Topo

Esse conteúdo é antigo

Exonerado político suspeito de matar esposa grávida; família busca resposta

O ex-vereador George Passos Santana e a biomédica Jéssica Regina Macedo Carmo - Reprodução/Redes Sociais
O ex-vereador George Passos Santana e a biomédica Jéssica Regina Macedo Carmo Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

07/02/2022 13h12Atualizada em 07/02/2022 22h06

Familiares da biomédica Jéssica Regina Macedo Carmo, 31, morta com um tiro de espingarda calibre 22 nas costas, rechaçam a alegação de disparo acidental, versão dada à polícia pelo ex-vereador George Passos Santana, o George Breu, 41, suspeito do crime. No último sábado (5), a vítima, que estava grávida de nove meses, foi levada por ele a um hospital em Santo Estevão (BA), a 150 km de Salvador — ela chegou a ser submetida a um parto de emergência, mas mãe e bebê não resistiram.

Hoje, a gestão do prefeito Rogério Costa (PT) informou que Santana foi exonerado da chefia de gabinete do Executivo municipal, posto que até então ocupava. O ex-vereador segue em liberdade. Ele foi liberado, no mesmo dia, após ter se apresentado espontaneamente na Delegacia de Homicídios de Feira de Santana (BA), responsável pelo plantão de ocorrências da região.

Em nota, o PT (Partido dos Trabalhadores) também informou que a filiação de George Breu está suspensa temporariamente. "Aguardamos a elucidação dos fatos pela polícia e o cumprimento da justiça. Reforçamos o compromisso do nosso partido com as políticas de proteção à vida, fortalecimento e ampliação da rede de atendimento às mulheres vítimas de violência".

Ao UOL, uma tia de Jéssica relatou não acreditar nas alegações apresentadas pelo suspeito, a quem acusa de ter "dado fim" nas imagens de câmeras de segurança da casa em que vivia com a biomédica, localizada em um sítio.

"Não sabemos como ele apagou. Mas essa foi uma informação que um policial civil passou pra gente no dia da perícia. Esperamos que a investigação possa recuperar essas imagens para apontar o realmente aconteceu", relatou a mulher, que pediu para ter o nome preservado.

Segundo ela, o ex-vereador também teria lavado o carro em que se deslocou com a esposa para a unidade de saúde. "Soubemos que ele fez isso no fundo do hospital depois de ter abandonado Jéssica na emergência. Eu não sei qual era a estratégia dele", acrescentou. Ela contou ainda que, antes de ir à delegacia, o ex-vereador escondeu que a sobrinha havia sido atingida por um tiro de arma de fogo.

Agora entendemos que foi por isso que ele impediu a gente de entrar no hospital. Ele apertou até a mão do pai de Jéssica com o cinismo dele. Até ali, a história dele era a de que ela se matou. Só depois de muito tempo é que ficamos sabendo que o tiro foi dado pelas costas, coisa de covarde.
Tia de Jéssica

A mulher diz que a família passou a ficar mais atenta ao comportamento da jovem após ela aparecer com hematomas no rosto, mas dizer que sofreu um acidente na cozinha — desde então, ela teria passado a exibir um comportamento "mais acanhado". "Ela tinha uma filha de seis anos que ela nunca levava pra casa dele, que não aceitava a criança. Não bastasse isso, agora mata o próprio filho", lamenta a tia, lembrando que o pequeno Heitor viria ao mundo por meio de uma cesárea no dia 22 deste mês.

Familiares realizaram hoje um protesto em homenagem à Jéssica e pedindo por Justiça. O ato foi realizado em frente à casa da mãe da vítima, em Santo Estevão.

George e Jéssica ficaram juntos por um ano e três meses. O UOL tenta contato com George Breu desde ontem, mas ele segue sem retornar os contatos. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.

Suspeita de feminicídio

Em entrevista coletiva no início da tarde de hoje, o delegado Roberto Leal, que passou a investigar o caso, reforçou que não descarta nenhuma linha de investigação, entre elas, a de um possível feminicídio. Ele disse que, além do suspeito, já ouviu quatro pessoas próximas a George e Jéssica e tomará outros depoimentos nos próximos dias.

O delegado afirmou que também aguarda resultado da perícia feita na residência do casal para que possa ter mais elementos de apuração. Questionado sobre a liberação do suspeito logo após o seu depoimento, Leal explicou que não havia elementos para enquadrá-lo em flagrante naquela ocasião.

"Embora ele tenha sido interrogado e posto em liberdade, as investigações continuam e qualquer outra medida poderá ser solicitada. A arma já foi encontrada, apreendida e periciada", disse Leal. Ele afirma ser interesse da Polícia Civil esclarecer o crime o mais rápido possível.

Depoimento

Conforme boletim de ocorrência do caso, ao qual o UOL teve acesso, Santana relatou em seu depoimento que estava em uma área externa da casa em que vivia com Jéssica quando ela o teria chamado no quarto. Segundo ele, a esposa segurava a espingarda e questionava se ele a trairia.

Nas palavras de Santana, a companheira achava que ele a "largaria" a qualquer momento. Nos últimos meses, disse ele, a biomédica se mostrava "insegura". Desta vez, ela teria pegado a arma antes de iniciar o que se tornaria uma discussão.

De acordo com o ex-vereador, o disparo que a acertou ocorreu no momento em que ele teria tentado tomar a espingarda. O suspeito narrou que o projétil atingiu as costas da mulher, na altura do pulmão.

Em seguida, ele a teria levado para a emergência do Hospital Doutor João Borges Cerqueira e teria comunicado o episódio à emergência policial via 190.