Pesquisador e fã do Brasil: quem era o americano morto baleado no Rio
O turista norte-americano Trey Thomas Joseph Barber, 28, que morreu após ter sido atingido por uma bala perdida no Rio de Janeiro, amava o Brasil e estava muito feliz antes de morrer, segundo a amiga que o hospedava em sua casa, Bianca Silva. Barber tinha paixão pelo Brasil por causa das músicas, danças e costumes. E se preparava para realizar o sonho de morar no país.
Barber atuava como pesquisador de línguas estrangeiras em seu país natal, os Estados Unidos. Ele morava com a mãe e a irmã, em Los Angeles, na California, e era formado em Letras, Estudos Gerais e Ciências Humanas, pelo Venture College, e possuía bacharelado em Língua Portuguesa pela UCSB (Universidade da Califórnia de Santa Bárbara).
Em 2020, iniciou estudos na área da Filosofia, ingressando em um doutorado na UCLA (Universidade da Califórnia de Los Angeles). Desde o ano passado, lecionava Português como professor assistente, na mesma universidade.
Especialista em Português
Em um post publicado pela universidade no ano passado, Barber afirmava que pretendia, como pesquisador da língua portuguesa, desenvolver uma melhor compreensão, especialmente com relação à sua semântica. Ele queria se tornar um especialista em Português.
"Espero que minha pesquisa futura nesta área não apenas forneça a outros tradutores uma compreensão mais completa do idioma, mas também ajude outros alunos de português com uma abordagem mais direta de sua gramática e vocabulário muitas vezes desconcertantes", escreveu no post.
"Também me interesso pela tradução de obras literárias de autores do cânone literário brasileiro, incluindo, mas não limitado a: Machado de Assis, Rubem Fonseca, Érico Veríssimo e Mário de Andrade. Uma questão que me interessa particularmente é a ideia de intraduzibilidade; a ideia de que certas palavras ou frases em uma língua não têm equivalente quando traduzidas para outra", explicou o então estudante.
"Ele amava o Brasil", contou ao UOL Bianca, a amiga carioca que hospedava Barber em sua casa, no Rio de Janeiro.
"Ele tem roupas com a bandeira do Brasil, da Bahia que ele queria conhecer, nós iríamos viajar em setembro para Arraial do Cabo para passar um final de semana também".
"Ele estava muito feliz, a gente levou ele para conhecer vários lugares. Essa era a segunda vez que ele viajava para o Brasil, ficando uns dias. Ele estava super animado. Mas aí aconteceu essa fatalidade", lamentou.
"A mãe dele me enviou uma foto que ela tirou do céu quando soube que ele tinha morrido. Um pôr do sol com nuvens formando a letra 'T' de ponta cabeça. Ela me agradeceu muito por termos cuidado do filho dela", completou.
O ator e modelo Mikael Oliveira, que se considerava como seu melhor amigo, ficou desolado. Em seus stories no Instagram, ele lamentou a morte do parceiro e afirmou que morar no Brasil era o maior sonho do americano.
"O Mikael era como um irmão para ele. Nós ficamos o tempo todo no hospital, segurando a mão dele. Teve uma hora que o Trey, mesmo inconsciente, ficou com lágrimas nos olhos e a gente se emocionou muito. Por um momento, acreditávamos que iria acordar, que sairia dessa".
Bianca conta que falou com Barber pela primeira vez através do amigo ator, que o conheceu num aplicativo de línguas em que a pessoa aprende um idioma e ensina outro para o seu professor. No caso, Mikael aprendia inglês com o americano, que aprendia Português com o ator.
"Trey sofria de depressão e o Mikael o ajudou a melhorar, incentivou a estudar e fazer faculdade e ai ele conseguiu concluir a faculdade e virou professor de Português. Cinco anos atrás, ele veio ao Brasil para um intercâmbio e se apaixonou pelo jeito dos brasileiros, pela cultura, pela união e pelo carinho que a gente tem com as pessoas".
Caipirinha com cachaça
Segundo os amigos, Trey era solteiro, um tanto tímido, e, além de ser um amante da cultura e da literatura brasileira, amava caipirinha. Um dia antes de morrer, Bianca conta que ela e Mikael saíram com ele para brindar à vida. Com direito a caipirinha original, com cachaça.
"Ele disse para gente que nos amava. Que o maior desejo da vida dele era comprar uma casa no Rio de Janeiro para que pudesse morar com a família que escolheu, que éramos nós, seus amigos brasileiros. Ele era muito culto, inteligente, bondoso, um cara do bem. Essa foi a nossa despedida dele".
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