Morte de congolês: Agressores são detidos e polícia pede prisão à Justiça
A Polícia Civil informou na noite de hoje que identificou os três homens que agrediram Moïse Kabagambe, 24, até a morte. Eles estão detidos na Delegacia de Homicídios. O crime aconteceu na noite de 24 de janeiro no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Henrique Damasceno, titular da DH, afirma que pedirá a prisão temporária à Justiça pelo crime de homicídio duplamente qualificado, com impossibilidade de defesa e meio cruel. Os homens foram identificados a partir das imagens das câmeras de segurança do quiosque e depoimentos de testemunhas.
A Polícia Civil também apreendeu um taco de beisebol, utilizado para espancar o congolês até a morte. De acordo com as investigações, o objeto foi descartado em uma mata perto do quiosque. A polícia irá informar a motivação do crime ao final do inquérito.
O UOL apurou duas das identidades dos presos: Fábio Silva,e Alisson Cristiano Fonseca. Fábio estava em Paciência, na zona oeste carioca, na casa de familiares. Alisson se entregou na Delegacia de Bangu na tarde de hoje e afirmou que "não tinha a intenção de matar" Moïse.
O que mostram as imagens
As imagens da câmera de segurança mostram ao menos 20 minutos de agressões —foram desferidas 11 pauladas enquanto a vítima estava em luta corporal com os agressores e outras 15 quando ele já estava imóvel no chão.
O vídeo começa com Moïse —que segura uma cadeira— e um homem não identificado com um pedaço de madeira. Ambos dão voltas dentro do quiosque —ora avançando ora recuando. Essa dinâmica se mantém por cerca de 2 minutos, quando outros três homens surgem nas imagens. A essa altura, Moïse já tirou a camisa. O que se segue é uma sessão de espancamento.
Os homens cercam e derrubam Moïse ao chão. Eles usam pedaços de madeira para bater no congolês. Um homem de camiseta vermelha prende o pescoço de Moïse com as pernas. Depois disso, outro homem espanca Moïse com um pedaço de madeira. Ele bate ao menos quatro vezes.
O agressor que deu uma "chave de perna" no pescoço de Moïse tenta amarrá-lo, com ajuda de um outro agressor. Com uma espécie de corda, eles amarram as mãos e os pés do congolês.
Dono diz ter saído do local horas antes
O dono do quiosque prestou depoimento hoje, mas não teve a identidade revelada pela polícia ou pela própria defesa. Em entrevista à imprensa, o advogado Darlan Santos de Almeida afirmou que o dono do quiosque não soube das agressões, pois saiu do Tropicália por volta das 20h30 — as agressões foram registradas por volta de 22h20 do dia 24 de janeiro.
Almeida afirmou que o dono do estabelecimento é "um pai de família, homem bastante religioso, que está sendo perseguido". Ele negou que os homens sejam funcionários ou seguranças do quiosque.
"Eles não têm vínculo algum com o quiosque. Os outros depoimentos corroboram que, inclusive, a vítima trabalhou um ano no quiosque ao lado", disse Almeida.
De acordo com a versão do advogado, o funcionário que testemunhou o crime sem reagir não tinha aparelho celular, por isso não acionou a polícia. As imagens da câmera de segurança que registraram o espancamento de Moïse mostram o funcionário caminhando tranquilamente dentro do quiosque, e até fumando um cigarro, enquanto outros três homens agridem o congolês com pedaços de madeira e chutes.
O primeiro órgão acionado foi o Samu, após os agressores tentarem reanimar Moïse sem sucesso.
De acordo com um relatório inicial da Polícia Militar, uma viatura do 31º BPM parou no local ao ver a ambulância, quando constatou que Moïse havia sido espancado e amarrado ao lado do quiosque.
Família se sente insegura no Brasil, diz irmão
Maurice Mugeny, irmão de Moïse Kabagambe, relatou, em entrevista ao UOL News, que a família está insegura e com medo de sair de casa. Segundo ele, o temor da família que vive no Rio é a possibilidade do crime estar relacionado a milícias.
Maurice, que vive na França, contou que foi mais difícil ainda receber a notícia da morte do irmão estando fora do Brasil. "E, agora pouco, acabou de sair o vídeo. Você ver o seu irmão morrendo assim... ele tentou lutar, fazer alguma coisa, mas não conseguiu. É muito difícil", disse.
O irmão cobrou justiça para Moïse e, apesar das fortes imagens do vídeo da agressão e morte do jovem, ressaltou a importância de se ter provas sobre o caso.
"Se não tivesse aquele vídeo, todo mundo ia falar é mentira e ninguém ia falar mais desse caso. Hoje tem uma prova. Só queremos justiça. Se não tivesse vídeo, iam falar que era mentira, não mataram ele ou ele que começou porque é preto, imigrante. Mas tem vídeo."
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