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'Só sai daqui morta': mãe relata ameaças e tortura em 17 anos de cárcere

Cárcere privado: família foi mantida 17 anos presa antes de ser resgatada no RJ - Divulgação
Cárcere privado: família foi mantida 17 anos presa antes de ser resgatada no RJ Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

01/08/2022 12h26Atualizada em 02/08/2022 08h33

A mãe da família libertada de um cárcere privado após 17 anos no Rio de Janeiro disse em entrevista ao Fantástico que a situação de maus-tratos "foi piorando" com o tempo. Os filhos, de 19 e 22 anos, resgatados junto com ela, não viam o sol havia muito tempo.

À TV Globo, a mulher detalhou como eram os maus-tratos praticados por Luiz Antônio Santos Silva, 49. "Ficava sem comida, sem água e apanhando. Meus filhos eram amarrados e apanhavam de fio. E ele enforcava a gente também. Ele já era agressivo. Mas, com o decorrer dos anos, foi piorando. Eu chamava, gritava, só que os vizinhos falavam que não conseguiam escutar. Ninguém conseguia ouvir".

Em depoimento obtido pela emissora, um dos policiais relatou que os filhos "aparentavam problemas psicológicos e/ou psiquiátricos". Além disso, a prefeitura carioca alegou que ambos "só se locomovem no colo de alguém".

A mulher afirmou que era companheira do homem há 23 anos e era impedida de sair de casa, enquanto os filhos eram impedidos de ir à escola. Por tentar se separar, ela diz que ouvia ameaças dele: "Você tem que ficar comigo até o fim. Se você for embora, só sai daqui morta".

Entenda o caso

Na quinta-feira (28), uma mulher e os dois filhos foram resgatados por policiais militares em Guaratiba, no Rio de Janeiro. Eles viverem quase duas décadas sob cárcere privado. A mãe relatou que não via a luz do Sol havia 17 anos. Santos Silva, marido dela, que também é pai dos dois jovens, foi preso no local.

Segundo a PM, eles estavam em um imóvel sem condições dignas de habitação, em um chão que era de cimento, não havia água encanada, os colchões eram sujos e sem lençol. Os filhos foram encontrados amarrados e, devido ao grave estado de saúde, aparentavam ter idades entre 10 e 12 anos, de acordo com o capitão da PM William, responsável pelo resgate.

Ainda de acordo com o capitão da PM, os jovens não falavam e a mulher chegou a relatar incômodo com a luz do sol, após ser mantida tanto tempo em cárcere privado. As crianças não falavam. Não sei se por conta da situação que foram submetidas, se não se desenvolveram, ou se nasceram com alguma deficiência. A mulher foi quem nos disse que estava naquela situação há 17 anos e os vizinhos confirmaram que ela nunca era vista na rua.

Segundo o militar, o homem preso no local informou que era trabalhador e alegou que os filhos tinham problemas psicológicos e por isso precisavam ficar amarrados.

Santos Silva teve a prisão temporária convertida em prisão preventiva e foi autuado em flagrante pelos crimes de tortura, cárcere privado e maus-tratos. Informalmente, ele alegou que queria proteger os filhos por terem deficiência.

A Clínica da família Alkindar Soares Pereira Filho informou que notificou a suspeita de maus-tratos em 2020 ao Conselho Tutelar da região. Já o Conselho Tutelar disse que acompanha o caso há dois anos e que o Ministério Público e polícia foram acionados, mas nada havia sido feito até semana passada.

O MP disse ter tomado ciência dos fatos em março de 2020 e "havia tomado todas as medidas pertinentes, sobretudo, quanto à notícia dos fatos ao 27º Batalhão da Polícia Militar e à Polícia Civil, gerando, inclusive, registro de ocorrência com vistas à cessação da prática do crime de cárcere privado" e que "não houve nenhuma informação posterior no sentido de que a violência não fora estancada, motivo pelo qual, está sendo apurada a atuação posterior do Conselho do Tutelar e da rede de proteção".