Mulher 'implorou por lona' para conter barreira 3 dias antes de tragédia
Ruth Soares, 44, uma das vítimas de um deslizamento no Alto Santo Antônio, em Camaragibe, região metropolitana do Recife, pressentiu que a barreira onde ficava sua casa estava cedendo e, três dias antes da tragédia, procurou ajuda da Defesa Civil. O corpo de Ruth foi encontrado hoje por bombeiros. A irmã dela, Mércia do Nascimento, continua desaparecida.
"Na quarta-feira [25], depois que as casas foram destruídas, ela subiu de sombrinha e falou com o pessoal da Defesa Civil e implorou para os técnicos instalarem uma lona [plástica], pois sentia que a barreira estava caindo. Eles disseram que vinham colocar, mas não vieram e olha o que aconteceu", relatou ao UOL a dona de casa Juliana Santana, moradora do Alto Santo Antônio.
Na quarta-feira, o Alto Santo Antônio já havia sido cenário de um deslizamento de terra. Uma barreira desmoronou destruindo duas casas. Ninguém ficou ferido. Mas a lona pedida por Ruth só foi instalada no domingo (26), dia seguinte à tragédia.
As lonas plásticas presente na maioria dos morros do Grande Recife deveriam ser um paliativo, mas a falta de investimentos para a construção de estruturas permanentes, como muros de arrimo, as transformaram em "solução rápida" para evitar catástrofes ainda maiores. Elas impedem que a água da chuva penetre nas barreiras, evitando que o terreno fique úmido e desmorone.
As irmãs estavam dentro de casa, quando a barreira desmoronou em razão das chuvas que atingem Pernambuco desde a quarta-feira. Ao menos 91 pessoas morreram no Grande Recife e cerca de 5.000 perderam ou tiveram de deixar suas casas em áreas de risco.
"Eu estava em casa, quando ouvi um barulho muito alto. Quando abri a porta de casa me deparei com a cena. Eu fiquei sem ação, mas quando vi os vizinhos correndo pra ajudar eu também fui. Meu alívio foi ver meus filhos com vida", diz Paulo Sérgio da Conceição, ex-marido de Ruth.
Os filhos dele ficaram feridos no deslizamento e estão internados em uma unidade de saúde.
A secretária de Defesa Civil de Camaragibe, Katia Marsol, lamentou a demora na instalação da proteção e resumiu a situação como uma "fatalidade".
"Camaragibe é composto por 80% de morros. Quando começou a chover, na quarta-feira, a gente começou a colocar lona em todos os bairros. Se não deu tempo de chegar no dela, foi uma fatalidade, porque a gente está colocando em todas as áreas."
'Ou se chora com o que perdeu ou sorri com o que sobrou'
Nesta segunda-feira (30), o trabalho dos bombeiros precisou ser interrompido em razão de chuva intensa. O grande volume de barro que se concentra na área onde os militares dizem acreditar que as irmãs estejam soterradas e a impossibilidade da utilização de equipamentos de grande porte, como uma retroescavadeira, dificultam as buscas.
"O acesso a essa área é muito ruim e arriscado. O trabalho das equipes só pode ser feito de forma manual. Ainda tem o risco de novos deslizamentos. É um olho aqui e outro no céu. Mas só vamos sair quando as duas forem encontradas", disse o coronel Rogério Coutinho, comandante do Corpo de Bombeiros de Pernambuco.
Ao todo, quatro imóveis vieram abaixo após o deslizamento da barreira e outros dez precisaram ser interditados porque correm risco de desabar. A casa onde o ambulante Jorge Gonçalves Monteiro, 42, mora com a família está nessa lista.
O impacto no solo provocou o surgimento de rachaduras no chão e nas paredes do imóvel. Isso fez com que, ainda no sábado, técnicos da Defesa Civil de Camaragibe orientassem a família dele a deixar o local.
"Quando eu vi a situação, só fiz chorar. Uma coisa que eu trabalhei tanto para ter e o pouquinho que consegui ser destruído dessa forma é muito triste. Mas o que vale é a vida, né? Como se diz: ou se chora com o que perdeu ou sorri com o que sobrou. Minha mãe, minha esposa e minha filha estão vivas e isso é o que importa", disse, emocionado.
O último balanço divulgado pela Prefeitura de Camaragibe aponta que entre a sexta (27) e a manhã desta segunda, setes pessoas morreram e 22 ficaram feridas. Foram contabilizados 250 deslizamentos e 126 casas foram atingidas, deixando 47 famílias desabrigadas e 11 desalojadas.
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