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"Alívio e dever cumprido", dizem viúvas das vítimas de militares condenados

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL no Rio

14/10/2021 04h15

Depois de mais de 15 horas de julgamento que resultou na condenação de oito militares responsáveis pela morte do músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo em abril de 2019, as viúvas dizem que agora o sentimento é de alívio e dever cumprido.

Na madrugada desta quinta-feira (14) o Tribunal de Justiça Militar decidiu condenar em 31 anos e seis meses de prisão em regime fechado o Tenente Nunes. Outros sete foram condenados a 28 anos de prisão em regime fechado.

Os oito condenados serão expulsos da corporação por culpabilidade comprovada. Já os outros quatro militares que não deram disparos no dia do crime foram absolvidos. Todos os 12 foram absolvidos da acusação de omissão de socorro.

É uma sensação muito grande de dever cumprido, por poder estar honrando o nome do meu esposo. Como é satisfatório poder chegar em casa e dar essa notícia para o meu filho. Sou muito grata a Deus, foi Ele que me sustentou desde aquele momento até o dia de hoje
Luciana Nogueira, esposa de Evaldo

Emocionada, a viúva de do músico agradeceu aos integrantes do Conselho Especial de Justiça e disse que teve medo da justiça não ser feita: "Estou meio anestesiada porque desde o inicio meu medo era da injustiça, medo de não acontecer uma justiça digna por ser julgado por eles. Quero agradecer a cada um que esteve ali sentado e votou de forma humana. Sou muito grata, eles não têm noção de como estão trazendo paz para a minha alma".

"Eu sei que isso não vai trazer o meu esposo de volta, mas também não seria justo sair daqui sem uma resposta positiva e deixar com que a fala de alguns, que queriam seguir a tese que meu esposo não era do bem e também querendo incriminar Luciano, um herói", desabafou a técnica de enfermagem.

Dayana Fernandes, viúva do catador Luciano Macedo - Daniele Dutra - Daniele Dutra
Dayana Fernandes, viúva do catador Luciano Macedo
Imagem: Daniele Dutra

Acompanhada da filha de dois anos que o catador Luciano Macedo não chegou a conhecer, Dayana Fernandes estava emocionada com a decisão: "Estou muito satisfeita, aliviada. Achei muito justa a decisão da juíza, mas meu sentimento agora é alívio e tristeza, de ficar lembrando de tudo isso de novo", disse a viúva. Com a Ayla no colo e uma blusa estampando a foto do marido, Dayana seguiu para o ponto de ônibus para retornar para casa.

"Hoje vou chegar em casa, tomar um banho e vou conseguir dormir. Vou agarrar o meu filho e contar tudo para ele. Hoje o Davi estaria aqui, mas passou mal e achou melhor não vir. Quero dizer para ele que mamãe foi guerreira, sempre se manteve de pé por mim e por você, te amo. Como seu pai dizia, ele era nosso alicerce, nossa base, mas hoje minha base é você. Infelizmente você não vai ter um pai velhinho, mas eu quero te dizer que todos os dias eu dobro meus joelhos e peço a Deus para que ele possa te dar a oportunidade de te dar uma mãe velhinha", desabafou a viúva de Luciano.

"Enquanto eu existir, você não estará só. Eu vou fazer o papel do seu pai se ele estivesse aqui faria. Ele sempre falava "o meu filho vai ser um homem de bem', então eu vou honrar e onde o Duda estiver, ele vai ficar feliz de nós", disse Luciana em homenagem ao filho Davi de 9 anos que viu o próprio pai ser morto pelos militares.

No dia 7 de abril de 2019, Evaldo ia de carro com a família para um chá de bebê quando o veículo foi alvejado em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, por centenas de disparos efetuados pelos militares. O músico foi atingido por nove tiros, e seu carro, por 62 —ao todo foram 257 disparos de fuzil e pistola.

Dentro do carro do músico, também estavam o sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo, 59 —que foi atingido de raspão e sobreviveu, Luciana, o filho do casal —então com 7 anos— e uma amiga da família.

O catador Luciano Macedo viu a cena e tentou ajudar a família, mas também acabou sendo baleado. Ele foi socorrido, mas morreu 11 dias após o crime.

Luciana agradeceu a imprensa e o apoio dado ao caso dela durante os últimos dois anos: "Muitas vezes não fui otimista, achava que isso aqui não ia dar em nada. Quero agradecer pelo carinho de vocês. Vocês podem imaginar a minha dor, mas só quem sabe mesmo é quem vive. Eu vivi, sobrevivi, graças ao meu bom Deus meu filho sobreviveu, minha amiga e meu padrasto. Então eu só tenho a agradecer a Deus", desabafou.

Sobre a decisão final da juíza, a técnica de enfermagem definiu a pena dos militares como justa: "Diria para você que eu não acharia justo se eu saísse daqui com uma resposta negativa. Achei justo porque a justiça está sendo feita, para eu honrar o nome do meu marido que era um homem de bem", afirmou.