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PM expulsa por uso de atestado diz ser marcada por oficial: 'decepcionada'

Andressa Christine Medeiros dos Santos, de 33 anos, foi expulsa, segundo a polícia - Reprodução/Instagram
Andressa Christine Medeiros dos Santos, de 33 anos, foi expulsa, segundo a polícia Imagem: Reprodução/Instagram

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

18/03/2022 04h00Atualizada em 18/03/2022 08h05

A cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro expulsa da corporação em 12 de março — por participar de eventos e frequentar academia para prática intensa de exercícios físicos enquanto usufruía de licença médica para tratamento de saúde — relatou ao UOL que um oficial a ameaçou e já tinha dito que ela seria removida da instituição, independentemente de julgamento em favor dela. Andressa Christine Medeiros conta que recebeu "recados" durante o processo, mesmo após ser "absolvida" pelo Conselho de Revisão Disciplinar da PM na primeira parte da deliberação.

Quando o conselho começou, recebi vários recados maldosos, dizendo que iam me tirar, que a minha cabeça veio recomendada para o conselho. Eu soube que foi um oficial que me denunciou alegando fraude, até de estelionato eu fui acusada (...) Depois, recebi mais um recado que era para não comemorar [a decisão do conselho] porque o processo ainda não havia acabado e que ele [o oficial] iria me tirar da PM ou não seria oficial.

O Conselho de Revisão Disciplinar funciona como um tribunal interno que avalia documentos e vota a favor ou contra o policial citado. No caso da cabo Andressa, o grupo formado por três PMs foi a favor dela, após avaliar toda a documentação que fazia parte do processo. Depois, Andressa ganhou mais um voto a favor dela — o do comandante. No entanto, a decisão final coube à Secretaria da PM que assinou pelo afastamento da policial.

Andressa contestou a decisão. "Foram quatro votos positivos pela minha permanência. É estranho ter um colegiado que ouve testemunhas, defesa e depois alguém contraria a decisão. Para que ter um colegiado se eles não servem?", questiona, garantindo que vai recorrer da decisão de expulsão.

Apesar de relatar uma rotina de dificuldades dentro da corporação, que descreve como marcado por assédios morais e sexuais, Andressa fala com carinho da Polícia Militar.

"Eu estou muito decepcionada desde que entrei [na PM]. Não fui fazer outra coisa porque, em contrapartida, as pessoas boas que encontrei alimentaram todo o meu ímpeto durante esses anos, alimentaram minha motivação. É um trabalho como outro: há pessoas boas e ruins. A instituição em si é maravilhosa", avalia.

O UOL procurou a Secretaria de Estado da PM para comentar as declarações da ex-cabo, mas ainda não obteve retorno. Este espaço será atualizado tão logo haja manifestação.

Projétil em pé serve de "lembrete"

Andressa foi afastada do serviço em 27 de julho de 2018 para tratar um ferimento no pé ocasionado por uma arma de fogo. Na ocasião, ela sofreu uma tentativa de assalto e acabou ferida. Em entrevista ao UOL, ela disse que até hoje possui um pedaço do projétil no pé: "Não tenho o pé de antes".

Ela contou que foi operada no Hospital da PM e que as licenças médicas foram concedidas pela junta médica, de acordo com a evolução das lesões.

No Inquérito Policial Militar (IPM), a corporação acusou a cabo de enfileirar três atestados, que somavam 90 dias de afastamento, enquanto frequentava a academia e participava de eventos e desfiles de uma banda. Andressa explica que ela teve autorização médica para retomar gradualmente certas atividades.

Sempre tive uma vida ativa e eu pedi muito ao médico para me liberar para malhar, para fazer o que desse. Eu não podia pedalar, por exemplo, mas podia fazer abdominal. Queria qualquer coisa que me tirasse de casa, pela minha saúde mental, e isso ocorreu com um laudo médico.

Sobre o desfile de uma banda, da qual ocupa o cargo de musa, e apareceu em um evento de salto alto, como mencionado pela corporação no documento interno, Andressa disse que a festa de Carnaval ocorreu quando ela já havia retornado ao serviço.

"Eu desfilei numa banda e não numa Sapucaí e usei um salto alto indicado pelo médico e fisioterapeuta e foi só para comparecer ao evento. Eu marcava presença, fazia as fotos, sentava e calçava o chinelo. Só que a polícia fala apenas o que é interessante para ela", argumentou.

O documento interno da PM cita ainda outros afastamentos do serviço. A cabo justifica: em 2019, ela diz que precisou ficar de licença para o tratamento de um câncer e realização de duas cirurgias.

Ataques virtuais

Desde que a expulsão da cabo foi divulgada na imprensa, Andressa passou a ser hostilizada nas redes sociais. No entanto, ela disse que já está tomando providências para processar certos conteúdos. Depois que o caso foi divulgado, a ex-policial saiu de 800 seguidores para seis mil. Ela disse que também tem recebido muitas mensagens de apoio.

"A PM me proporcionou toda essa exposição. A todo momento são excluídos policiais. No meu caso, tentaram me ridicularizar. Recebo mensagens horríveis, ameaçaram minha integridade física, mas também recebi muito apoio e carinho".

A expulsão de Andressa ocorreu um mês antes da cabo completar 10 anos de serviço, o que, em sua avaliação, a garantiria mais estabilidade no serviço público. Ela conta que está à procura de emprego, mesmo desejando ser reintegrada à polícia.

A PM não me tirou meus braços nem minhas pernas. Tô agitando trabalho.