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Após admitir troca de bebês, hospital faz novo teste de DNA em famílias

Exame de DNA em bebê após hospital de GO admitir troca - Arquivo pessoal
Exame de DNA em bebê após hospital de GO admitir troca Imagem: Arquivo pessoal

Daniel Leite

Colaboração para o UOL, de Juiz de Fora

30/01/2022 08h28

As duas famílias que tiveram bebês no mesmo dia em um hospital de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital goiana, fizeram novo exame de DNA neste sábado (29) para saber se as crianças, do sexo masculino, foram trocadas. A instituição de saúde confirma o erro e afirmou entender "a gravidade dos fatos", mas os pais, apesar de desconfiarem da troca, querem uma prova documental.

A Polícia Civil investiga o caso como possível crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente sobre a obrigação dos hospitais de identificarem corretamente os recém-nascidos.

Os familiares aguardam o resultado dos testes feitos com a coleta da saliva das crianças no dia em que completaram um mês de nascimento.

A previsão é de 10 dias para os resultados serem apresentados à polícia, que ficou como responsável por abrir os envelopes com a conclusão dos exames, segundo acordo entre os pais e o hospital, para evitar possíveis acusações.

Hospital notou erro no momento da alta

O primeiro teste que fizeram foi logo após as mães darem à luz e terem alta, segundo o hospital São Silvestre.

"A situação [de possível troca] foi percebida quando da alta médica de uma das mães, sendo que de imediato as duas famílias foram comunicadas e foi solicitado pelo hospital a realização de teste de DNA", afirmou a instituição ao UOL, em nota.

Apesar de não utilizar o termo "troca" na nota, a advogada confirmou à reportagem que isso aconteceu.

O resultado do exame saiu 24 dias depois, e deu como inconclusivo para Juciara Maria da Silva e, por isso, foi pedido o teste deste sábado. No caso da outra mãe, Viviane Alcântara Dias, o resultado foi negativo, ou seja, ela ficou com o bebê de outra pessoa.

Pais querem documentos

Mesmo com o teste de Juciara sem um resultado definitivo, os pais chegaram a pensar no envolvimento de uma terceira família, mas a desconfiança maior é que uma mãe esteja com o filho da outra.

O hospital admitiu a troca assim que as mães tiveram alta e pediu para destrocarem, afirma o advogado dela . No entanto, segundo Eduardo Costa, não havia nada registrado formalmente, e os familiares dos bebês se negaram. "Foi verbal [o pedido para destrocar], e o hospital se negou a entregar documentos. Nenhuma mãe faria uma coisa dessas [destrocar sem a garantia documentada]."

De acordo com o advogado, o hospital infringiu o artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente. "Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto", diz a lei no trecho em que trata de crimes.

Juciara afirmou que, por causa da incerteza sobre o filho, não consegue explicar ao mais novo, de 4 anos, sobre o irmão nascido há um mês.

Hoje os bebês fizeram um mês, não pude comemorar porque não tem como porque a gente não sabe. É uma coisa que eu nunca imaginei, não desejo a ninguém isso. Quem é mãe vai saber do que eu estou falando, é uma dor que não tem palavras"

O defensor de Viviane afirmou que, antes de admitir o erro, o hospital disse aos pais para não se preocuparem. "Deu problema já na saída, mas disseram para ficarem tranquilos porque a outra criança que tinha nascido naquele dia era mulher e não teria problema", declarou o advogado Estevão Ferreira. "Precisa estabelecer a verdade, ninguém quer ficar com o filho do outro."

João Paulo, marido de Viviane, falou da dor sentida pela família. "Estamos muito abalados com a situação,. Uma coisa que agente nunca imaginou que iria passar, mas infelizmente estamos passando por irresponsabilidade do hospital. É muito doloroso pra gente", disse.

Hospital suspendeu profissionais envolvidos, diz nota

Em nota, o hospital afirmou ter aberto investigação interna três dias depois das trocas, e os profissionais que estavam no centro cirúrgico foram suspensos.

"Foi solicitado, no dia 27/01/2022, abertura de investigação na Delegacia de Proteção a Criança e do Adolescente, para que esta auxiliasse o hospital na condução do caso e na troca dos bebês, se for caso sendo ainda entregue cópia da investigação interna realizada. Ainda, foi protocolada petição ao Ministério Público do Estado de Goiás, junto a Promotoria da Infância e Juventude, para que preste o mesmo auxílio, tendo em vista tratarem-se de duas crianças", informa a nota.

No comunicado, o hospital diz ainda estar disposto a auxiliar os pais dos bebês trocados "a fim de tentarem encontrar o melhor caminho".

Para o advogado de Juciara, a falta de confiança no hospital é o motivo da recusa. "A Juciara disse que não quer nem passar na porta desse hospital porque causou muito trauma."

Investigação

A principal linha de investigação da polícia goiana é de crime previsto no artigo 229 do Estatuto da Criança e do Adolescente: "Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto".

A delegada responsável pelo caso quer saber se o possível erro na hora de identificar as crianças foi cometido de forma proposital ou não. "Nós estamos averiguando se houve de fato essa identificação, se essa identificação foi feita de forma incorreta, ou se foi a entrega que foi feita erroneamente, se foi feita de forma dolosa ou culposa", afirmou, por meio da assessoria de imprensa, a delegada Bruna Coelho, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Aparecida de Goiânia.

A respeito do envolvimento de uma terceira família na troca, por enquanto não há indícios, afirma a delegada, mas essa hipótese não foi descartada. "Já que possivelmente houve a troca de dois bebês, pode ser que tenha um terceiro envolvido", diz Bruna.

As duas familias prestaram depoimento, bem como testemunhas indicadas por elas, de acordo com a delegada, que pediu ao hospital os nomes da equipe médica do dia dos dois partos, para começar a ouvir esses profissionais durante a semana.