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Suspeito de furtar R$ 30 é agredido com paulada e ferro quente nas mãos

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

27/08/2022 15h10Atualizada em 27/08/2022 18h47

Dois funcionários de uma loja em Salvador foram agredidos após serem acusados pelo patrão de furtar dinheiro do estabelecimento, localizado próximo à Estação da Lapa, região central da cidade. Eles receberam pauladas nas mãos, e pelo menos um teve o número 171 marcado na pele, em referência ao artigo do crime de estelionato no Código Penal.

O caso aconteceu em 19 de agosto, mas o boletim de ocorrência só foi registrado pelos trabalhadores na sexta-feira (26), confirmou a Polícia Civil ao UOL.

Um vídeo mostra uma das sessões agressão. Ele teria sido gravado pelo gerente da loja, identificado no boletim de ocorrência apenas como George.

Nas imagens, uma das vítimas, William de Jesus, 21 anos, recebe golpes de madeira dados por um segundo homem, Alexandre Carvalho Santos, proprietário do estabelecimento. Ele prestou depoimento e foi liberado no mesmo dia.

O UOL não conseguiu localizar os agressores nem as respectivas defesas para ouvir suas versões. O texto será atualizado tão logo haja manifestação de representantes legais.

'Corretivo'

Enquanto grava as agressões, o homem identificado como George ironiza os gritos de dor do acusado de furto, a quem diz ser alvo de um "corretivo" por supostamente ter furtado R$ 30. Ele o obriga a estender as mãos com as palmas abertas para cima, enquanto dá os golpes de madeira.

"Mais um ladrão, pessoal, ó. Trabalhou pra mim aqui. A gente deu moral, deu confiança, e ele aí metendo mão no dinheiro. Botei uma isca pra ele... Falei pro meu primo aqui que eu ia pegar ele. Botei R$ 30 embaixo do balcão e mandei ele limpar e mudar o balcão, e ele fez a festa. Ele agora tá colhendo o que ele plantou aí", diz o patrão, descrito por um dos trabalhadores como sendo "evangélico".

"Ele disse que conhece a palavra [de Deus], mas não gosta de praticar. A gente está dando um corretivo aqui, porque, se levarmos ele pra rua, os caras vão querer matar. A gente não quer matar ele. Então é só um corretivo", justifica o homem.

O agressor também ri da contagem das pauladas, que foi corrigida pela vítima: "Agora ele está honesto, falou a verdade".

O outro funcionário relatou que teve uma bola de pano colocada na boca e as mãos marcadas com o número 171. O agressor usou ferro de passar para fazer a inscrição.

Vídeos são provas de agressões, diz polícia

A Polícia Civil trata a denúncia como tortura contra os agora ex-funcionários. O caso é investigado pela 1ª DT (Delegacia Territorial) dos Barris). Ao UOL, a Polícia Civil informou que vídeos gravados pelos próprios autores do crime servirão como provas das agressões. Se julgados, podem ser condenados a pena de dois a oito anos de prisão.

Após serem ouvidas pelo delegado William Achan, responsável pelo caso, as vítimas foram encaminhadas para o DPT (Departamento de Polícia Técnica) para o exame de corpo de delito.