Como Liga da Justiça se transformou no Bonde do Zinho, maior milícia do RJ
A milícia de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, alvo ontem de operação da Polícia Federal e do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), é resultado de uma forte política expansionista que teve início quando a família Braga assumiu o comando da Liga da Justiça e criou um novo grupo paramilitar.
A Liga da Justiça surgiu na zona oeste carioca no final dos anos 90. A milícia —fundada segundo a Polícia Civil por Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, ex-vereador do Rio morto no último dia 4 por homens encapuzados que fugiram em um carro— começou atuando de forma concentrada, com foco na exploração de transporte clandestino e intermediações de ocupações urbanas.
Jerominho foi preso em 2007, quando a chefia da Liga da Justiça era compartilhada com outros três criminosos —Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, preso em 2009; Toni Ângelo de Souza Aguiar, preso em 2013, e Marcos José de Lima, o Gão, preso em 2014. Todos eram policiais militares.
Liga da Justiça passa a se chamar A Firma. Com as prisões, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, ex-traficante que ganhou prestígio entre os integrantes do grupo paramilitar, assume o comando da nova milícia.
Trata-se da primeira mudança significativa verificada no grupo: pela primeira vez, a liderança não era envolvida diretamente com a estrutura policial.
O sociólogo e professor da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) José Cláudio Souza Alves, estudioso de milícias, explica que Carlinhos Três Pontes foi quem iniciou o processo de expansão da atuação da milícia no estado e intensificou a parceria com o tráfico de drogas.
"Houve a entrada —no final de 2014, já para 2015— na Baixada Fluminense, Itaguaí e Seropédica [cidades da região metropolitana] e, antes de 2018, eles já estavam avançando para Nova Iguaçu. Essa é a principal diferença para a Liga da Justiça que atuava de forma mais concentrada e era bem menos violenta e agressiva do que vemos hoje", relata o professor.
Sucessão familiar após morte em operação. Carlinhos Três Pontes foi morto em 2017 durante uma operação policial contra a milícia. A chefia do grupo passou então para as mãos de Wellington da Silva Braga, o Ecko, irmão de Três Pontes. O grupo foi rebatizado de Bonde do Ecko.
"Ecko foi o responsável pela explosão da expansão da milícia no RJ", diz o pesquisador.
No ano passado, Ecko também morreu em decorrência de uma operação policial para prendê-lo. A maior milícia do RJ passou então a ser comandada por outro integrante da família: o Zinho, irmão de Ecko e Três Pontes. Ele continua foragido apesar da operação de ontem.
Assassinato de parentes como tática de terrorismo. Segundo o sociólogo, uma das consequências da forte expansão dessa milícia são os rachas internos, que levaram a uma intensa disputa por territórios, como as observadas entre os bandos de Zinho e Danilo Dias Lima, o Tandera, ex-braço direito de Ecko.
Com a rivalidade, houve uma escalada da violência nas ações da milícia em todo o estado.
A ruptura entre Ecko e Tandera ocorreu no final de 2020 e, quando Ecko acaba morto, isso se intensifica ainda mais entre Zinho e Tandera. Nesse momento, o que vemos é a potencialização de desaparecimentos forçados e mortes. No final do ano passado, iniciou-se a prática de matarem parentes de milicianos --havia uma regra entre eles que não permitia que isso ocorresse. Parentes são mortos como tática de terrorismo."
José Cláudio Souza Alves, sociólogo
A morte de Jerominho. Jerominho foi morto em meio a uma intensificação da guerra entre os grupos milicianos da zona oeste e a uma tentativa de retomar sua influência na região, de acordo com o pesquisador.
"Ele ficou preso por mais de dez anos, ficou enfraquecido, e, quando saiu da prisão, a antiga Liga da Justiça já havia se transformado em outra milícia completamente diferente. Ele tentou retomar seu poderio. Ensaiou uma candidatura para prefeito que não foi para frente e com a base que tinha achou que poderia voltar a ter influência."
De acordo com o MP, trocas de mensagens interceptadas pela polícia dão conta de que milicianos estavam tentando interferir na região. Algumas mensagens indicam que o grupo de Jerominho planejava sequestrar uma das filhas de Zinho, mas não há provas concretas sobre o plano.
Ao UOL, o advogado Marcelo Cavalieri, que representou Jerominho, negou envolvimento do ex-vereador com grupos de milícias.
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