Homem com 300 kg luta por cirurgia após ouvir de médico: 'Não passa dos 30'
Carlos Willian dos Santos já tentou de tudo para emagrecer: dieta, reeducação alimentar com nutricionista, exercícios físicos. Mas nada fez com que o vendedor autônomo consegua eliminar o peso que precisa. Hoje, aos 28 anos, ele pesa aproximadamente 300 kg, tem problemas sérios de saúde e luta para conseguir realizar um sonho do qual pode depender a sua própria vida: conseguir uma cirurgia bariátrica.
Morador de São Vicente, no litoral de São Paulo, Santos enfrenta uma batalha que teve início quando tinha entre 17 e 18 anos. Apesar de sempre ter sido uma criança gorda, foi quando estava saindo da adolescência que os problemas mais sérios começaram a aparecer. Ele já estava sendo atendido por uma equipe médica multidisciplinar, à qual o plano de saúde do pai dava direito. Mas foi considerado, à época, jovem demais para o procedimento.
Eu queria ter feito quando a gente tinha plano de saúde. Mas os médicos achavam que eu era jovem demais. A partir daí tentei de tudo, tudo mesmo, mas não perdia peso. Eu trabalhava vendendo iogurte, empurrava um carrinho com mais de 200 kg pelas ruas de São Vicente, das 6h às 18h. Mesmo assim, não perdi nem um quilo.
Há cerca de 5 anos, os problemas aumentaram. Além da obesidade, Santos sofre de baixa imunidade no organismo, o que fez com que desenvolvesse psoríase, uma doença de pele. Um dia, durante um verão muito quente, ele passou muito mal em casa.
"Eu tive uma forte pressão no peito, uma falta de ar que não me deixava respirar", contou ele, ao UOL. Ao procurar o pronto-socorro, descobriu que havia sofrido um edema pulmonar. Os exames demonstraram que os pulmões estavam cheios de líquido.
"Foi quando o médico me chamou para dizer o que estava acontecendo. Ele me explicou que o meu corpo já não estava mais suportando o excesso de peso. 'Você não passa dos 30 anos se continuar assim', o médico disse para mim. Eu tinha que fazer alguma coisa. Eu tinha que emagrecer para continuar vivo".
O vendedor conta que ficou muito desiludido aos 18 anos, quando os médicos se recusaram a fazer a cirurgia, apesar dos meses que ele passou se preparando. Mas o susto com a ida repentina ao hospital o fez repensar sobre o que deveria fazer. E, dessa vez, sem poder contar com o plano de saúde.
Meu pai é motorista de caminhão e carretos. É ele quem me ajuda em tudo. Mas em março deste ano, ele sofreu um acidente de moto e está com metade do salário que recebia. Eu, do jeito que estou, não consigo mais trabalhar. Estamos sem plano também, o que dificulta tudo ainda mais.
'Jogo de empurra'
Santos conta que reuniu forças para buscar atendimento pelo SUS. Porém, ele conta que por várias vezes a UBS (unidade básica de saúde municipal) perto de sua residência, em São Vicente, o encaminhou para um AME (Ambulatório de Especialidades Médicas), que pertence ao Estado.
O AME pediu que fosse ao Hospital Guilherme Álvaro, também sob os cuidados do Governo do Estado. O hospital, por sua vez, alegou que não tinha condições de realizar esse tipo de cirurgia e recomendou que o jovem retornasse à UBS. "Era um verdadeiro jogo de empurra", comentou.
Há cerca de um ano ele conseguiu com que uma assistente social conversasse com a médica endocrinologista do AME para agendar o procedimento para ele. Após ser avaliado novamente, a médica assinou uma guia sugerindo a realização da cirurgia no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
"Por conta da pandemia, pediram que eu aguardasse um pouco para ser chamado. Só que o tempo foi passando e até agora não recebi nenhuma informação. Mesmo com uma dieta rigorosa, praticamente só como peito de frango grelhado, arroz e feijão e salada, estou piorando, tomo remédio para pressão, para o sistema circulatório e antidepressivo para poder aguentar. Nem consigo saber meu peso direito, as balanças das unidades de saúde não mensuram".
Hoje, Santos sofre com dores na coluna, joelho e não consegue mais caminhar longas distâncias. Tampouco consegue subir num ônibus e os motoristas de aplicativo muitas vezes rejeitam suas corridas. Ele já pensou em solicitar ajuda à Justiça e lançou uma vaquinha online para ajudar a levantar os custos de uma cirurgia particular, que pode salvar sua vida.
Eu sinto vergonha em pedir o dinheiro, mas é melhor sentir vergonha do que morrer. Se alguma clínica ou médico pudesse fazer a cirurgia sem cobrar, seria maravilhoso. Não quero morrer. Quero poder ter saúde para trabalhar e ajudar meu pai, que sempre me ajudou a vida toda e agora também precisa de mim.
O que dizem prefeitura e Estado
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde de São Vicente informou que, conforme a regulação municipal, o paciente não comparece à rede de saúde do Município desde 2019, ou seja, não há pedidos para encaminhamento a nenhuma das especialidades citadas.
"Atualmente ele aguarda por uma cirurgia bariátrica e está inserido na Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross), gerenciada pelo Governo do Estado de São Paulo. O município não possui autonomia para interferir no processo de liberação de vagas, ficando a cargo da Secretaria da Saúde do Estado. Atualmente, o paciente realiza tratamento no AME de São Vicente", diz o órgão, na nota.
A Secretaria de Saúde do Estado afirmou que o paciente passou por avaliações no AME de São Vicente nas áreas de endocrinologia, nutrição e cardiologia. O órgão informa que as orientações quanto aos fluxos para a realização da cirurgia foram prestadas ao paciente, que deve buscar o serviço da rede primária, responsável pelo encaminhamento para as próximas etapas de tratamento, conforme prevê o fluxo do SUS.
"É importante deixar claro que a cirurgia bariátrica é realizada somente mediante indicação médica", diz a Secretaria, na nota. "Geralmente, o paciente com obesidade possui restrições e doenças que dificultam a realização das cirurgias, a exemplo de diabetes e hipertensão. Sendo assim, nem todos com indicação médica para cirurgia bariátrica estão efetivamente aptos a fazer o procedimento imediatamente, por questões de quadro clínico geral não favorável. Além disso, há um período comprobatório, no qual o quadro do paciente é analisado para verificar se o procedimento em si é o mais indicado para o paciente."
Ainda segundo a secretaria estadual de Saúde, a demanda é descentralizada na rede primária de saúde ou serviços de origem do atendimento, que são responsáveis por agendar os atendimentos médicos e multiprofissionais preparatórios nas unidades de saúde de referência para cada caso, bem como o acompanhamento do paciente até que o procedimento seja realizado.
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