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Atos pedem justiça por Moïse, congolês espancado até a morte no Rio

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

05/02/2022 10h20Atualizada em 05/02/2022 21h52

Manifestantes se reuniram neste sábado (05) em frente ao quiosque Tropicália, na orla da Barra da Tijuca, no Rio, em ato que pede justiça por Moïse Kabagambe. O imigrante congolês foi espancado até a morte em 24 de janeiro neste mesmo quiosque.

Mais de cem pessoas estiveram no ato, que começou às 10h e se dispersou por volta de 15h. Ao microfone, um manifestante negro puxou o grito "parem de nos matar". Imigrantes africanos também participaram do protesto e encenaram o assassinato de Moïse, espancado com um taco de beisebol.

Outras cidades também tiveram atos pedindo justiça por Moïse neste sábado. Em São Paulo, manifestantes se reuniram no vão-livre do Masp, na Avenida Paulista. Por volta de 10h15, o ato chegou a ocupar três pistas da via. Em Brasília, um ato em frente ao Itamaraty usou tinta vermelha para encenar o derramamento de "sangue negro".

"Obrigada por vocês estarem aqui por Moïse, vamos continuar lutando. Só quero Justiça pelo meu filho", disse a mãe de Moïse Mugenyi, Ivana Lay, presente no ato na Barra da Tijuca.

O advogado da família, Rodrigo Mondego, reclamou que ainda não teve acesso ao inquérito policial. "Tudo o que a gente teve acesso foi pela imprensa. Pelo que a gente viu até agora, existe a possibilidade real de haver mais pessoas envolvidas [no assassinato], além dos três que foram presos. Teve gente que ajudou a amarrar ele", falou Mondego.

Imagens inéditas reveladas hoje pelo UOL mostram outros envolvidos nas agressões, cujas identidades não foram divulgadas pela Polícia Civil.

A psicóloga Roberta Massoto, 32, participou do ato no Rio com um cartaz onde se lia "vidas negras importam". "A gente está cansado de tanta violência, de tanta desumanidade conosco. Eu vim para dar esse basta, como um grito de liberdade para mim e para o meu povo. É como se a gente não valesse nada, com certeza que se fosse uma pessoa branca que tivesse sido morta, a situação teria sido outra. Hoje é um ato de resistência", disse Roberta.

Outro cartaz empunhado no ato no Rio lembrava Durval Teófilo Filho, 38, homem negro morto a tiros pelo sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, na quarta-feira (2). "Basta ser negro para ser suspeito! Justiça por Durval!". O homicídio ocorreu quando Durval chegava em casa de carro.

Movimentos sociais e frentes sindicais se juntaram ao ato no Rio. "Toda essa sequência de mortes tem uma justificativa: o racismo estrutural. Quando a gente vem para as ruas, é porque já estamos cansados. O Moïse saiu do país dele para ser assassinado aqui. A gente quer dizer 'basta'", disse Maria Eduarda Reis, representante do coletivo de esquerda Juntos.

"Viemos para o Brasil para trabalhar, somar com o povo brasileiro. Não viemos para roubar, matar, mas sim para conquistar os nossos sonhos. Mas o sonho de Moïse foi interrompido", lamentou Domingos Elicayas, representante da Comunidade Africana no Rio de Janeiro.

A Prefeitura do Rio anunciou hoje que vai transformar os quiosques Tropicália e Biruta em um memorial em homenagem às culturas congolesa e africana. De acordo com a Secretaria Municipal de Fazenda, a gestão de um dos quiosques será oferecida aos familiares de Moïse.

Novas imagens mostram Moïse sozinho e desacordado por 21 minutos até Samu chegar

O UOL teve acesso à íntegra das gravações feitas pela câmera de segurança do quiosque Tropicália, analisadas pelos investigadores. São três horas ininterruptas de imagens, das 22h25 de 24 de janeiro até as 1h26 do dia 25.

O material, inédito, mostra Moïse sozinho, amarrado e desacordado por 21 minutos após a sessão de agressões ao lado do quiosque. As imagens também revelam que o Samu tentou reanimar o congolês por 25 minutos.

Linha do tempo - Moise -  -