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'Foi o destino': idosos se conhecem em asilo, namoram e se casam em SP

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

31/01/2022 16h55

Os aposentados Manoel dos Santos, de 70 anos, e Maria Luiza Lemes dos Santos, de 63 anos, não imaginavam que sua ida para um asilo seria o caminho para que pudessem realizar o maior sonho de suas vidas: o casamento. Solteiros, eles se conheceram em um lar para idosos na cidade de Pilar do Sul, no interior de São Paulo, apaixonaram-se e, após algumas semanas de namoro, oficializaram o matrimônio em um cartório da cidade.

Manoel e Maria Luiza assinam o livro de registros do cartório para oficializar o matrimônio - Maurício Soares/Divulgação - Maurício Soares/Divulgação
Manoel e Maria Luiza assinam o livro de registros do cartório para oficializar o matrimônio
Imagem: Maurício Soares/Divulgação

Manoel vive no lar mantido pela Associação Beneficente Bom Jesus desde 2002.Ele era ajudante de caminhão e morava com os pais até que sofreu um acidente aos 50 anos de idade. Ele estava parado com sua bicicleta em uma rua da cidade, junto à guia, quando foi atropelado por um caminhão. Sua perna esquerda foi esmagada e os médicos tiveram que amputá-la.

Pouco tempo depois, os pais morreram e seus irmãos não tinham condições de ajudá-lo. Foi assim que ele acabou sendo encaminhado ao asilo. Vinte anos se passaram até que ele conhecesse o amor. Ele se recorda com clareza do primeiro dia em que viu Maria Luiza, em sua chegada ao lar de idosos, em agosto do ano passado.

"Ela estava sentada numa cadeira de rodas, mas ela era tão bonitinha, que eu fiquei de olho nela. Ela chegou um pouco assustada, preocupada. Que nem eu quando cheguei também. Daí fomos conversando, conversando?um mês depois eu resolvi pedir ela em namoro e, depois pedi a mão dela em casamento", contou o idoso ao UOL.

Após alguns meses de namoro, Manoel pede a mão de Maria Luiza em casamento durante passeio em uma praça de Pilar do Sul - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Após alguns meses de namoro, Manoel pede a mão de Maria Luiza em casamento durante passeio em uma praça de Pilar do Sul
Imagem: Arquivo Pessoal

Assim como Manoel, Maria Luiza também tem problemas em se locomover. Vítima da paralisia infantil, ela piorou do quadro aos 14 anos, após fazer uma doação de medula para o irmão. Ela morava com os pais e, assim como Manoel, foi para o asilo após a morte deles.

"Eu não imaginava que fosse conhecer justo aqui o amor da minha vida. Eu percebia como ele me olhava quando eu cheguei, mas fiquei quietinha. Daí veio o namoro e, quando ele me pediu em casamento, eu percebi que foi o destino que nos uniu. Eu vim para o lar para conhecer o Manoel e realizar o sonho das nossas vidas", afirma a aposentada.

Assistente social "casamenteira"

A assistente social Albertina Oliveira de Macedo, de 52 anos, que trabalha há cerca de um ano no lar de idosos, foi quem ajudou a unir o casal. Ela conversava e aconselhava ambos, até que Manoel decidiu pedir Maria Luiza, carinhosamente chamada de Malu, em namoro. Já o casamento, conta, foi uma exigência da esposa.

"Foi ela quem disse a ele que só se 'juntaria' com ele se eles oficializassem a cerimônia. Foi quando começamos a correr atrás dos preparativos. Com o apoio da diretoria e dos sócios que dão suporte para o lar, mais a ajuda de voluntários de diversos setores da comunidade aqui da cidade, conseguimos cartório, juiz de paz e até bolo de casamento", conta a assistente social.

Entre juras de amor, o casal troca alianças durante casamento no civil - Maurício Soares/Divulgação - Maurício Soares/Divulgação
Entre juras de amor, o casal troca alianças durante casamento no civil
Imagem: Maurício Soares/Divulgação

O casamento foi realizado em um cartório da cidade, em 21 de janeiro, com direito à presença de familiares. Já a festa foi realizada depois, apenas com a participação dos 45 internos do lar de idosos, por conta da pandemia.

"Dei de presente a ela o meu próprio vestido de casamento. Fizemos uns ajustes e ficou lindo", lembra Albertina, que já está se preparando para realizar mais um matrimônio entre moradores do lar de idosos, programado para março. "Me tornei uma casamenteira", brinca a profissional.

Um quarto só para eles

Com o apoio da diretoria da instituição, Albertina conseguiu um quarto isolado, uma suíte, só para o casal poder curtir a vida com privacidade após o matrimônio. Equipado com uma cama de casal, armários para guardar os pertences e TV.

"Eu nunca pensei que fosse começar a vida agora, depois de vir para o asilo", declarou Maria Luiza. "Às vezes, a gente acha que as coisas que acontecem na vida são ruins e aí vem uma surpresa dessas".

Para que possam curtir a vida de casados, o lar de idosos reservou uma suíte para Manoel e Maria Luíza morarem - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Para que possam curtir a vida de casados, o lar de idosos reservou uma suíte para Manoel e Maria Luíza morarem
Imagem: Arquivo Pessoal

"Pensei que eu fosse morrer solteiro", brincou Manoel. "Depois de 20 anos vivendo aqui, achei que eu nunca iria conhecer o amor, mas eu estava enganado. A Malu foi um presente na minha vida. Vamos aproveitar até o fim".

O casal agora aguarda a doação de um frigobar para que não precisem se deslocar até a cozinha da instituição toda vez que precisam comer ou beber algo. Um percurso curto, mas que se torna complicado, por conta das limitações de ambos. Quem puder ajudá-los ou quiser contribuir para o lar de idosos, pode entrar em contato através do perfil da entidade no Facebook.