Nuvem de poeira: entenda como ocorre o fenômeno que atingiu SP
A nuvem de poeira que cobriu ontem à tarde (26) as cidades de Franca, Ribeirão Preto e região, no estado de São Paulo, ocorre quando há uma combinação de ventos que precedem chuvas mais intensas em regiões planas com baixa umidade e em solos preparados para o cultivo agrícola. O vento intenso então carrega as partículas finas desse solo ressecado, formando as nuvens de poeira.
Ainda que o fenômeno seja considerado raro no país, meteorologistas ouvidos pelo UOL não descartam outros episódios do tipo neste ano em áreas planas no interior de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Frente de 200 km e ventos com até 93 km/h
A frente de rajadas responsável pelo fenômeno teve cerca de 200 km de extensão entre Franca e Olímpia, em São Paulo, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
"A primavera é o período do ano com maiores contrastes de massas de ar, com longa estiagem e muita poeira no chão [ambiente propício para a formação de nuvens de poeira]. O mais raro mesmo é a extensão. Houve locais com tanta poeira que encobriu o céu", analisou Franco Nadal Junqueira Villela, meteorologista do Inmet.
Ainda de acordo com o órgão, os ventos com até 93 km/h também atingiram os municípios de Frutal, Uberaba e Uberlândia, em Minas Gerais.
Queda brusca de temperatura
Segundo o Inmet, a região de Franca registrou uma queda brusca de temperatura, que despencou 11ºC. Os termômetros marcavam 28ºC quando a área foi atingida pela nuvem de poeira. Depois da tempestade, a temperatura caiu para 17ºC.
"Isso mostra o contraste de temperatura entre as áreas. O ar estava muito aquecido quando as áreas de instabilidade se aproximaram", explicou Villela.
Esse encontro do ar frio com o ar quente gera uma zona de turbulência, que faz o levantamento desse material para a atmosfera. Como esse ar é muito frio, ele entra por baixo do ar quente e vai rente ao chão, suspendendo a poeira para a atmosfera"
Franco Nadal Junqueira Villela, meteorologista do Inmet
Solo seco e sem cobertura vegetal
Pedro Côrtes, professor do IEE/USP (Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo), explica que esses episódios ocorrem em regiões com solo seco e sem cobertura vegetal.
Não é um fenômeno comum no Brasil. É o que se verifica em algumas cidades do interior com a entrada de ventos fortes no intervalo entre a colheita e o cultivo. Como há uma seca muito severa e o nível de unidade é baixo na superfície, o solo fica exposto em áreas muito planas, que favorecem a circulação de ventos intensos"
Pedro Côrtes, professor do IEE/USP
Com isso, se forma uma poeira superficial com a entrada de uma frente fria, capaz de aumentar a circulação de ventos.
"Isso faz com que esse solo seja carregado pelo vento, formando as nuvens. O fundamental é que o solo esteja muito seco. Aí tem a formação de partículas muito finas, facilmente carregadas pelo vento", completa.
Novos episódios podem ocorrer neste ano
Côrtes não descarta inclusive que o fenômeno volte a acontecer ainda neste ano diante da severa estiagem, embora essa formação de nuvens de poeira seja considerada rara no país.
"Vamos ter a entrada de frentes trazendo chuvas, que podem até dar uma sensação de normalidade. Mas a estiagem deve voltar, com chuvas abaixo da média. Talvez o fenômeno volte a acontecer ainda na primavera, se houver solo preparado para o cultivo à espera de chuva para que sementes germinem", projeta o professor.
Áreas em risco no país
Côrtes diz acreditar que nuvens de poeira possam aparecer no interior de São Paulo, Paraná ou Santa Catarina.
"É um fenômeno raro. Em geral, acontece em regiões que sofrem de estiagem com o solo ressecado ou em regiões desérticas, com areia muito fina. Aí, essa areia é levada facilmente pelo vento", explica.
A meteorologista Marlene Leal, do Inmet, projeta a possibilidade de novos casos em cidades do Mato Grosso do Sul e em Brasília (DF).
"Pode ocorrer em qualquer outra região que tenha condição de mudança rápida de temperatura. Vai depender também da planície que tenha situação de areia mais próxima. Pode ocorrer em Brasília ou em cidades do Mato Grosso do Sul", projeta.
"É mais provável que esse fenômeno volte a acontecer no Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, por causa da escassez de chuva e da poeira em superfície devido à escassez de chuva", avalia Villela.
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