta dele diz isso. Mesmo fraco, mesmo não podendo, ele queria estar perto", finaliza.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.