Topo

Esse conteúdo é antigo

Funerária percebe antes do velório que bebê declarado morto ainda respirava

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL

29/12/2021 14h57Atualizada em 29/12/2021 21h27

Uma gravidez surpresa, um parto inesperado e um bebê vivo após ser declarado morto. A história inusitada ocorreu ontem, em Ariquemes, interior de Rondônia. Uma jovem de 18 anos deu à luz sem saber que estava grávida. No susto e às pressas, a família socorreu o menino em uma unidade de saúde do município, onde foi declarado que ele já havia nascido sem vida.

O "corpo" então foi recolhido por uma casa funerária e, nos últimos preparos antes de o bebê seguir para o sepultamento, um funcionário do local percebeu o coração da criança bater. O menino retornou ao hospital e todos os cuidados médicos foram iniciados.

Segundo a família, o estado de saúde do garoto é considerado estável. Ele nasceu prematuro, com um quilo de peso e no quinto mês de gestação.

Francisco Torquato, o agente funerário que impediu o sepultamento e percebeu o bebê vivo, contou ao UOL que, por volta das 3h de ontem, a funerária onde trabalha foi chamada à Casa de Parto do HMA (Hospital Municipal de Ariquemes) para remover um feto.

Ao chegar à unidade de saúde, Francisco recebeu o "corpo" do menino e um laudo médico que classificava o garoto como um "natimorto", termo técnico para se referir a um feto que morreu e tinha mais de 20 semanas de gestação.

"Eu levei a criança para funerária. Mas o bebê não estava frio, nem tinha mudado de cor. E isso me chamou a atenção. Temos cuidado nesses casos, quando dizem que as crianças nasceram mortas. Fui mexê-lo para arrumar na urna infantil e percebi o coração dele batendo", explicou o profissional ao UOL.

Divulgação/Prefeitura de Ariquemes-RO - Divulgação/Prefeitura de Ariquemes-RO - Divulgação/Prefeitura de Ariquemes-RO
Casa de Parto, em Ariquemes (RO)
Imagem: Divulgação/Prefeitura de Ariquemes-RO

A partir da observação, uma correria no local foi iniciada. Francisco avisou ao dono da funerária e, em seguida, o bebê foi socorrido na emergência do HMA.

"Chegou lá, constataram que ele estava vivo e já convocaram a equipe de urgência. Arrumaram logo uma UTI [Unidade de Terapia Intensiva] para o bebê e correram para prestar atendimento", acrescentou.

O agente funerário trabalha no segmento há 21 anos, mas nunca havia presenciado um fato tão inusitado.

"Já vi várias coisas, mas essa foi impressionante. Eu tenho filhos, então para mim se tornou um susto e um alívio muito grande ter salvado essa criança. Isso só aconteceu porque a gente trata as pessoas que vem para cá com muita atenção e respeito", disse.

Gestação surpresa

Em contato com a reportagem, a avó materna da criança disse que toda a família se surpreendeu com o parto.

"Para a minha filha também foi uma surpresa, pois estava tomando anticoncepcional, a menstruação chegava todos os meses normalmente e a barriga não estava grande", disse a avó, que preferiu não se identificar.

Antes de dar à luz, a jovem apresentou dores e um sangramento. Ela foi levada a uma UPA, onde receitaram remédio e a liberaram para retornar para casa por duas vezes.

"Aplicaram remédio para dor na minha filha, mas não passou. Enquanto a gente deixava nossa casa para voltar ao hospital, porque as dores aumentaram, meu neto nasceu. Foi aquela surpresa. Peguei uma toalha, o enrolei e fomos para maternidade. Mas quando chegamos lá disseram que meu neto estava sem sinais vitais", detalhou a avó do bebê.

Diagnóstico equivocado

A Casa de Parto funciona no mesmo prédio do HMA. A equipe plantonista da maternidade atestou que o bebê nasceu sem vida. Já a emergência do hospital confirmou que o bebê estava vivo após recebê-lo de volta da funerária.

A avó do garoto acredita em negligência e registrou o caso na Delegacia de Ariquemes. A Polícia Civil investigará o caso.

"Disseram que meu neto estava morto e pronto. Não vi um exame mais aprofundado ou uma tentativa de reanimação. Nem deram muita atenção. Eu espero que a justiça seja feita porque isso é um caso de negligência", criticou.

O UOL procurou a Prefeitura de Ariquemes, responsável pelas unidades de saúde. Por meio de nota, o órgão disse que se solidariza com a família do recém-nascido e que está disponibilizando todo o suporte hospitalar para o tratamento da criança.

Sobre o diagnóstico equivocado na Casa de Parto, a gestão municipal informou que já instaurou um processo administrativo "para investigar, com absoluto rigor e cautela, os fatos e as responsabilidades dos envolvidos no caso".