Com piscinão e escoamento, zona oeste de SP ainda sofre com alagamentos
Com grandes prédios residenciais e comerciais e longas avenidas asfaltadas, a zona oeste de São Paulo enfrenta, todos os anos, um problema comum aos moradores da capital: alagamentos e inundações causados pelas chuvas de verão. No último fim de semana, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências), foi a região mais atingida pelo temporal que deixou pessoas ilhadas e derrubou mais de cem árvores.
Moradores, motoristas e pessoas que trabalham por lá disseram ao UOL que a situação melhorou depois da realização de obras de escoamento de água, mas as enchentes ainda ocorrem em dias de chuva mais forte. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, além da impermeabilização do solo, a geografia da área dificulta a solução do problema.
Os alagamentos mais frequentes ocorrem em bairros como Barra Funda, Perdizes e Pompeia, principalmente nas avenidas Sumaré, Francisco Matarazzo e Pompeia, de acordo com os próprios moradores. Foi na avenida Sumaré que, no sábado passado (5), motoristas ficaram ilhados em seus carros e tiveram que ser resgatados pelos bombeiros.
Ao UOL, a Prefeitura de São Paulo disse, em nota, que ampliou as galerias nos córregos Água Preta e Sumaré, que ficam na região. O objetivo era aumentar a contenção da água e evitar alagamentos. As construções fizeram parte da "Operação Urbana Água Branca", entre 2013 e 2016 e custaram, aproximadamente, R$ 143 milhões.
A administração municipal também informou que inaugurou, em 1995, o piscinão do Pacaembu, próximo à região da Barra Funda, que capta o total de 74 mil m³ de água pluvial —ou o volume quase 30 piscinas olímpicas— e está funcionamento. (leia mais abaixo)
Água só baixa depois de uma hora e meia, diz moradora
Moradora da Pompeia há 20 anos, a design gráfica Lilian Brito, 37, afirma que, depois das obras, a situação melhorou —mas basta cair uma chuva forte para as ruas encherem rapidamente de água.
"Antes, qualquer chuva já enchia as ruas. Agora, os alagamentos aparecem com chuva mais forte. Nesse caso, a água só abaixa quando para de chover, depois de 1h30, em média. Ficamos horas sem sair de casa quando chove desse jeito", relata.
Os trabalhadores também sentem o impacto. Guilherme Branco, 21, entregador de aplicativos, tenta evitar ir até essas regiões quando vê que a chuva está para cair.
"Mas não podemos parar de trabalhar. Às vezes, vai na chuva mesmo", conta o rapaz. "Os carros ficam todos parados, atrapalha o trânsito. A água invade as calçadas, atrapalha os pedestres."
No mês passado, o volume de chuvas na região foi menor do que no mesmo período nos últimos anos, de acordo com o CGE, órgão da prefeitura:
- Fevereiro de 2020: 387,0 mm
- Fevereiro de 2021: 192,8 mm
- Fevereiro de 2022: 67,6 mm
Para se ter uma ideia, a média de chuvas esperada para fevereiro, em toda a capital, fica em torno de 220 mm.
Luciana Travassos, professora de Planejamento Territorial da UFABC (Universidade Federal do ABC), diz que a zona oeste —principalmente as regiões da Pompeia e Barra Funda—, é bastante impactada pelas chuvas por conta do seu relevo e pelo processo de urbanização.
A água é concentrada nas bacias hidrográficas da Água Preta e Sumaré, que ficam em uma parte mais alta da região. Bacia hidrográfica é um local para onde a água da chuva escorre, até riachos ou rios que ficam em um ponto mais baixo da paisagem.
Na zona oeste, a água da chuva segue seu curso natural para a parte mais baixa, onde estão as avenidas que frequentemente ficam embaixo d'água com as fortes chuvas.
"As bacias Água Preta e Sumaré têm declividade [inclinação] muito alta. A inundação acontece no fundo de vale", explica. "Quanto maior a declividade da bacia, mais rápido a água chega [aos pontos mais baixos]. Em uma configuração urbanizada, de asfaltamento, ela desce muito rápido."
Urbanização e clima
Travassos lembra que o asfaltamento e as construções geram um processo de impermeabilização do solo —a água não é absorvida naturalmente devido ao grande número de construções de ruas, avenidas e prédios, por exemplo.
A inundação é um processo natural. Ela vai sempre acontecer. A questão é saber onde e como vamos nos proteger."
Luciana Travassos, professora da UFABC
No escoamento na zona oeste, a água segue em direção ao rio Tietê. Na opinião de Ricardo Moretti, professor do Programa de Planejamento e Gestão do Território da UFABC (Universidade Federal do ABC), as estratégias implantadas pela prefeitura não solucionam os alagamentos, apenas jogam o problema para outro lugar.
"A engenharia pretende simular o que a natureza faz sozinha. A água costuma cair e infiltrar no solo. Com a urbanização insensata da cidade, a água que caiu na parte alta chega a galope nas partes baixas", explica.
Os gestores vão criando retardamentos, estruturas para que a água não desça tão rápido, aumentando a largura do 'ralo' que irá vazar essa água. É um processo que exporta o problema."
Ricardo Moretti, professor da UFABC
As mudanças climáticas também são um problema mundial que entram nessa equação. Travassos cita relatório do IPCC (em tradução livre, Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU), que fala sobre uma "mudança de padrão de precipitação".
"[Agora temos] Chuvas mais concentradas no tempo e no espaço. Então chove mais, em locais mais específicos e em períodos menores", diz. "Quando temos um dia muito quente, a chuva chega forte e localizada. Os reservatórios locais não vão dar conta."
O que diz a prefeitura
Em nota enviada à reportagem, a Prefeitura de São Paulo ressaltou as obras de ampliação feitas nas galerias dos córregos Sumaré e Água Preta para conter os alagamentos na área e afirmou que monitora os volumes de água drenados.
Em novembro de 2021, foram iniciadas as operações do Plano Preventivo - Chuvas de Verão que segue até o mês de março [de 2022], com ações de monitoramento e combate às enchentes e alagamentos na capital."
Nota da Prefeitura de São Paulo
"Por meio da rede de telemetria e telemonitoramento, é possível acompanhar o nível e vazão da água e o funcionamento das motobombas (responsáveis pelo escoamento), por meio de sensores instalados nos piscinões e túneis. Além disso, o sistema emite alerta em caso de queda de energia, obstrução e falha mecânica. No caso dos túneis, é possível, também, monitorar o nível de CO2 acumulado", diz o texto da equipe do prefeito Ricardo Nunes (MDB).
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