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Advogada diz que Hipster da PF tinha depressão e tiro foi 'legítima defesa'

Do UOL, em São Paulo

04/03/2022 09h44Atualizada em 05/03/2022 11h38

Lucas Valença, policial conhecido como "hipster da Federal", estava em tratamento após ser diagnosticado com depressão profunda no início da pandemia de covid-19, em 2020, de acordo com a advogada da família dele. Sindd Lopes afirma que havia suspeita de que Lucas sofresse de bipolaridade, mas o diagnóstico ainda não havia sido confirmado por seu terapeuta, e descarta a hipótese de assassinato em sua morte.

O policial de 36 anos foi morto na madrugada de ontem, durante um surto psicótico ao tentar invadir a chácara de um vizinho em Buritinópolis, no interior de Goiás.

Em entrevista ao jornal carioca O Globo, Sindd Lopes disse que, apesar do quadro de depressão, o surto de ontem foi o primeiro de Lucas, ao fazer uma caminhada noturna nos arredores de uma casa da família, onde estava hospedado, desarmado e sem celular. Após o passeio, ele não teria encontrado o caminho de volta para a chácara, entrando em crise.

"A família foi totalmente pega de surpresa. Não entendemos que houve um assassinato e, sim, legítima defesa. Mas ele não arrombou a casa. Ele achava que aquele era o rancho dele. Por isso, tentou entrar na residência. Estava perdido e em surto", afirmou Sindd.

A defensora disse ainda que o policial federal conhecia o vizinho e que os dois nunca tiveram desavenças. Lucas frequentava a região desde a infância e costumava visitar a chácara para cuidar de sua coleção de bonsais e dos cachorros que resgatava e enviava ao local, antes de encaminhá-los para adoção.

"Ele ajudava financeiramente várias ONGs de animais. Era uma pessoa amorosa e sensível. E estava num momento de se cuidar. Não bebia, não fumava e era vegetariano. Estava totalmente adepto à ioga e à meditação. E era muito conectado à natureza. Ele ia quase todo fim de semana para a chácara".

Sindd destacou que a família de Valença não pretende seguir com um processo contra o vizinho que disparou contra o policial.

Policial teria ameaçado vizinho

Em depoimento à polícia, o vizinho de Lucas, que não teve o nome revelado, afirmou que estava dentro de casa com a esposa e a filha de 3 anos quando ouviu ameaças vindas de fora.

O policial federal teria ordenado que todos "saíssem da casa, se não vou entrar e matar", segundo o delegado responsável pelo caso, Adriano Jaime. "Neste momento, temendo pela sua vida e da sua família, ele pegou a sua arma", disse o delegado.

A arma usada no disparo era uma espingarda de pressão adaptada para receber balas de calibre 22. Ainda segundo o delegado, o policial federal teria desligado o quadro de energia da casa e arrombou a porta do imóvel para entrar.

"Neste momento, o autor disse: 'Não entre, estou armado'. Mesmo assim, a vítima entrou e foi para cima do autor, que desferiu um único tiro. Depois do tiro, a vítima começou a gritar que era policial. Nesse instante, o autor ligou imediatamente para a polícia militar solicitando uma ambulância", explicou Jaime.

Lucas chegou a receber primeiros socorros, mas não sobreviveu. Na delegacia, o autor do crime foi preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo. Após pagar fiança, de valor não informado, ele foi solto.

Relembre fama do policial

Lucas Valença ficou famoso nas redes sociais após aparecer ao lado de Eduardo Cunha em imagens que rodaram o Brasil quando o ex-deputado foi preso no âmbito da Operação Lava Jato em 2016.

Em posts em seu perfil nas redes sociais antes da fama, ele declarou voto em Aécio Neves (PSDB) nas eleições de 2014 e sugeriu que a vitória de Dilma Rousseff (PT) foi fraudada. Após a repercussão, agentes da PF receberam a orientação de ir mascarados à escolta de Cunha para o IML (Instituto Médico Legal) no dia seguinte à prisão.

A última polêmica que o envolveu surgiu após o agente ter participado dos programas "Encontro", da TV Globo, e "Programa do Porchat", da TV Record, o que teria desagradado a corporação.

Segundo o regulamento interno da corporação policial, é proibido esse tipo de autopromoção. Valença foi informado que estava violando o estatuto desde que foi ao programa da Globo e, em 2016, uma investigação foi aberta sobre o caso.