Mãe estranha alta de bebê de 2 meses com sarna humana em hospital de SP
Steffany Albuquerque é uma mulher resiliente. Aos 25 anos, ela, que chegou a completar apenas o ensino fundamental, é mãe de 4 crianças, incluindo um bebê de apenas 2 meses. Todos com feridas pelo corpo causados pela sarna humana. O bebê chegou a precisar de internação devido à gravidade das feridas, como o UOL revelou em matéria publicada na manhã de hoje. Também hoje, a mãe foi avisada que ele havia "recebido alta" do hospital.
Steffany estranhou o comunicado feito pela médica plantonista que trabalhava no turno da manhã neste sábado no Centro de Referência em Emergência e Internação (CREI), em São Vicente, onde o bebê estava internado. Ontem mesmo, ela havia sido informada pela plantonista anterior de que o quadro do menino estava evoluindo bem, mas que ele precisaria permanecer em atendimento hospitalar por no mínimo 7 dias.
O bebê havia sido internado na terça-feira (16), após passar por uma consulta particular com uma pediatra, conseguida com muito esforço e ajuda voluntária. Isso ocorreu após ela ter sido enviada para casa depois de ser atendida numa unidade de saúde próximo ao bairro da Vila Sônia, na Praia Grande, onde reside em um apartamento num conjunto habitacional com os filhos, os pais e mais dois parentes. Todos contaminados pelo ácaro causador da sarna humana.
Steffany já estava com a doença quando engravidou e diz que passou muitas noites chorando, pensando em como seria se o bebê também adoecesse. Três dias após o nascimento, as primeiras manchinhas começaram a aparecer nos braços da criança. Desde então, ela vem procurando
"Eles não queriam internar o meu bebê em Praia Grande. A médica dizia que eu podia cuidar em casa. Mas além de ser difícil cuidar dessa doença em casa, tem os remédios, as pomadas, loções que a gente não tem dinheiro para comprar. O que a gente consegue no posto, quando consegue, não dá para dividir com 9 pessoas", explica. "'Se ele piorar, traz ele de volta', ouvi da médica do posto. Só que ele não tinha o que piorar. Ele tinha a cabeça e o corpo inteiro em carne viva".
Foi quando ela procurou a médica particular, que lhe aconselhou a buscar socorro hospitalar o mais rápido possível. Havia preocupação com as condições do bebê, pois a sarna humana, combinada a infecções cutâneas como o impetigo, poderia implicar em problemas sérios de saúde.
"Liguei para todo mundo que eu conhecia. Falei com a Patrícia, do PG Invisível, ela ligou para os médicos que ela conhece, até que no dia 16 conseguimos um atendimento no CREI de São Vicente. Eu estava desesperada. Eu também estou doente. Tenho marcas no corpo todo, feridas nas mãos. Não consigo amamentar meu bebê. Isso é uma dor que nem tenho como descrever e eu não podia deixar meu filho nessas condições. Assim que soube que tinha vaga em outra cidade, eu aceitei. A prefeitura da Praia Grande disse que eu faltei numa data marcada. Só que eu já estava com o meu bebê internado em outra cidade quando me procuraram".
Antibióticos injetáveis
Desde terça-feira, quando enfim conseguiu a hospitalização da criança, ela vem passando as noites junto com o filho, que tem necessitado de antibióticos injetáveis para combater infecções oportunistas,
Nesse tempo, apesar da proibição médica, ela está tendo que amamentá-lo com leite materno. Isso representa dois problemas. O primeiro é que o ciclo de contaminação entre mãe e filho nunca termina. O segundo e, não menos importante, é a dor insuportável da sucção que o bebê faz a cada mamada em seu seio repleto de feridas.
"Ela sente muita dor, quem é mãe e acompanha consegue ver em seu rosto a expressão da dor a cada sugada", afirmou ao UOL a empresária Patrícia Ogna Pratali, gestora do perfil PG Invisível (@pginvisivel, no Instagram), espaço criado com o intuito de ajudar as famílias carentes de Praia Grande. "E agora ainda colocam ela de volta para casa? Com o bebê em feridas? Eu esperava um pouco mais de comprometimento do poder público. Isso que estão fazendo com essas pessoas com sarna aqui no litoral é um absurdo".
Patrícia avisa que está arrecadando doações, por meio de sua página, para ajudar Steffany a comprar fraldas e leite em pó para o bebê e as outras crianças. "Quem puder nos ajudar, até mesmo com atendimento médico, é só nos procurar no Instagram".
Stéffany contou que a médica que a alertou sobre a alta na manhã de hoje disse que o bebê estava melhor e que não poderia ficar mais na unidade. E que ela tratasse dele em casa. "Foi uma surpresa para mim. Eu não esperava. A médica anterior tinha dito que ele precisava ficar no mínimo até a próxima terça-feira. Ele está melhorando mesmo, mas como é que eu vou dar um antibiótico se ele precisar? Justo agora que ele estava melhorando isso acontece?".
De carona para casa
Para voltar para casa, mãe e bebê precisaram da colaboração de voluntários. Um casal que aguardava por atendimento no CREI se ofereceu para levá-los até o conjunto habitacional da Vila Sonia. "Eu estou sem um real no bolso ou na conta. Não tinha nem como voltar para casa, se não fosse a ajuda do casal".
Por volta das 18h30 de hoje, Stefanny conseguiu outra carona para levar o filho ao Hospital Irmã Dulce, na cidade onde mora. Ela espera conseguir a internação que, na sua opinião, vai ajudar a salvar o seu filho. "Eu não vou sair do hospital enquanto eles não olharem para o meu bebê e admitirem que ele precisa ser internado. Ele não merece sentir todos os dias que está sendo queimado vivo. Pois é essa a sensação dessa doença. Ser queimado vivo todos os dias".
O que diz a prefeitura
A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria da Saúde (Sesau), informou ao UOL que o bebê deu entrada na Pediatria do Hospital Municipal de São Vicente, no dia 16/11, com diagnóstico de escabiose infectada.
"A criança chegou com lesão de pele importante e o pediatra de plantão iniciou antibioterapia", afirmou a Sesau, na nota. "Neste sábado (20), a criança foi avaliada mais uma vez pela profissional plantonista, que deu alta médica, com receita de medicação e orientações", conclui.
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