Quem era o 'Hipster da Federal', policial morto após invadir fazenda em GO
O policial federal Lucas Valença, 36, que morreu na noite de ontem, em Goiás, ficou conhecido como "Hipster da Federal" e "Lenhador da Federal" em 2016, ao escoltar o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB). Ele era policial federal de Brasília e esteve em operações como a da captura de Lázaro no ano passado, mas ficou conhecido pela sua imagem, que o levou a viralizar e virar personagem de programas de TV, como o 'Encontro', de Fátima Bernardes.
Segundo relatos de amigos e parentes de Valença estava em surto psicótico desde o dia 2 de março. Informações do boletim de ocorrência ao qual o UOL teve acesso indicam que ele invadiu a residência de uma família em Buritinópolis e desligou disjuntor de energia.
O morador pediu para que Lucas fosse embora, mas a movimentação continuou e ele acabou efetuando um disparo de espingarda contra o invasor, alegando legítima defesa para proteger a família, ainda segundo o BO.
Valença ganhou o nome de "Lenhador da Polícia Federal" em 2016. Ele se formou em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Goiás, mas decidiu entrar na Polícia em 2009, quando começou a estudar para o concurso. Em vídeo publicado em um canal do YouTube, ele conta que foi reprovado na primeira vez que tentou integrar a corporação, mas não desistiu.
A fama veio em 2016 com a escolta do ex-deputado Eduardo Cunha. Ele chegou a ser aconselhado a "tirar férias" após a situação. O caso dele fez com que a PF, informalmente, passasse a obrigar que todos usassem balaclava, uma máscara que deixa apenas os olhos à mostra.
"A visibilidade repentina que Lucas Valença conseguiu provocou reação rápida dos delegados, que não querem rivalizar os holofotes. Determinaram que a partir de agora todos os agentes usem a balaclava, uma espécie de burca da PF", disse à época a entidade, em mensagem assinada pelo então presidente da Fenapf (Federação Nacional dos Policiais Federais), Luís Boudens.
Valença disse ter ficado espantado com a repercussão e afirmou que preferia o apelido de "lenhador" em vez de "hipster", uma palavra em inglês para se referir a pessoas com estilo alternativo.
Sou bem sossegado com a aparência. A barba eu sempre usei, mas o cabelo deixei crescer, porque faz mais sucesso com as meninas. Lucas, em entrevista a Fátima Bernardes.
Além do "Encontro", ele também participou do "Programa do Porchat".
As entrevistas não foram vistas com bons olhos pela Polícia Federal, o que fez com que Valença ficasse sob investigação interna. A corporação suspeitava que ele havia desrespeitado ao menos quatro regras de conduta, entre elas, a de "exercer, a qualquer título, atividade pública ou privada, profissional ou liberal, estranha à de seu cargo." A assessoria dele negou à coluna de Ricardo Feltrin qualquer violação de código de conduta.
O destaque rendeu à Valença milhares de seguidores no Instagram, onde ele compartilhava o dia a dia e as próprias opiniões políticas. A última publicação dele, em setembro do ano passado, era elogiando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"Uma honra participar da formação dos novos Policiais Federais. E ainda rola foto com o Presidente da República, pensa bem! Obrigado por nos honrar com a sua presença Presidente", escreveu ele. A publicação foi apagada.
Entre uma das suas mais recentes operações estava a da caçada a Lázaro Barbosa, 32, no ano passado. O homem era condenado por assassinatos, estupro e com mais de 30 crimes. A polícia buscou por ele durante 20 dias, até ele ser capturado e morto.
O UOL entrou em contato com a Polícia Federal para saber se Lucas Valença estava afastado da corporação, mas ainda não obteve retorno.
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