Topo

Esse conteúdo é antigo

Mãe de jovem surdo encontrado no DF se despede do filho: 'Coração cortado'

Jean Costa Rodrigues da Silva desapareceu em junho de 2020 e foi localizado há pouco mais de uma semana, no DF  - Arquivo Pessoal
Jean Costa Rodrigues da Silva desapareceu em junho de 2020 e foi localizado há pouco mais de uma semana, no DF Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

24/01/2022 12h38Atualizada em 24/01/2022 12h38

A mãe de Jean Costa Rodrigues da Silva, 28, está em busca de um novo abrigo para o filho, localizado há pouco mais de uma semana depois de quase dois anos desaparecido. Maria Celina, que mora em São Paulo, inicia hoje a volta do Distrito Federal, onde reencontrou o rapaz que vivia em situação de rua.

A família do paulistano não tinha notícias de seu paradeiro desde junho de 2020, quando ele saiu da casa do pai em Pirituba (SP), deixando apenas um bilhete avisando que entraria em contato com os parentes quando estivesse bem. Meses antes de sumir, Jean foi diagnosticado com depressão,

Apesar da felicidade por voltar a ter notícias do filho, a mãe de Jean destaca que está de "coração cortado" por deixá-lo para trás, principalmente em meio às preocupações sobre a segurança do abrigo em que ele está instalado.

Segundo Maria Celina, ele foi transferido de uma UPA para um abrigo público no sábado (22). O lugar oferece apenas comida e deixa as portas abertas para que as pessoas instaladas possam ir embora, mesmo que elas apresentem problemas de saúde mental, como é o caso de Jean, que também tem deficiência auditiva.

"Eu e a professora de Libras o internamos no sábado. Só que esse abrigo é aberto. Deixaram bem claro pra gente: 'Olha, mãe, aqui ele sai, vai pra rua, a única coisa que ele tem aqui é alimentação. Ninguém pode segurar ninguém. Se ele quiser ir embora, ele vai e ninguém vai atrás dele", detalhou a mulher em entrevista ao UOL, na manhã de hoje.

Maria Celina conta que enfrentou restrições médicas para estar ao lado do filho nos últimos dias, já que passou por uma cirurgia há poucas semanas e foi aconselhada a manter distância de ambientes com potencial de alta circulação do vírus, como o da Unidade de Pronto Atendimento.

Ela afirma que seu maior objetivo no momento, mesmo com a exposição ao risco, é conseguir cuidar do filho, lamentando ter que voltar a São Paulo para continuar seu próprio tratamento médico.

Eu estou indo com essa angústia, com essa saudade. Porque eu passei quase dois anos sem saber onde estava meu filho. Ele quer esse tratamento para ficar bom e voltar com a rotina dele. Eu quero cuidar do meu filho, quero voltar à minha vida normal. Eu me larguei, não cuido mais nem de mim, mas agora eu vou me levantar e cuidar de mim e do meu filho.
Maria Celina

Em meio à busca por ajuda para o filho, a mãe de Jean enfrentou mais uma dificuldade: durante a mudança do rapaz para o abrigo, ela acabou perdendo a carteira, com todos os documentos pessoais dentro. Ainda assim, ela destaca que sua maior adversidade é o medo de voltar a perder contato com o filho.

"Eu estou viajando com o meu coração cortado, porque eu já encontrei o meu filho, já enfrentei mil dificuldades para vir até ele, achar ele, estar junto dele e acontecer isso? Eu quero ajuda para arrumar uma clínica, um tratamento para o meu filho em São Paulo, pra fazer a transferência dele, porque ele quer se tratar, ele falou pra mim, deixou bem claro que ele quer se tratar", concluiu.

Lembre o caso

Em depoimento ao UOL, na semana passada, Maria Celina contou que Jean foi localizado pela primeira vez ao passar mal no sábado, 15 de janeiro, sendo levado ao Hospital Alvorada, unidade de saúde particular na capital brasileira. Lá, a mãe do rapaz foi avisada sobre seu paradeiro, após quase dois anos sem notícias do filho.

Mas o final feliz foi ameaçado quando Jean recebeu alta da instituição mesmo sob os pedidos da mãe para que ele fosse mantido na internação até sua chegada. Maria só voltou a localizar o rapaz na terça-feira (18), depois que ele voltou a ser hospitalizado com um forte episódio de dor de cabeça. Desde então, ele estava em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), aguardando a chegada da mulher.

Poucos meses antes, ele havia sido diagnosticado com depressão e decidiu sair da casa da mãe, que criou o filho sozinha desde a infância. Segundo ela, o filho começou a desenvolver os sintomas da doença depois que sua ex-noiva terminou o relacionamento, pouco depois do nascimento da filha do então casal, decidindo não manter contato com ele.

Antes do episódio, ele sempre havia se comportado como um "filho nota 10", de acordo com a descrição de Maria Celina. Jean se formou na faculdade, trabalhou na área administrativa de grandes empresas e chegou até mesmo a morar nos Estados Unidos, jornada alterada pelos problemas psicológicos.