MT: Jararaca pica policial penal, que morre após demora para tomar antídoto
A policial penal Luciene Pedroza Moreira Santos, 44, morreu após ter sido picada por uma cobra jararaca (Bothrops jararaca) em um sítio na zona rural de Campo Verde, a 139 km de Cuiabá (MT). O hospital para onde ela foi inicialmente socorrida não tinha o soro antiofídico, tratamento necessário para combater o veneno da serpente, de rápida ação no organismo humano, e ela precisou ser transferida para receber o antídoto. No entanto, a vítima já chegou num estado de comprometimento avançado dos rins e acabou morrendo poucos dias depois.
Segundo informou Sindspen-MT (Sindicato dos Servidores Penitenciários de Mato Grosso), o acidente que levou a policial à morte ocorreu na quarta-feira (20), enquanto ela recolhia roupas no quintal da casa do sítio da família. Ela morreu na segunda-feira (25) e foi enterrada ontem em Quirinópolis (GO), onde a família dela mora.
O marido, Luiz Conceição Santos, disse que ela não notou a presença da jararaca e acabou sendo atacada. Socorrida, Luciene foi levada ao Hospital Municipal de Campo Verde. Porém, segundo o representante do sindicato, Lucivaldo Vieira, não havia soro antiofídico na unidade.
"Ela então tomou o remédio que o médico do plantão receitou e a levaram para Rondonópolis. Com esse lapso de tempo, até tomar o soro, a situação dela se complicou. Vindo a parar os rins e formar coágulos no cérebro"
O UOL entrou em contato com a secretaria de saúde do município, mas até o fechamento desta reportagem, o órgão não havia respondido.
A policial penal teve que ser encaminhada para o Hospital Regional de Rondonópolis, distante 138 km da unidade de saúde e 218 km de Cuiabá. Os médicos que atenderam Luciene informaram que ela teve complicações renais por causa do veneno e precisaria de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para fazer hemodiálise. O procedimento seria uma tentativa de urgência de limpar e filtrar o sangue da vítima, já que os rins não estariam mais funcionando apropriadamente.
O marido informou ao sindicato que a policial penal entrou no hospital consciente e falando. No dia seguinte, porém, seu quadro de saúde se agravou. Os médicos identificaram um coágulo no cérebro. Luciene teve que passar por uma cirurgia para a remoção do acúmulo de sangue, mas ela acabou morrendo.
O Sindspen emitiu uma nota de pesar lamentando a morte da policial. Ela trabalhava na Colônia Penal Palmeiras. "Neste momento de imensa tristeza, desejamos a todos que compartilhavam de sua vivacidade, alegria e humildade nossos sinceros sentimentos de pesar", diz trecho da nota.
Muitas cobras, muita terra, mas poucos locais com soro
Ao UOL, o secretário-geral do Sindspen-MT disse que o estado de Mato Grosso tem uma dificuldade muito grande na aquisição de soro antiofídico. "Apesar de ser um estado de dimensão continental e dentro da floresta amazônica, infelizmente, nós não temos um laboratório ou unidade do Instituto Butantã aqui. Matéria-prima temos de sobra; tem muitas cobras aqui", declarou.
"Tanto nós, servidores penitenciários, quanto os sitiantes e moradores de áreas rurais aqui do estado clamam por um laboratório do Butantã. A própria Luciene trabalhava em uma unidade agrícola, um centro de ressocialização, que fica distante de Cuiabá. E lá também não há esse tipo de soro para uma emergência, então quem trabalha nas zonas rurais está exposto".
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde do Mato Grosso informou que a paciente deu entrada no Hospital Regional de Rondonópolis à meia-noite do dia 20 de abril. A paciente teria sido avaliada pelo médico de plantão e recebido imediatamente 10 frascos de soro antibotrópico.
A secretaria disse ainda que há, em Mato Grosso, 409 frascos de soro antiofídico, sendo que a distribuição do insumo é realizada para as 16 Regionais de Saúde, entre as quais estão: Rondonópolis (Hospital Regional de Rondonópolis), que abrange o município de Campo Verde, e Cuiabá (Hospital Municipal de Cuiabá), que concentra as maiores quantidades de soro.
No Brasil, as picadas de jararaca (Bothrops jararaca) respondem por cerca de 90% do total de acidentes com humanos envolvendo serpentes.
O veneno da jararaca pode provocar lesões no local da picada, tais como hemorragia e necrose que podem levar, em casos mais graves, a amputações dos membros afetados.
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