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Maceió: 2 mil casas começam a ser demolidas em área afundada por mineração

Casa é demolida no bairro do Mutange, bairro de Maceió onde o solo sofreu afundamento após mineração iniciada nos anos 1970 - Divulgação
Casa é demolida no bairro do Mutange, bairro de Maceió onde o solo sofreu afundamento após mineração iniciada nos anos 1970 Imagem: Divulgação

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

07/01/2022 04h00Atualizada em 07/01/2022 23h50

Dois mil imóveis que estão em uma das áreas afetadas de afundamento do solo, em Maceió, devido à exploração do minério sal-gema iniciada na década de 1970 pela Braskem, começaram a ser demolidos nesta quinta-feira (6). Os imóveis ficam localizados nas encostas do bairro do Mutange, abaixo do Pinheiro, e correspondem a uma área de 200 mil m².

Desde 2018, Maceió sofre impactos com o afundamento do solo, que iniciou no bairro do Pinheiro e se estendeu aos bairros adjacentes, como Mutange, Bom Parto, Farol, Sanatório e Bebedouro. O Serviço Geológico Brasileiro, após mais de um ano de estudos, apontou que o problema foi causado pelas quatro décadas de atividade de mineração da empresa, que operou 35 poços, resultando na desestabilização de cavidades no solo e na movimentação da camada de sal.

Todos os imóveis já foram desocupados após a Defesa Civil avaliar os riscos iminentes de desabamento, por apresentarem rachaduras e outros problemas que comprometeram as edificações. Moradores dessas áreas estão recebendo aluguel social ou já receberam indenizações para compra de outros imóveis.

Segundo a Braskem, 14.419 imóveis foram registrados no Programa de Compensação Financeira, por estarem localizados nas áreas de desocupação e monitoramento — a previsão é todos sejam demolidos após a realização de novos estudos. Do total, ainda há 415 imóveis ocupados —ou seja, 97% foram desocupados preventivamente.

Mapa encosta Mutange -  -

A ex-moradora do Mutange Fabiana Maria da Silva, 35, saiu da área há cerca de seis meses depois que a casa dela, que tinha sala, dois quartos, banheiro e cozinha, apresentou rachaduras nas paredes. Fabiana recebe aluguel social no valor de R$ 1.000.

"A casa não tinha documentação, eu só tinha o recibo de compra e venda porque o terreno não era legal. Mas, não podíamos mais ficar ali. Teve noites de eu passar acordada com medo. Tenho cinco filhos, ainda moravam comigo minha irmã e dois sobrinhos e meu companheiro", diz ela, que relata ainda a tristeza de todos na família toda por serem obrigados a sair do local onde residiam havia 15 anos.

Agora, a família reside em uma pequena casa no bairro do Tabuleiro, mas pensa em voltar a morar no interior do estado, pois tirava parte do sustento da lagoa Mundaú.

A mistura [peixe] a gente conseguia na lagoa. Agora não temos mais e ficou longe para irmos pescar. A situação piorou e penso que devemos voltar para o interior para trabalhar na roça"
Fabiana Maria da Silva, ex-moradora do Mutange

A obra demolição faz parte do projeto de estabilização e drenagem da encosta do Mutange e está prevista no Termo de Acordo Socioambiental firmado entre a Braskem, o MPF (Ministério Público Federal) e o MP-AL (Ministério Público Estadual de Alagoas), ocorrido em dezembro de 2020.

Obras encosta Mutange -  -

Como será a demolição

As obras estão divididas em quatro etapas na área de 200 mil m². A previsão de conclusão do trabalho é para o final de 2022.

"A primeira é a demolição de aproximadamente 2.000 imóveis; em seguida, vêm as obras de terraplenagem para suavizar as inclinações do terreno e a construção de um sistema de drenagem que proporcionará o direcionamento seguro da água das chuvas; a quarta e última etapa é o plantio de cobertura vegetal, ampliando, assim, a área verde de Maceió", informou a Braskem.

Os trabalhos de demolição ocorrerão inicialmente na parte mais plana e tem cerca de 74 mil m². A região tem aproximadamente de 227 imóveis localizados ao longo da avenida Major Cícero de Góes Monteiro, na base da encosta do Mutange. "Na sequência, será realizada a demolição das edificações localizadas nas áreas íngremes", disse a Braskem.

Os restos das demolições deverão ser doados a órgãos públicos e cooperativas de reciclagem que estiverem interessadas para serem reutilizados na construção civil, como em aterros, pavimentação e composição de argamassa.

Setenta operários trabalham nesta parte inicial da demolição, mas a previsão da empresa é que mais 200 profissionais atuem no pico da obra. A avenida Major Cícero de Góes Monteiro, que liga o bairro de Bebedouro ao bairro da Cambona e centro da cidade, está interditada devido ao risco de desabamento da encosta há mais de seis meses. Apenas pessoas autorizadas têm acesso ao local.

Na encosta do Mutange será instalado um sistema de monitoramento para dar segurança na realização do projeto e eficácia das obras de engenharia.

"Esse sistema será composto por 35 piezômetros, 15 inclinômetros, e um conjunto de marcos topográficos superficiais e de profundidade e, ainda, uma estação Meteorológica para fazer o monitoramento climático", explicou a indústria. Os dados e outras medições serão usados nas análises de estabilidade da região.

Indenização

Dados apresentados no dia 13 de dezembro apontam que 89% das famílias da chamada área 1 já foram realocadas. Essas famílias podem se mudar depois de receber a compensação financeira ou esperar até dezembro de 2022, o que vier primeiro.

"Todos os moradores e comerciantes das zonas A, B e C e da área de resguardo já se mudaram. Nas zonas D, E, F e G o percentual de realocação está em 99%", informou a indústria.

A Braskem informou que 11.875 propostas de compensação financeira foram apresentadas aos moradores, empresários e comerciantes das áreas de desocupação causadas pelo afundamento do solo e de monitoramento do problema. Foram aceitas 10.287 propostas e 9.084 indenizações foram pagas a moradores, empresários e comerciantes.

"A média de apresentação de propostas é de 700 por mês e o índice de aceitação geral é de 99,6%, com apenas 47 recusadas. O valor pago até o momento em indenizações, auxílios financeiros e honorários de advogados supera R$ 1,9 bilhão", informou a Braskem.

O número difere do total de propostas e acordos fechados porque existem o tempo de moradores analisarem as propostas e outros que solicitaram reanálise de valores.

De todas as propostas apresentadas desde o início do Programa, em dezembro de 2019, apenas 42 foram recusadas. O índice de aceitação permanece em 99,6%. A Braskem já concluiu o pagamento de 8.373 indenizações que, somadas aos auxílios financeiros e honorários de advogados, totalizam R$ 1,8 bilhão"
Nota da Braskem, com dados referentes até 13 de dezembro

Os dados das negociações são fechados mensalmente, divulgados no relatório mensal de acompanhamento apresentado às autoridades.e estão disponíveis para consulta no site www.braskem.com/alagoas.

Os dados apontaram ainda que 2.743 propostas para comerciantes e empresários foram apresentadas, mas 1.820 compensações foram pagas.