Filha reencontra pai em MT após 40 anos separados e o leva para morar em PE
Quatro décadas se passaram sem contato ou qualquer notícia, mas a esperança do reencontro nunca foi perdida. Foi desta forma que a intérprete de libras Ana Paula da Silva Nascimento, de 44 anos, viveu por quatro décadas sem saber onde estava o pai dela, Paulo José do Nascimento, de 67.
Ana Paula e o irmão, Ângelo Nascimento, atualmente com 42 anos, voltaram ainda na infância com a mãe de Ribeirão Preto (SP) para Pernambuco, na década de 1980, e nunca mais viram o pai, que ficou em São Paulo. Exatos 40 anos depois, Ana Paula o localizou no município de Cocalinho (MT) e, agora, ambos moram juntos em Jaboatão dos Guararapes (PE), região metropolitana do Recife.
O reencontro ocorreu depois que ela, no ano passado, decidiu procurar por Paulo José, mesmo com a incerteza de que o pai estivesse vivo e nenhuma pista de onde estaria morando.
Ana Paula iniciou as buscas pela internet e teve ajuda de um amigo policial civil em Pernambuco, que localizou um homem com o mesmo nome em Mato Grosso. Depois, pediu auxílio a um primo, que é policial no Distrito Federal. Ele repassou a situação para o setor de investigação da delegacia de Barra do Garças (MT), cidade próxima de onde o endereço apontava no registro.
Em pouco tempo, os investigadores não só localizaram Paulo José, como foram até a sua casa e o informaram que a filha o procurava. Inicialmente, o homem negou ter filhos, mas depois admitiu.
Ana Paula revela que chegou a pensar em desistir do contato com o pai, mas acabou incentivada pelos policiais a permanecer tentando. Ambos se falaram pela primeira vez em 25 de abril deste ano e desde então passaram a estreitar o laço familiar.
"Falei com meu pai pela primeira vez em uma chamada de vídeo feita por um dos investigadores da polícia, insistiu em convencer meu pai em falar comigo. Depois daquele dia, nossa vida não foi mais a mesma. Em maio, viajei de Pernambuco para Mato Grosso para reencontrá-lo. Voltei pensando como ficaríamos longe um do outro, mas agora ele mora comigo. Estamos vivendo os dias mais felizes das nossas vidas", conta Ana Paula.
A perda de contato e reencontro
A intérprete de libras e o irmão perderam contato com o pai em 1980. Ana Paula tinha três anos e o caçula, dois. A família morava em Ribeirão Preto (SP), mas os pais acabaram se separando naquele ano.
Com problemas financeiros, a mãe dela, que já é falecida há 13 anos, decidiu voltar para Pernambuco com os filhos. Paulo José ainda chegou a mandar duas cartas no ano do divórcio, mas depois perdeu o contato. Décadas depois, Ana Paula diz não guardar mágoas.
"Não importa o que se passou nesse tempo, o que levou meu pai a perder contato conosco. Estamos vivendo o hoje, com o amor que sempre existiu um pelo outro. É tanta coisa para a gente conviver. Nossa rotina se resume a carinho, companheirismo, dedicação e cuidados", relata.
Ana Paula e o pai se reencontraram pessoalmente em maio. Meses depois, em agosto, enfrentaram uma viagem longa de ônibus entre Mato Grosso e Pernambuco para finalmente morarem juntos.
"Foram quatro dias e três noites de viagem e afirmo que faria tudo de novo. Temos uma missão a ser cumprida", afirma.
Ao chegar a Pernambuco, Paulo José soube que tem uma família completa e já é bisavô. O filho Ângelo tem uma filha, de 18 anos, e é avô de uma menina, de dois anos, e de um menino de um ano.
"Depois de passarmos oito dias em quarentena e, graças a Deus, não termos nos infectado com o novo coronavírus durante a viagem, pudemos ter contato com o restante da família. A neta e os bisnetos vieram conhecê-lo. Duas irmãs do meu pai e uma sobrinha dele também o visitaram. Mas, devido às restrições da pandemia, não estamos recebendo muitas visitas e saímos somente para o necessário", relata Ana Paula, enquanto o pai estava assistindo a um filme na televisão.
"Ele ama ver os de ação, com muito tiro, mas também adora novelas. Nossa convivência é excelente, pois somos muito parecidos. Ele é muito reservado e caseiro, não se acostumou com a agitação do Recife. Nos preocupamos um com o outro. Nos fins de semana, meu irmão vem para cá e eles ficam horas tocando violão", acrescenta.
A busca
Ana Paula conta que resolveu procurar o paradeiro do pai após mais de uma década da morte da mãe e quatro anos depois do falecimento do padrasto. Ela começou a busca ao entrar em um grupo na internet, que auxilia na procura por pessoas desaparecidas. Colocou o nome do pai e dos avós paternos. Depois de cinco meses, fez outra publicação. Foi quando uma pessoa apareceu dizendo que poderia ajudá-la.
"Essa pessoa conseguiu a situação eleitoral dele e o CPF. Com essas informações, repassei para um amigo que é policial. Ele encontrou uma folha de dados do ano de 2001, que seriam supostamente do meu pai, com endereço, cor negro, nome dos pais, e tinha um telefone, mas o número não funcionou. Eu tinha certeza que ali era um ponto de partida para encontrá-lo", explica.
Ela contou a um primo que trabalha na Polícia Civil do Distrito Federal, que repassou para investigadores da delegacia de Barra do Garças (MT). O pai de Ana Paula foi localizado a 339 km, em Cocalinho, morando com um enteado.
A companheira dele faleceu no ano passado. Ana Paula disse que o pai contou ter sobrevivido nesses 40 anos tocando violão e de pintura de imóveis até chegar a Mato Grosso.
"Quando o policial foi falar com ele, acabou negando. Disse que não conhecia ninguém. Eu não acreditei nessa resposta porque meu coração já sabia que era ele e que não era para eu desistir sem ter uma foto, uma prova. Até pensei em desistir, mas fui incentivada por outro investigador. Ele disse que pessoas desaparecidas quando são encontradas geralmente têm essa reação. O policial voltou lá insistindo e eu segui o que meu coração dizia: 'não desista, a sua missão só vai terminar quando você olhar para ele'", descreve.
Em uma das vezes quando Paulo viajou para Jales (SP) para continuar o tratamento do câncer que enfrenta, a filha conseguiu contato com o Hospital do Amor e ele aceitou falar com a filha.
Logo depois da ligação, a felicidade era tamanha que ele contou para todos os colegas da enfermaria que a filha havia o encontrado depois de 40 anos.
"Foi emocionante. É uma sensação inexplicável e de emoção forte. Foi um dos momentos inesquecíveis", diz.
Tratamento
Paulo José enfrenta um câncer na boca e garganta e está em tratamento no Hospital do Câncer de Pernambuco, no Recife. Quando estava em Mato Grosso, quis abandonar o tratamento, mas depois que chegou à capital pernambucana, a filha logo conseguiu uma triagem na unidade. Ele está no terceiro ciclo de seis sessões de quimioterapia, que está se submetendo a cada 21 dias.
"Quando reencontrei meu pai, passamos quatro dias juntos, e foram parte dos dias mais felizes que já vivi, apesar de ter sido por pouco tempo, pois ele precisou ir para Jales se tratar. Ele Ficava indo para lá e voltava para Cocalinho, logo depois sofreu um AVC (acidente vascular cerebral). Em agosto, decidi trazê-lo para morar comigo em Pernambuco", diz.
"Quero viver o hoje daqui para frente, resgatar a memória e construir uma nova história, pois todos os dias temos oportunidades de fazer e realizar", afirma.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.