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MP: Mensagens indicam briga em Bonde do Zinho e sobrinho dele como sucessor

Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia do RJ  - Reprodução
Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia do RJ Imagem: Reprodução

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

27/08/2022 04h00

Trocas de mensagens obtidas pela Polícia Federal e pelo Gaeco/RJ (Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público) revelam uma briga entre as duas principais lideranças do Bonde do Zinho, maior milícia do Rio.

Conversas de integrantes da milícia, por meio do WhatsApp, também indicam que um sobrinho de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho —que já teve dois irmãos que chefiavam o grupo paramilitar mortos pela polícia—, é considerado hoje um sucessor natural do chefe da organização criminosa.

O desentendimento se deu entre Zinho e Rodrigo dos Santos, o Latrell, preso em março em São Paulo e apontado como o segundo na hierarquia da milícia. Operação contra o Bonde do Zinho realizada nesta semana não conseguiu prendê-lo.

Segundo o MP-RJ, mesmo fora do Rio, Latrell continuou a ajudar na administração do grupo paramilitar e a receber parte dos lucros obtidos pela milícia.

A função do nº 2 do Bonde do Zinho na milícia. Segundo as investigações, Latrell era "o verdadeiro administrador da associação criminosa, cuidando de todas as atividades por ela desempenhadas, desde as mais corriqueiras às mais sofisticadas".

Ele atuava, por exemplo, no levantamento de movimentações da milícia rival —grupo liderado por Danilo Dias, o Tandera—, visando a autoproteção do Bonde do Zinho, e dos dados pessoais dos rivais para planejamento de atentados. O MP-RJ diz que Latrell também coordenou uma rede de informantes, que envolve policiais da ativa.

De acordo com o MP, Latrell era um homem de compromisso inabalável com a organização criminosa. Em uma das mensagens obtidas, ele fala em matar seus rivais.

"Agradeço a Deus mais um ano de vida, agradeço por me manter de pé, minha alegria é acordar todos os dias e pensar, ganhei mais um dia para fazer da vida dos meus inimigos um inferno, mais um dia para ceifar a vida deles."

Essa mensagem foi assinada por ele como "Família Braga e tropa do Z [Zinho]". No WhatsApp, ele aparece com o apelido de Eclesiastes 3 e se referia à milícia como "empresa".

Intenção de deixar a milícia desagradava integrantes. As investigações mostram que, em uma troca de mensagens com um interlocutor do grupo, Latrell deixa evidente que teve um desentendimento com Zinho, o que motivou sua intenção de deixar o grupo.

Patrick da Silva Martins: "Por mais que você não tenha tido nada no passado, por escolha de Deus você teve um momento da sua vida muito farto e acabou acostumando a sua família dessa forma com fartura. Então irmão o baque quando a gente desce é foda demais."

Latrell: "Irmão, se eu fico eu ia ter que posicionar, não vou levantar uma munição para amigo meu, ia acabar em banho de sangue, e eu jamais derramaria o sangue da família do Ecko [irmão de Zinho e ex-chefe da milícia morto em junho de 2021 pela polícia]. É isso que separa ele de mim, um bloqueio, então a vantagem dele é essa."

Em outro momento, Latrell reforça a lealdade a Ecko: "E tem aquela parada que envolve o Ecko. Eu prometi que ia ficar até final. Mas tem coisa que anula isso".

Segundo o MP, Patrick é um fornecedor de armas para a milícia. Ele enviou fotos e especificações técnicas de uma pistola da fabricante Canik, de calibre 9 mm, para um integrante chamado de Azeitona, que repassou os dados a Latrell.

Segundo a polícia, Geovane da Silva Mota assumiu a posição de Latrell quando ele foi preso. No entanto, Geovane —vulgo GG— foi detido na quinta-feira (25) na operação da PF e do Gaeco.

Investigações indicam sucessor de Zinho. De acordo com o MP, o núcleo duro da organização conta com Matheus da Silva Rezende, chamado de Teteus ou Faustão. Ele é sobrinho de Zinho.

Segundo o MP, Matheus é apontado como uma das cinco principais lideranças da milícia e provável sucessor natural do tio.

"Ele [Matheus] participara de negociações para aquisição de armas de fogo, intermediadas por Latrell que, nitidamente, necessitava da expressa autorização de Matheus para aquisição dos armamentos", destacou a promotoria.

O sobrinho de Zinho já foi denunciado por ser integrante de organização criminosa, tendo sido preso em novembro de 2017, mas liberado em 2019.

Durante a análise das conversas entre Latrell e Matheus, os investigadores perceberam que Latrell utiliza Matheus para repassar mensagens a Zinho.

Em uma delas, Latrell comenta sobre um suposto plano de Jerominho —ex-vereador do Rio morto no início do mês por homens encapuzados que fugiram em um carro— para matar Zinho.

"Não temos 100% [de certeza], mas chegou uma informação através do Malvar e Luciano que o Passarinho está no contato com Jerominho e Natalino que estão articulando algo contra o irmão." Irmão é como Zinho é chamado pelos integrantes do grupo, segundo investigadores.

A Polícia Civil apura se o Bonde de Zinho é responsável pela morte de Jerominho, que sempre negou envolvimento com a milícia. Ele é apontado como fundador da Liga da Justiça —grupo paramilitar que se transformou ao longo dos anos em A Firma, Bonde do Ecko e agora Bonde do Zinho.

A reportagem do UOL não identificou as defesas dos citados nesta reportagem.