Topo

"A Mulher da Casa Abandonada": saiba como estão os personagens do caso

Margarida, protagonista do podcast "A Mulher da Casa Abandonada", de Chico Felitti - Instagram/@amulherdacasaabandonada
Margarida, protagonista do podcast 'A Mulher da Casa Abandonada', de Chico Felitti Imagem: Instagram/@amulherdacasaabandonada

Gabriel Dias

Colaboração para o UOL

06/07/2022 04h00Atualizada em 06/07/2022 10h33

O podcast "A Mulher da Casa Abandonada", produzido pelo jornalista Chico Felitti para a Folha de S.Paulo, virou sucesso nas principais plataformas de streaming ao contar a história de Margarida Bonetti, que vive em uma mansão abandonada em Higienópolis, um dos bairros mais caros de São Paulo.

A moradora da mansão, uma mulher que esconde o rosto com pomada branca, escapou da lista de procurados do FBI por acusações de crimes que cometeu nos Estados Unidos entre a década de 1970 e a virada dos anos 2000.

O podcast narrativo, dividido em sete capítulos, investiga como Margarida e o marido, Renê Bonetti, "ganharam de presente" uma empregada doméstica quando se casaram e mudaram para os Estados Unidos. O casal se instalou no estado de Maryland, em uma cidade nos arredores de Washington DC, onde viveram com a funcionária, que vivia em condições análogas à escravidão.

A vítima não era remunerada pelo trabalho e sofria agressões dos patrões, até que conseguiu fugir enquanto o casal fazia uma viagem ao Brasil. O crime foi investigado pelo FBI, e Renê foi condenado a seis anos de prisão, mas Margarida conseguiu fugir para São Paulo.

Saiba o que aconteceu com os principais personagens do podcast:

A mulher

A mulher, que atendia pelo nome de Mari, é Margarida Bonetti, de uma das famílias mais tradicionais de São Paulo. Ela é procurada pelo FBI dos Estados Unidos por ter escravizado uma empregada durante duas décadas.

Mari fugiu para o Brasil após o falecimento do pai e nunca mais foi julgada. Desde o início da virada do século, ela mora na casa de Higienópolis, onde conviveu por alguns anos com a própria mãe, que morreu alguns anos depois. Depois que a mãe faleceu, em 2011, a mansão deixou de ser cuidada e ganhou os traços de casa abandonada que tem hoje.

No podcast, o jornalista Chico Felitti explica que o Brasil não expatria seus cidadãos nacionais para serem julgados em outros países. Ou seja, mesmo sabendo onde Margarida vive, a mulher não poderia ser presa e levada aos EUA para cumprir pena.

Entretanto, com o lançamento do conteúdo no streaming, ela não foi mais vista na região. Não se sabe ao certo quando Margarida abandonou a mansão de Higienópolis.

O marido

Margarida fugiu dos Estados Unidos quando a história foi descoberta pela polícia norte-americana. Assim, ela deixou para trás o marido Renê Bonetti, cúmplice dela no crime.

Ele foi julgado pela Justiça dos Estados Unidos e condenado a 6 anos e meio de prisão, sem direito à liberdade condicional, e o pagamento de US$ 100 mil de multa ao Estado e, no mínimo, US$ 110 mil em salários devidos à vítima.

O engenheiro eletrônico Renê Bonetti cumpriu a pena em uma prisão federal e hoje é diretor na Northrop Grumman Corporation, uma empresa que presta serviço à Nasa (em inglês: National Aeronautics and Space Administration), de acordo com o que foi apurado por Chico Felitti para o podcast "A Mulher da Casa Abandonada".

A empregada

No final da década de 1970, Margarida e Renê se casaram no Brasil e decidiram se mudar para os EUA, levando com eles a empregada doméstica, uma mulher brasileira analfabeta, que antes trabalhava na casa dos pais da mulher e foi dada como "presente" ao casal.

A mulher, que teve sua identidade preservada pelo podcast, foi mantida pelo casal sem receber pagamento pelo seu serviço, sem direito a folgas e férias e sendo vítima constante de agressões e humilhações.

Em um dos episódios de violência, Mari chegou a jogar uma panela de sopa quente no rosto da vítima, que era obrigada a trabalhar das 6h às 22h. Nas ocasiões em que ela foi lesionada, teve atendimento médico negado apesar de fraturas e ossos quebrados.

A situação só chegou ao fim quando a vítima conseguiu fugir durante uma viagem de férias do casal. Ela recebeu ajuda de uma vizinha, que deu abrigo e denunciou a situação à polícia. Enquanto as autoridades policiais investigavam o caso, ela ficou escondida durante dois anos em uma igreja da cidade.

Atualmente não há registro de onde esteja a vítima, mas, de acordo com a vizinha, ela está bem e vive legalmente em território americano recebendo uma pensão do governo. Foi graças ao caso da empregada que o congresso americano alterou as regras em relação aos crimes de escravidão cometidos contra pessoas estrangeiras.

Sobre uma afirmação de Margarida de que ela ainda mantinha contato com a ex-empregada, a vítima negou em rápido contato por telefone com Chico Felitti. "Não, eu não falo com ela desde que aconteceu esse problema", disse a vítima ao podcast.

A vizinha

A vizinha que ajudou a empregada a fugir e denunciou o casal para o FBI foi Vicky Schneider, que foi ouvida por Chico Felitti no terceiro episódio do podcast. Ela ainda vive na mesma casa, ao lado da antiga residência dos Bonetti, na pacata cidade americana de Gaithersburg.

"Primeiro eu entrei em contato com a igreja, com o padre, e contei tudo o que estava acontecendo. Depois entrei em contato com uma advogada famosa da região, que ajudou a formular a denúncia para o FBI", comentou a vizinha no podcast.

Vicky Schneider foi responsável por convencer a brasileira a permitir que os patrões fossem investigados pelas autoridades policiais. Ela também auxiliou a empregada a buscar atendimento médico.

A casa abandonada

A casa abandonada de Margarida Bonetti fica localizada na Rua Piauí, no bairro nobre de Higienópolis, em São Paulo. Com a história contada no podcast, o local acabou se tornando um 'ponto turístico' de São Paulo.

Nos últimos dias, moradores da região têm relatado que o número de pessoas em frente à mansão tem aumentado drasticamente. A polícia precisou ser acionada por conta dos barulhos feitos pelos visitantes.

Alguns jovens têm gravado vídeos e danças em frente à residência, como se realmente fosse um ponto turístico. Além disso, os muros foram marcados com xingamentos.

Os cachorros

Resgate dos cachorros na 'casa abandonada', tema de podcast do jornalista Chico Felitti - Reprodução/Instagram/@institutoluisamell - Reprodução/Instagram/@institutoluisamell
Resgate dos cachorros na 'casa abandonada', tema de podcast do jornalista Chico Felitti
Imagem: Reprodução/Instagram/@institutoluisamell

Logo no primeiro episódio, os ouvintes do podcast são apresentados a Ebony e Ivory, cachorras de guarda de Margarida Bonetti. Ambas são vira-latas e de grande porte.

No último domingo (3), o delegado Bruno Lima e a equipe do Instituto Luisa Mell foram ao local para efetuar o resgate dos animais que foram abandonados após o sumiço da mulher. Um dos cachorros, inclusive, estava com um tumor.

Logo após o resgate, os animais foram levados para o Instituto Luisa Mell, onde estão recebendo os cuidados necessários.

Em vídeos publicados no Instagram do Instituto Luisa Mell, o delegado Bruno Lima, conhecido por apoiar a causa de defesa dos animais, disse que a Vigilância Sanitária e o Centro de Zoonoses também foram acionados para verificar o local.

"Falamos com vários vizinhos aqui do entorno, isso aqui é um problema antigo no bairro. Isso é um celeiro de doenças, na verdade, é um problema de zoonose, vigilância sanitária", afirmou.

O podcast "A Mulher da Casa Abandonada" é apresentado e escrito por Felitti, autor do livro "Ricardo & Vânia", que narra a história de vida de um artista de rua conhecido como Fofão da Augusta, e que foi finalista do Prêmio Jabuti de 2020. Dividido em sete episódios, o conteúdo vai ao ar toda quarta-feira.