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Pai diz que acusação de furto pela Centauro em SP foi motivada por racismo

Divulgação
Imagem: Divulgação

Do UOL, em Brasília

15/11/2021 11h47Atualizada em 16/11/2021 12h33

Um adolescente negro de 15 anos foi acusado de ter furtado um relógio da Centauro por um funcionário da loja no shopping Center Norte, em São Paulo, num ato de racismo, afirmou o pai dele em boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil.

A natureza do caso foi registrada como sendo de preconceito racial pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância.

Procurada pelo UOL desde sábado (13) por email e telefone para um posicionamento, a Centauro informou hoje que "está apurando os fatos com prioridade e com a profundidade que o caso exige".

"A abordagem relatada não é prática da companhia e nem reflete o posicionamento e os valores da Centauro, uma empresa que não tolera atos de injustiça ou de discriminação e preconceito", completou, em nota.

No documento da polícia, ao qual o UOL obteve acesso, o pai do adolescente, o motorista José Luís dos Santos Neto, de 51 anos, também negro, afirmou que foi com o filho à Centauro do Center Norte na última quarta-feira (10), por volta das 21h. No estabelecimento, teria percebido que vendedores passaram a olhar "desconfiados" para os dois. Inicialmente, ele teria ignorado a situação, mas, depois, teria chamado o filho para ir embora.

Fora da loja, um funcionário da Centauro foi atrás deles e teria dito que precisava revistar a sacola que o adolescente carregava. Questionado por Santos Neto sobre o motivo do pedido, o funcionário teria acusado o menino de furtar um relógio.

"Seu filho estava ali na mesa de relógios e, assim que ele saiu, sumiu um relógio", teria dito o homem, que também chamou um segurança do shopping, aponta o boletim de ocorrência.

O pai disse que, se o filho estava sendo acusado de furto, só permitiria a revista na presença de uma autoridade policial, consta no boletim. O funcionário então teria voltado para a loja, o que também fez Santos Neto para falar com a gerência da loja. Esta teria reafirmado a versão do funcionário.

O pai do jovem então disse ter insistido em chamar a polícia para proceder com a revista, enquanto os funcionários da Centauro não teriam se empenhado em tomar a providência.

Dessa forma, Santos Neto relatou que ele próprio chamou a Polícia Militar, sendo atendido do lado de fora da loja, sem a presença de um representante da Centauro. Os policiais só teriam conseguido conversar com os funcionários após o fechamento do shopping.

A revista acabou não sendo feita porque "não foi devidamente preservado o local da ocorrência/fatos", teriam dito os policiais a Santos Neto, diz trecho do boletim de ocorrência.

Para a família do adolescente, a abordagem e a suspeita aconteceram devido ao racismo.

No relato do boletim de ocorrência, Santos Neto "informa que se sentiu constrangido e humilhado, principalmente pelo fato de terem acusado seu filho de ter furtado um produto sendo que tal fato não ocorreu, o que deixou o adolescente nervoso e até tremendo no momento, bem como, por terem sido alvo de olhares de desprezo, por todos dentro e fora da loja Centauro, levando as vítimas a entenderem que foram vítimas de um episódio de racismo em razão da cor de sua pele, tendo em vista serem de cor negra".

"Ressalta o declarante que quando voltou para questionar a loja não viu nenhuma outra pessoa dentro da loja de raça negra ou cútis preta", completa.

Mãe quer que Centauro reconheça inocência do jovem

À reportagem, a mãe do adolescente e mulher de Santos Neto, Kamila dos Santos Silva, disse que o episódio é mais um capítulo do racismo estrutural no país. Ela quer que a Centauro reconheça a inocência do filho e relatou ter sido uma semana "muito dura" para a família.

"Até o momento, [os assessores da Centauro] disseram que estavam analisando o caso com a prioridade e gravidade que o caso merecia, que não toleram discriminação e preconceito em nenhuma das redes, mas que o caso estava sendo apurado", afirmou.

Ela acrescentou estar "indignada" com a falta de uma resposta mais concreta, porque eles "já sabem que meu filho não fez aquilo" a partir da análise das câmeras de segurança da loja.

"Eles precisam assumir uma posição. Não tem cabimento o que aconteceu com meu filho ali dentro. [...] Nesse momento, o que quero mostrar é 'filho, olha aqui, a Centauro, os executivos reconhecem que cometeram um erro com você, uma falha grave'. É isso que quero falar para o meu filho, que meu marido veja", disse.

Kamila relatou que o filho e o marido tinham ido ao shopping para comprar roupas para uma festa de 15 anos de uma amiga do jovem, quando resolveram entrar na Centauro. A mulher disse ainda que eram clientes assíduos da Centauro e que, inclusive, no momento da abordagem, o menino estava com camiseta e tênis comprados na rede de artigos esportivos.