Topo

Esse conteúdo é antigo

Antes de sofrer queimaduras, calouros da UFPR participaram de 'trote limpo'

Estudante teve queimaduras durante trote na UFPR - UFPR/Divulgação
Estudante teve queimaduras durante trote na UFPR Imagem: UFPR/Divulgação

Lorena Pelanda

Colaboração para o UOL, em Curitiba

02/04/2022 04h01

O trote que deixou pelo menos 19 estudantes com queimaduras pelo corpo na UFPR (Universidade Federal do Paraná), no campus de Palotina, no interior do Paraná, começou com uma brincadeira, chamada pelos alunos como sendo um "Trote limpo". A afirmação é do calouro de medicina veterinária João Marcos Lotici, ouvido pelo UOL.

Ele teve várias queimaduras pelo corpo durante o trote promovido pelos veteranos da universidade, em um terreno que fica em frente à instituição, na última quarta-feira.

"Nós tivemos primeiro o trote limpo, em que fomos aos semáforos para pedir dinheiro, com o cabelo raspado e pintados com tinta. Nesta parte foi super tranquilo e divertido. De última hora, quando terminou essa parte, veio o trote sujo. Eles [os veteranos] fizeram todo mundo se ajoelhar no chão, passar uma cebola de boca em boca, jogaram leite azedo, água fria e por último a creolina no nosso corpo", conta.

Ele relata que a humilhação pegou todo mundo de surpresa.

"Eu e mais três pessoas perguntamos o que era esse produto e no começo achamos que era azeite. Eles não falaram nada e foi aí que começaram a jogar o produto na nossa nuca e no cabelo. Nisso começou a arder muito, queimar demais e todo mundo começou a gritar de muita dor, sem saber o que fazer", relembra.

Um vídeo divulgado pela Polícia Civil mostra a interação entre os alunos. Nas imagens, os calouros aparecem com tintas pelo corpo, ajoelhados e passando uma cebola de boca em boca.

Segundo o delegado Pedro Lucena, garrafas de creolina foram apreendidas e agora está sendo investigado se foi esse o produto que provocou as queimaduras.

Ritual de 'boas-vindas'

A recepção de novos estudantes, com o famoso trote, ainda é comum em muitas universidades brasileiras. A "brincadeira" feita pelos veteranos é uma forma de dar boas-vindas aos calouros pela passagem estudantil para a universidade. Porém, com vários relatos de humilhações e agressões, o trote passou a ser banido por muitas instituições nos últimos anos.

Para evitar ações violentas com os novos alunos, a Universidade Federal do Paraná criou a campanha Trote Solidário. A ideia é promover a integração dos calouros com a instituição e incentivar ações de cidadania.

"Esses estudantes que promoveram o ato violento contra esses calouros são egressos de 2020. Isso não se trata de um trote e é uma situação que não conseguimos classificar. A gente promove um programa que estimula o trote solidário, com pinturas em escolas e hospitais, por exemplo", explica a pró-reitora de assuntos estudantis da UFPR, Maria Rita de Assis César.

As ações, criadas em 2017, têm estimulado não só os calouros, como também os acadêmicos mais antigos.

"É um momento de integração com a comunidade universitária, já que é um mundo diferente para esses alunos. A UFPR consegue controlar esse tipo de ação e reforçar que é contra qualquer tipo de violência neste momento de integração. No ano passado, por exemplo, conseguimos pintar várias escolas em Curitiba e lotamos cinco ônibus com estudantes. Essa sim é uma participação intensa e marcante", finaliza a pró-reitora.