Topo

PE: Vizinhos que ajudavam em resgate morrem em 2º deslizamento, diz morador

Walisson Rafael foi um dos primeiros moradores a ajudar no resgate das famílias soterradas  - Arnaldo Sete / Colaboração para o UOL
Walisson Rafael foi um dos primeiros moradores a ajudar no resgate das famílias soterradas Imagem: Arnaldo Sete / Colaboração para o UOL

Jeniffer Oliveira

Colaboração para o UOL, em Recife

30/05/2022 04h00

Moradores do Jardim Monte Verde, no Ibura, bairro do Recife onde um deslizamento em decorrência das chuvas no sábado (28) deixou ao menos 21 mortos, morreram enquanto tentavam ajudar pessoas soterradas, segundo relatou ao UOL o morador Walisson Rafael, 28.

De acordo com ele, três das vítimas eram vizinhos seus que chegaram para resgatar as famílias no primeiro deslizamento e acabaram sendo atingidos por um novo deslocamento de terra. "Graças a Deus que eu cheguei pouco depois. Se eu tivesse chegado minutos antes, eu ia estar lá também. Eu e o vizinho. Eu fiquei esperando ele pegar o guarda-chuva e foi o tempo de demorar mais para chegar."

Walisson foi um dos primeiros moradores a ajudar no resgate. "Quando cheguei lá, às 6h da manhã, o negócio já tava muito triste, aquela agonia, não tinha quase ninguém lá na frente para ajudar. Depois, começou a chegar gente que eu nunca vi", disse ele.

Após a tragédia, ele falou da falta de perspectiva que assola a comunidade. "A gente aqui não vai pra outro lugar porque não tem para onde ir. Até porque toda a localidade daqui é de risco, a gente não tem família longe."

Ao menos 79 mortos por causa das chuvas no Grande Recife foram identificados entre sexta-feira (27) e a noite de domingo (29), segundo informou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB). Ontem, ele disse que não havia clareza sobre o total de pessoas desaparecidas.

O estado registra 3.957 desabrigados. O governo decretou situação de emergência, assim como 14 municípios da região metropolitana.

'Pegar o corpo na sua mão é uma cena muito triste'

Após os deslizamentos de terra, Walisson chegou a trabalhar por cerca de 20 horas no resgate de vítimas. "Eu mesmo não aguento ficar mais ali embaixo, porque você pegar o corpo na sua mão é uma cena muito triste", diz ele.

Alguns dos cadáveres que Walisson ajudou a localizar eram de pessoas que faziam parte de seu cotidiano. De acordo com ele, o que mais o chocou foram os corpos de crianças encontrados entre os escombros.

"Eu não me imagino passar por essa situação, porque eu tenho uma menina de três anos. Eu ver minha filha assim no braço assim, morta, é muito triste", afirmou ele.

Walisson - Jeniffer Oliveira/UOL - Jeniffer Oliveira/UOL
Walisson Rafael mora com a filha e a esposa às margens de uma barreira com bastante vegetação crescida em Pernambuco
Imagem: Jeniffer Oliveira/UOL

Casa de Walisson fica em área de risco

Situada em local próximo de onde ocorreram os desabamentos, a casa onde Walisson mora com a esposa e a filha fica no alto de uma rua, mas não está livre de riscos. Ele lembra que, há 20 anos, um casal morreu soterrado em um deslizamento de terra bem perto dali.

"A gente mora em uma área complicada. Como a gente mora em área de barreira, o perigo é tanto para quem está em cima como para quem está embaixo", diz ele.