Henry: Mudança da babá evidencia poder de Jairinho, diz defesa de Monique
A terceira versão do depoimento da babá de Henry, Thayná de Oliveira Ferreira, no processo que apura a morte da criança, evidencia a influência da família do ex-vereador Dr. Jairinho (sem partido), segundo avalia a defesa de Monique Medeiros, mãe do menino.
Em depoimento à Justiça, Thayná negou ter testemunhado agressões por parte de Jairinho, padrasto da criança, e justificou a mudança de versão citando uma suposta influência exercida por Monique. Jairinho e a mãe do menino são réus por homicídio triplamente qualificado.
"Ela vinha, contava, tentava me mostrar o monstro do Jairinho e eu ficava com todas as coisas ruins na cabeça. Era tudo suposição da minha cabeça", disse a babá.
Para Thiago Minagé, advogado de Monique, a mudança de versão é resultado da influência da família de Jairinho.
Advogado do ex-vereador, Braz Sant'Anna descartou a possibilidade de coação. "Não acredito nesta hipótese. Se a versão de Thayná fosse desfavorável à defesa de Jairo, nós teríamos o mesmo discurso", disse.
O promotor Fábio Vieira também disse que a babá foi influenciada por Jairinho e tentou transformar a mãe de Henry em um "monstro".
Família com longa trajetória política
Jairinho era vereador no Rio e perdeu o mandato após ser acusado pela morte do enteado. O pai, Coronel Jairo, é deputado estadual e foi citado na CPI das Milícias, em 2008, por suposta ligação com o grupo criminoso Liga da Justiça.
Apesar das mudanças de versões, Minagé avalia que os depoimentos não foram prejudiciais para Monique.
"O que mais importa é que essa mudança de versão deixa clara a tentativa da defesa do Jairinho de colocar a Monique como culpada. [A babá] estava nitidamente coagida e em sintonia com a defesa do Jairinho", diz Minagé.
O defensor pondera contudo que sua percepção não é uma "acusação" contra os advogados do Jairinho, mas uma reflexão sobre a influência da família de Jairinho.
"É sobre a influência da família. Ela [a babá] tem uma família toda que trabalha pra família deles. Nitidamente ela estava ali para exercer uma função", diz.
Thayná foi indicada pela própria mãe para trabalhar como babá de Henry, função que começou a desempenhar a partir de 18 de janeiro —dois meses antes do crime. De acordo com a defesa de Monique, a contratação foi firmada por Talita, irmã de Jairinho.
Os trâmites da contratação, na avaliação de Minagé, também são elementos que comprovam a fragilidade da versão.
"A Monique ficou estarrecida [com a mudança de versão]. Ela me disse: 'Não fui eu quem contratei ela!'. Então não faz sentido alguém morrer de medo de alguém que conhece há dois meses e não ter medo de uma família inteira que conhecia há seis anos", afirma o defensor.
A babá pediu para que Monique deixasse a sala de audiência e afirmou, durante o depoimento, ter medo da mãe de Henry. "Hoje, depois de tudo o que passei e vim observando, pensando, refletindo... Eu tenho medo da Monique", afirmou Thayná.
Babá não recebeu benefício, diz defesa
Ao UOL, a advogada Priscila Guilherme Sena afirmou que Thayná está desempregada e descartou que tenha sido coagida pela família de Jairinho.
Na última vez que falou à polícia, em abril, Thayná relatou que Monique tinha conhecimento de que o filho era agredido pelo padrasto e confirmou que mentiu no primeiro depoimento, pois estava com medo de falar a verdade "por ter visto o que Jairinho tinha feito contra uma criança, ficou com receio que algo também pudesse acontecer com ela".
Foram mais de 12 horas de depoimento à polícia em que a babá afirmou lembrar de ao menos três episódios em que o menino teria sido agredido. De acordo Thayná, as supostas agressões aconteciam no quarto do casal. Henry era sempre chamado ao cômodo por Jairinho. Os dois ficavam com a porta trancada.
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