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Casal denuncia falas homofóbicas de motorista de Uber no ES: 'Muito medo'

Lorena Barros

Do UOL, em São Paulo

30/03/2022 14h03Atualizada em 30/03/2022 14h50

Um casal da cidade de Serra, no Espírito Santo, usou as redes sociais na tarde de hoje para denunciar declarações homofóbicas, transfóbicas e violentas de um motorista de aplicativo pouco após o embarque.

As mulheres, que não quiseram se identificar por medo, pediram o carro de casa para um shopping da cidade porque tinham pressa para agilizar compromissos do dia a dia. Elas aguardaram na calçada até o veículo chegar e iniciaram a corrida sem qualquer problema.

"Ele cumprimentou normal, a gente entrou no carro e aí ele começou a falar algumas coisas, sobre o mundo estar cada vez mais difícil, o que é um problema, que quando ele morava fora não era desse jeito, porque agora está um absurdo", conta uma das mulheres em conversa com o UOL.

Pouco tempo depois, o casal começou a sentir o tom de "discurso de ódio" que vinha do homem e optou por permanecer calado. Ele teria continuado o seu discurso e falado, entre muitas "opiniões", que pessoas em situação de rua estavam assim porque não queriam trabalhar, que "a esquerda estragou o país" e que "no tempo dele, as coisas se resolviam de outra forma".

"Em um determinado momento ele começou a falar que não existe esse negócio de homem querer ser mulher e mulher querer ser homem, porque isso é coisa da esquerda, que a esquerda inventou isso porque colocaram 'o negócio de kit gay' nas escolas e que isso é um absurdo, que na época dele essas coisas eram resolvidas na bala", recorda.

A corrida de cerca de 15 minutos estava quase no fim quando as falas homofóbicas escalaram. O casal chegou a gravar um trecho das falas do homem dentro do carro. "Para mim isso é errado. Homem nasce homem e mulher nasce mulher, querida. Você pode optar por outra forma de vida, o problema é seu, mas isso não existe não", fala o motorista.

Quando elas rebatem e falam que se sentem desrespeitadas, o homem responde: "Está chegando já, eu vou parar e você desce, mas eu tenho direito de opinar". Segundo a mulher, em vários momentos ele deixou claro que poderia dar opiniões homofóbicas por estar dentro do carro dele.

"Se uma pessoa acha que as coisas devem ser resolvidas na bala, a gente está dentro do carro dela e a gente não é nada do que ela concorda, talvez ela pense que ela pode resolver as coisas na bala com a gente. A gente ficou com muito medo", afirma a denunciante.

Apesar de lembrar de várias situações na qual já passou por casos de homofobia velada, essa é a primeira vez que a mulher passa por algo tão explícito por causa de sua orientação sexual. A situação causou tanto desconforto às mulheres que a esposa da denunciante foi amparada por um segurança do shopping no momento em que chegou ao local.

"Ele achou que estava acontecendo alguma coisa, perguntou se precisava da assistência de um bombeiro para alguma questão de pressão", recorda.

As duas não fizeram qualquer um dos planos pretendidos no dia e foram direto para a delegacia, onde registraram o Boletim de Ocorrência. Agora, elas contam que têm medo de sair da própria casa, já que o motorista sabe onde elas moram.

"Estamos consternadas mesmo. Não tem nem outra forma de classificar. É uma ameaça à nossa vida, uma ameaça direta à nossa vida. É muito estranho, porque a gente só está exercendo o nosso direito de ir e vir", afirma.

Elas entraram em contato com a Uber, que teria prometido "tomar providências". "Pediram o nome do motorista, o carro e o número da placa. Eles falaram que vão tomar providências e falaram isso, apenas isso", afirmou.

O UOL entrou em contato com a Uber. Em nota, a empresa informou que desativou a conta do motorista parceiro assim que tomou conhecimento sobre o ocorrido. O posicionamento do aplicativo também pontuou que a usuária foi informada sobre um canal de suporte psicológico e disse que está à disposição das autoridades para compartilhar informações sobre os envolvidos. "A Uber defende o respeito à diversidade e reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e justiça para todas as pessoas LGBTQIA+", afirmou.

Até o momento, não houve qualquer resposta. A Polícia Civil do Espírito Santo também foi procurada para falar sobre o caso na noite de hoje, mas não retornou até o momento.