Após parar 'atirador esportivo', PM descobre arsenal e laboratório de droga
Um suspeito de integrar facção criminosa alegou ser "atirador esportivo" durante uma abordagem de policiais militares em Goiás. A polícia descobriu, no entanto, que o homem guardava um arsenal de armas pesadas e mantinha um laboratório de refino de cocaína em casa.
Matheus Pereira da Silva, de 26 anos, foi abordado pela PM em um Jeep Compass, na cidade de Trindade (região metropolitana de Goiânia), na noite de quinta-feira (21). Ele portava uma pistola 9 milímetros, falou que era CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) e mostrou o documento da arma junto ao Exército - órgão responsável por conceder os registros de CAC.
"A priori, ele [o suspeito] poderia ser liberado, porque a pistola estava registrada, tudo certo. Só que nossos policiais continuaram as buscas [no veículo] e encontraram munição de fuzil, que ele não tinha autorização para portar", diz o tenente-coronel Alex Neves, comandante do Grupamento de Intervenção Rápida Ostensiva (Giro), unidade que realizou a operação.
Na casa do suspeito, os policiais encontraram equipamentos e insumos de um laboratório de refino de cocaína. Entre os insumos, segundo a PM, estavam quatro quilos que seriam de pasta-base de cocaína e outros nove quilos do que seria a droga já pronta para consumo. O material seguiu para a perícia.
Além disso, enrolados em um lençol, estavam dois fuzis (um deles, AR-15), duas espingardas semiautomáticas, duas carabinas e duas pistolas com kit de rajada. Nenhuma delas tem a numeração raspada. O UOL enviou os dados para o Exército, que não confirmou se são armas legais de CAC. A PM-GO acredita que o arsenal seja ilegal, fruto de contrabando.
A polícia apreendeu ainda cerca de 500 munições na casa do suspeito. Algumas estavam em embalagens fechadas da Companhia Brasileira de Cartuchos. Não se sabe se foram adquiridas de forma legal. Todo o material apreendido, entre armas e insumos para produção de drogas, foi avaliado em mais de R$ 1 milhão.
Informações iniciais apontam que o arsenal e o laboratório de drogas pertenciam à facção criminosa Amigos do Estado, atuante em Goiás. O homem preso em flagrante disse que recebia R$ 15 mil mensais para guardar o material e fazer a entrega das drogas, segundo a polícia.
A reportagem ligou, mandou mensagem e e-mail para o advogado do suspeito, mas não teve retorno. Também telefonou para o celular de uma empresa registrada em nome de Silva, sem sucesso.
Aumento de armas de CAC
A descoberta do laboratório e do arsenal em Goiás é apenas o mais recente episódio em que um suspeito de ligação com facção criminosa circulava com uma arma com o documento exigido por lei — no caso, a pistola encontrada no carro.
A apreensão de Goiás ocorre apenas uma semana depois de operação que encontrou armas legais com um membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), em Uberaba (MG). O suspeito conseguiu registrar as armas no Exército, apesar de ter uma longa ficha criminal. O caso foi revelado pela Folha.
Em janeiro, um colecionador também registrado no Exército foi preso no Rio de Janeiro suspeito de vender um arsenal para traficantes do Comando Vermelho. Com ele, foram apreendidos 26 fuzis, 21 pistolas, três carabinas, dois revólveres, uma espingarda, um rifle e um mosquetão.
O episódio de Goiás também expõe uma fragilidade dos órgãos de segurança para a checagem da origem de armamentos. A base de dados do Exército com informações de CAC não está integrada aos sistemas das polícias. Por isso, a PM não tem como verificar imediatamente a autenticidade dos documentos apresentados. O mesmo ocorre com a Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal.
Isso dificulta do patrulhamento à investigação, avalia a advogada Isabel Figueiredo, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
"Na prática, o policial não tem como confirmar se a arma está registrada no Exército. O policial na rua não sabe, o policial na delegacia não sabe. Tem que pedir informação para o Exército, é um processo demorado, burocrático, muito distante do tempo da investigação. A polícia precisa ter acesso ao sistema", diz Figueiredo.
"O Exército não está criando capacidade institucional para fiscalizar a disparada no número de armas de CAC. As falhas já estão identificadas e só estão aumentando", prossegue a advogada.
O acesso a armas foi facilitado por decretos do presidente Jair Bolsonaro (PL), que ampliaram a quantidade e o calibre permitidos para CAC. Desde então, o arsenal de CAC disparou: em junho de 2022, já se aproximava de um milhão de armas, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. É mais de quatro vezes o total de 2019.
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