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Henry: 'Toma rivotril', diz juíza a advogado; bate-bocas marcam audiência

Daniele Dutra e Lola Ferreira

Colaboração para o UOL e do UOL, no Rio

15/12/2021 16h23

O terceiro dia de audiência de instrução e julgamento do Caso Henry foi marcado por bate-bocas entre as defesas dos réus e com a juíza. Em um dos momentos, na tentativa de acalmar os ânimos, a juíza Elizabeth Machado Louro, do 2º Tribunal do Júri, falou para um dos advogados de Monique Medeiros, mãe do menino Henry Borel, que ele tomasse um calmante.

Uma testemunha foi questionada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre a influência da família em Bangu, bairro da zona oeste do Rio. O promotor Fábio Vieira citou um trecho de uma carta de Monique para perguntar a Reinaldo César Pereira, tio de consideração da mãe de Henry, se ele sabia o que a família comandava em Bangu.

"O que eu posso dizer é o seguinte: eles são poderosos. Isso não há dúvida, poderosos politicamente, em uma série de situações. Agora dizer o que eles comandam? Não posso chegar aqui e dizer: 'Ah eles são donos disso ou são comandantes daquilo. Tudo o que eu falo aqui amanhã ou depois pode ser usado contra mim", disse a testemunha.

O advogado do ex-vereador Dr. Jairinho, Braz Sant'Anna, então interrompeu o depoimento dizendo que a testemunha não poderia falar o que achava, e sim o que sabia.

Sem microfone e aos gritos, Thiago Minagé, que faz a defesa de Monique, disse que aquilo era um absurdo, um desrespeito com a testemunha.

"O senhor está nervoso? Mas o senhor não pode ficar gritando aqui não, já está todo mundo nervoso. Se você está nervoso, então toma um rivotril", disse a juíza, fazendo referência a um medicamento usado como calmante.

Um dos advogados pediu para que um funcionário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro trouxesse água para os envolvidos no embate.

Na volta do intervalo, minutos antes de as oitivas retornarem, Thiago Minagé, a juíza Elizabeth Machado Louro e o assistente de acusação de Leniel Borel, pai de Henry, riram da repercussão do bate-boca.

"Acabaram de me mandar o vídeo, tá todo mundo me zoando. A senhora virou meme", disse Minagé à juíza, mostrando o vídeo, de forma descontraída, bem diferente do início da manhã.

Gritaria e dispensa de testemunha de Monique

Outro momento de animosidade entre a juíza e as partes foi quando a psicóloga Elisa Kruger sentou no banco das testemunhas, arrolada pela defesa de Monique. Elisa usa sua conta no Instagram para defender Monique das acusações de omissão diante das agressões.

O promotor e os advogados da acusação questionaram o fato de uma profissional que elaborou um laudo técnico ser convocada a prestar depoimento como testemunha.

Houve gritaria generalizada e dúvidas por parte da juíza sobre a condição em que Elisa iria depor —se como perita ou como testemunha. Elisa defendia que não tinha sigilo de paciente com Monique e que elaborou um laudo independente.

Apesar da insistência do advogado Hugo Novais, da defesa de Monique, Elizabeth decidiu dispensar a testemunha. A decisão aconteceu quando Elisa afirmou que estava vendo Monique pela primeira vez. A juíza entendeu que não havia elementos para a psicóloga ser testemunha de caráter ou de fato e pediu desculpas pelo tempo que levou até a decisão.

Horas antes, o depoimento do Chefe da Polícia Civil, Antenor Lopes, também foi marcado por momentos de tensão no plenário. Os advogados de Monique tentavam mostrar supostas violação no inquérito, que foi concluído na 16ª DP, e não na Delegacia de Homicídios.

A juíza então se irritou com a repetição de perguntas feitas pela defesa de Monique. Em certo momento, ela se exaltou e pediu que o advogado Hugo Novais "avançasse" nos seus questionamentos.

Polícia retira manifestante do Tribunal

O clima também ficou tenso na plateia. Durante o depoimento do delegado Antenor Lopes, diretor-geral de polícia da capital, uma mulher se exaltou na plateia.

Ela bateu nos vidros e tirou fotos, o que é proibido pelo Tribunal de Justiça.

Retirada da sala por policiais militares, a manifestante —que usava uma máscara do presidente Jair Bolsonaro— afirmou à imprensa que discordava da linha de questionamento dos advogados de Monique Medeiros e que estava ali "para fazer justiça por uma criança que não sabe porquê morreu". Ela não quis se identificar.

Mais cedo, ela participou de um protesto em que Monique foi chamada de assassina na porta do Tribunal de Justiça, no centro do Rio.